Cinema e sexo no Clube da Luluzinha

 

câmera move-se lentamente, passeando pela sala de uma oficina do Festival de Inverno. Colhe um rosto, outro, um terceiro. Quase todos são femininos e acompanham atentamente cenas de sexo que são exibidas em uma grande TV. Pode parecer que tais cenas são as primeiras tomadas de um curta picante, mas, na verdade, elas são bem possíveis na oficina O sexo cinematográfico ­ representação do desejo no cinema, surpreendentemente cursada por 28 mulheres e apenas dois homens.

Ministrada pelo professor de Cinema da UFMG, Luiz Nazário, a oficina explora o papel do homem e da mulher na representação cinematográfica do desejo, e como esta evoluiu ao longo da história do cinema. "Fiquei surpreso com a presença maciça de mulheres, mas me parece que os homens são um pouco reprimidos com a discussão da sexualidade. As mulheres não têm preconceitos com a curiosidade. Os homens acham que sabem tudo sobre sexo", argumenta Nazário, ao explicar a concentração feminina na classe.

Sensibilidade

Para o professor, as alunas são cinéfilas e, ao fazerem o curso, estão buscando conhecimentos sobre cinema. "Não tenho dúvidas de que o interesse de todas elas é por cinema. E é disso que o curso trata", afirma. Segundo Nazário, as alunas passarão a ver os filmes com outros olhos, ampliando seus campos de compreensão. "Depois de estudar trechos de cerca de 50 filmes que são marcos da sexualidade na tela, elas saberão como essa temática evoluiu e terão condições de analisar o sexo e a sensualidade no cinema atual", resume.

A estudante de Belas-Artes da UFMG, Flávia de Melo César, que pretende fazer um curta com temática relaciona a à sexualidade, diz que não esperava a superioridade numérica de mulheres na oficina. Para ela, a grande procura feminina pelo curso se explica pelo tecnicismo dos homens e pela poesia das mulheres. "Nós somos mais sensíveis", justifica. Entretanto ela confessa, entre muitos risos, certa decepção pela pouca presença de homens na sala. "Mas tudo bem. Vim aqui mesmo foi para entender a simbologia da sexualidade no cinema". A estudante revela que está preocupada em saber explorar ao máximo a riqueza conceitual. "Sexo é um tema que interessa a todos os seres humanos, mas que não se vê sendo discutido a todo momento na escola. Quando fizer meu filme, não quero apenas gravar sexo pelo sexo. É preciso que o tema seja tratado com profundidade, fugindo da pornografia", esclarece.

Quase desaparecido no meio da mulherada, Leonardo Ayres, um dos dois alunos do curso, também se diz surpreso com a predominância feminina na sala. Isso, no entanto, não o constrange. "Estou achando interessante, apesar de, às vezes, elas forçarem um papo sobre galãs, por exemplo", afirma. O número superior de mulheres é, para ele, uma questão de sensibilidade. "É por isso que estão em maior número aqui", afirma.

Também surpresa com a elevada concentração de mulheres, Mariana Takamatsu prefere atribuir o fato a uma simples coincidência. "Sexo e cinema são temas interessantes, só que as mulheres assumem mais que o assunto interessa", diz.

Mariana estuda publicidade e diz que se matriculou na oficina porque é apaixonada pela sétima arte. "O cinema é o reflexo da vida, acompanha e ajuda a explicar a história". Para ela, a oficina é divertida e corresponde plenamente às expectativas. "Pretendo aplicar os conhecimentos adquiridos no curso em minha vida pessoal. Conhecer cinema é cultura".