Tese lança novas luzes sobre a Inconfidência Estudo redimensiona liderança de Tiradentes no movimento Marco Antônio Corteleti
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Para dar unidade a uma conspiração caracterizada por integrantes cujos ideais e condições sociais eram tão díspares, era necessário um homem capaz de transitar e articular ações imediatas entre os dois grupos. Este era o papel de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, único a ser condenado à pena capital pela formação do movimento abortado antes de contar com a adesão do povo e transformar-se numa rebelião , e cujos mentores intelectuais foram o cônego Luiz Vieira da Silva, o padre Carlos Corrêa de Toledo e o poeta e funcionário público Tomás Antônio Gonzaga. Tais fatos integram uma nova leitura sobre a Inconfidência Mineira e compõem parte da tese de doutorado do chefe de departamento de História da Fafich, João Pinto Furtado. A exemplo do livro sobre as rebeliões de vassalos em Minas Gerais no século 18, escrito por sua colega de departamento, a professora Carla Anastasia (leia matéria na página ao lado), o estudo do professor Furtado faz uma revisão do movimento que é considerado a maior tentativa de independência do período colonial do Brasil, antes do ato do Imperador Dom Pedro I, em 1822, às margens do ribeirão Ipiranga. O trabalho de Furtado derruba a teoria de que a Inconfidência foi um movimento homogêneo (seus integrantes seriam todos da elite mineira, endividados e com um ideal iluminista) e que teve em Tiradentes seu principal líder. Na sua pesquisa, o professor chegou à conclusão de que os integrantes do levante eram pessoas de vários estratos sociais, que viam na derrama o motivo para se rebelar contra a Metrópole. A Capitania de Minas Gerais era obrigada a pagar anualmente à Coroa cem arrobas de ouro em impostos, mas havia muitos anos não conseguia honrar este compromisso. A situação de penúria dos moradores da Colônia se agravaria exatamente no ano de 1789, quando a Coroa planejara cobrar todas as cotas atrasadas, ato que ficou conhecido como derrama.
Minas separatista A tese
de Furtado desmitifica também a luta dos inconfidentes pela independência
do Brasil e a idéia de que o novo país teria se inspirado
nos Estados Unidos, livres da Inglaterra desde 1776. "A derrama A liderança de Tiradentes na Inconfidência, segundo Furtado, também não atingiu as dimensões alardeadas pela historiografia clássica. "Não há dúvida de que ele foi uma pessoa muito importante para o movimento, por causa do seu papel como ativista e articulador dos dois grupos de inconfidentes. Mas, apesar de tender para o lado dos iluministas, ele não foi o maior líder do levante porque, na sociedade daquela época, as hierarquias dificilmente eram desrespeitadas ", explica Furtado, acrescentando que "Tiradentes ocupava posição social inferior à de vários inconfidentes". Outro motivo que ajuda a comprovar esta teoria é o fato de Tiradentes não ter alcançado a mesma estatura intelectual de outros inconfidentes, como cônego Vieira, dono de uma das maiores bibliotecas da Colônia. Tese: Inconfidência
Mineira; crítica histórica e diálogo com a historiografia
Autor: João Pinto Furtado, chefe do departamento de História da Fafich Orientadora: Maria de Lourdes Mônaco Janotti (USP) Defesa: 24 de abril, junto ao programa de doutorado em História Social da USP |