A lição do professor Helder

* Ana Maria Gontijo Figueiredo

Escola de Engenharia da UFMG foi surpreendida, no dia 21 de outubro último, com o trágico falecimento do professor Helder Antônio Guimarães. O professor Helder, graduado em Engenharia Civil nesta Casa, iniciou aqui sua carreira de magistério em 1983, no então departamento Engenharia de Vias de Comunicação e Transportes, hoje departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia. Obteve o título de Mestre em Ciências e Engenharia Civil pela COPPE-UFRJ, em 1986.

Professor dedicado, homenageado por turmas de formandos em Engenharia Civil, seguiu uma trajetória acadêmica peculiar, diferente dos padrões usuais. Ao longo desses 17 anos de magistério, o professor Helder desenvolveu um trabalho tão persistente e eficiente, quanto silencioso.

Foi membro presente e atuante de toda a hierarquia de órgãos colegiados da UFMG, desde a Câmara de seu Departamento, Colegiado de Curso, Congregação da Escola, até os órgãos superiores, Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão e Conselho Universitário. Esteve à frente da concepção e implantação de duas reformas de currículo do curso de Engenharia Civil, a primeira quando coordenador do Colegiado do Curso, cargo que exerceu de 1987 a 1990; a segunda, como membro da Comissão de Reforma Curricular, de 1996 a 1997 e, atualmente, presidia a Comissão de Acompanhamento da implantação deste novo currículo.

Foi vice-diretor desta Escola de 1990 a 1994, quando assumiu, entre muitos outros encargos, a supervisão do ensino de graduação. Às diretorias

que sucederam à sua, deu um grande suporte formal e informal. Na UFMG, atuou em comissões de diferentes naturezas. No âmbito do MEC, foi membro de várias comissões de avaliação de cursos de Engenharia Civil e, desde sua implantação, em 1996, esteve em todas as comissões de Engenharia Civil do Exame Nacional de Cursos, do Inep.

Quem teve a oportunidade de trabalhar com o professor Helder entende porque ele era sempre o primeiro nome lembrado, quando se tratava de enfrentar questões delicadas, difíceis, que exigiam dedicação,, seriedade, equilíbrio e imparcialidade. Com sua postura acima de tudo institucional, estava sempre disponível para quem o solicitasse, assumindo uma infinidade de atribuições espinhosas, pouco reconhecidas formalmente, com um imenso comprometimento pessoal. Era comum encontrá-lo na Escola à noite, nos finais de semana e durante suas férias. Muito além de trabalhar na Escola,, ele vivia a Escola. Era com rara empolgação que o ouvimos dizer várias vezes: "É que eu gosto disso aqui". A Escola perdeu um professor que sempre pôs as necessidades e os interesses da instituição acima de qualquer pretensão ou projeto pessoal. Perdemos todos, mais que um colega, um grande companheiro, leal e carinhoso, com quem contávamos em todos os momentos.

O professor Helder nos deixa um legado emblemático. Ao desenvolver com extrema competência um trabalho de base, de infra-estrutura, voltado fundamentalmente para o ensino de graduação, nos mostrou a importância da atuação nos bastidores para o bom desempenho da Universidade nas suas dimensões mais celebradas. Mostrou a necessidade de a Universidade reconsiderar a valorização desta sua faceta. Paradoxalmente, com seu jeito discreto e despretensioso, revelou através de sua competência o valor de um trabalho que é, muitas vezes,, invisível. Foi portador de uma grande lição.

*Vice-diretora da Escola de Engenharia da UFMG





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Nº 1298 - Ano 27 - 8.11.2000