Asilos tendem a substituir família no cuidado a idosos

Dissertação analisa influência das mudanças sociais no amparo à terceira idade

 

uem vai para o asilo é quem não tem parente, e fica lá, desprezada". A opinião de dona Liete, 78 anos, reflete uma situação social que pode estar prestes a mudar. Embora a família seja hoje a principal instituição de apoio ao idoso, o Estado será cada vez mais pressionado a assumir parte desta demanda, acredita o pesquisador Marcos Roberto do Nascimento, que defendeu dissertação sobre o assunto junto à Faculdade de Ciências Econômicas.

Nascimento acredita que o momento atual é de transição na forma de cuidar do idoso, dentro e fora da família. A mudança deve-se à redução do tamanho dos grupos familiares e ao fato de que a mulher, tradicional cuidadora das crianças e dos idosos, tem cada vez menos tempo para cumprir tal tarefa. "Novos atores tenderão a surgir", afirma Nascimento, referindo-se, por exemplo, a instituições de melhor qualidade, sem a conotação negativa que os asilos apresentam hoje.

Alternativas

Marcos Nascimento critica a política nacional do idoso que, na sua opinião, transfere excessiva responsabilidade para a família. "O Estado ainda não percebe que a família e a sociedade estão se transformando e que as instituições de apoio já existentes, como hospitais-dia, casas de repouso e clubes de terceira idade, são muito caros e inacessíveis à maior parte da população", afirma. Embora a tarefa de cuidar das pessoas de terceira idade ainda seja da família, o pesquisador defende a criação de alternativas públicas e sociais "criativas e de qualidade" para enfrentar o envelhecimento da população. Nascimento acredita que as gerações futuras já não verão mais os asilos como sinônimo de abandono e hospitalização.

Em seu trabalho, Marcos Nascimento discute o envelhecimento na perspectiva de gênero, já que a maioria da população idosa é feminina. "Apesar da magnitude desse processo, a experiência da velhice é distinta por geração e sexo, e as demandas de uma geração são diferentes das de outra", explica. Ele lembra, por exemplo, que em Belo Horizonte, em 1991, 52,5% das mulheres acima de 65 anos eram viúvas, e apenas 12,5% dos homens estavam nessa condição. "As mulheres idosas vivem mais que os homens e permanecem sozinhas, enquanto eles, muitas vezes, ao ficarem viúvos, casam-se com mulheres mais jovens", explica.

Nascimento constatou que os grupos de terceira idade recriam e revitalizam os laços de sociabilidade, por isso, sua criação e manutenção devem ser estimuladas, através de suporte institucional. "Além disso, tais grupos devem buscar incorporar cada vez mais o homem idoso, já que se compõem principalmente de mulheres", acrescenta o pesquisador.

Dissertação: Expectativas e realidades de mulheres idosas quanto ao suporte familiar: uma reflexão socio-demográfica
Autor: Marcos Roberto do Nascimento
Defesa: junho de 2000, junto ao mestrado em Demografia, do Cedeplar/Faculdade de Ciências Econômicas
Orientadora: Paula Miranda Ribeiro