"Vamos abrir novas estradas reais" *

Fabrício Fernandino**

o estar aqui hoje, participando da abertura do 32 Festival de Inverno da UFMG, as minhas palavras não poderiam deixar de conter uma boa dose de regozijo e de otimismo.

O meu sentimento assemelha-se, penso, ao daqueles que ajudaram a abrir a Estrada Real, quando a olharam pronta e viram as imensas possibilidades em que ela se traduzia, os novos horizontes a que levaria. Concluíram corretamente que nascia um novo tempo para esta região, um novo estilo de vida se avizinhava, porque a estrada é contra tudo aquilo que é estático; ela nos pede o caminhar. Honrados com o fim do trabalho, partiram, então, para novas andanças e nos deixaram cidades incrivelmente belas como Diamantina, onde o novo e o avançado mesclam-se e divertem-se fraternalmente com o histórico, o passado.

O Festival de Inverno da UFMG é isso. São horizontes abertos, novas perspectivas em desenho. Ao mesmo tempo, é o resgate de nossas raízes culturais. Por isso, não poderíamos encontrar ponto geográfico melhor do que Diamantina para promover essa nossa confraternização do novo com o que já se foi, mas que continua a nos ser referência. Nos próximos dias, portanto, estaremos experimentando aqui nessa terra, que os geólogos apontam como uma das mais antigas da América, a arte em todos os seus espectros cronológicos. Vamos desafiar o reinado impiedoso de Cronos. Vamos caminhar sobre seus ensinamentos e enxergar para além do alcance de seu olhar. É para isso que estamos aqui. A nós, da UFMG, não nos satisfaz repetir fórmulas, pactuar com o tempo e com o cristalizado. Queremos mais e ousamos buscar. Pavimentamos todos os dias novas estradas reais, absolutamente convictos de que estamos cumprindo fielmente os propósitos para os quais nos financia a sociedade brasileira.

Esse compromisso inabalável da Universidade com a qualidade facilita sobremaneira o andamento de sua vida. Tudo tem seqüência. Nada se esquece do futuro. Diante disso, na vida universitária, é sempre muito bom suceder coordenadores; seus trabalhos invariavelmente são bem executados. Sempre há um formidável substrato sobre o qual erguer propostas novas. E a minha certeza é plena: uma vez mais alcançamos êxito na tarefa de dar seqüência ao belíssimo trabalho que vem sendo desenvolvido por outros grandes nomes da arte e também da UFMG desde 1967. Soubemos partir do ponto ao qual nos alçaram e trazer para Diamantina um Festival ousado, com propostas inovadoras, e, ao mesmo tempo, afinado com a região e suas riquezas. É aqui o lugar onde nos próximos dias todos estaremos dialogando para tecer e alargar as fronteiras artísticas. Estabelecendo novos patamares para que a nossa cultura vá adiante, sempre. Caberá à rua da Glória, não poderia haver nome mais propício, o papel de palco principal.

A nossa alegria de estar aqui hoje é ainda maior quando constatamos que o Brasil reconhece nosso trabalho, razão pela qual pudemos contar com a colaboração de muitas pessoas e instituições na realização desse projeto. E agora devo agradecer a cada um dos nossos companheiros de jornada: patrocinadores, professores, funcionários, estudantes. O Festival somos nós.

Falando assim, com tanto entusiasmo, os caros presentes devem estar pensando o quanto sou otimista. Mas, por enquanto, eu estava apenas comemorando, na parte do regozijo. Bem, então, partamos para os motivos do meu otimismo. A sua razão maior é que tenho cá comigo que, ao final deste 32 Festival, o fruto do nosso trabalho estará apontando para uma nova fase na história deste que é o maior evento de extensão cultural promovido por uma instituição de ensino no Brasil.

Vamos consolidar o intercâmbio internacional. Trazer para nos conhecerem pessoas que produzem arte a partir de outra cultura. E nos aproximaremos deles mais e mais, sempre aprendendo e ensinando; falando e sendo ouvidos. Não há como duvidar da riqueza dessas trocas que poderão ainda ser debatidas entre nós, com o nosso olhar, sob as nossas condições. A estrada nos pede o caminhar. E nós não nos furtaremos ao compromisso de, após um passo, dar o seguinte. Para onde, não arriscaria dizer. A estrada não se completa; nunca ficará pronta para aqueles que não se acomodam, que agem sob o signo do otimismo.

Nada como estar aqui, em uma terra de vastos horizontes, insubordinada, de onde partiram propostas inovadoras para um novo Brasil. É um prazer imenso, uma alegria sem tamanho vir a Diamantina para declarar aberto o 32 Festival de Inverno da UFMG.

Espero que cada um dos estudantes, cada um dos professores, visitantes e habitantes de Diamantina possam agora usufruir, instante após instante, dessa produção que a UFMG lhes oferece.

Continuemos andando. Muito obrigado.

* Íntegra do discurso de abertura do 32 Festival de Inverno da UFMG, proferido no dia 9 de julho
** Coordenador-geral do 32 Festival de Inverno da UFMG