Dissertação analisa policiamento comunitário em BH

Mariana Rodarte

ascido há alguns anos nos Estados Unidos e no Canadá, o programa de policiamento comunitário chegou a ser visto como uma promissora solução para a segurança pública. Mas sua implantação em Belo Horizonte foi cercada de problemas, em sua maioria ligados à falta de conhecimento sobre a natureza do sistema.

Essa foi a constatação da socióloga Elenice de Souza, que pesquisou a implantação do projeto de policiamento comunitário pelo 22º Batalhão de Polícia Militar, que atua em mais de 20 bairros da região Sul da capital mineira. Segundo ela, polícia e população não foram devidamente preparadas para implementação do projeto, o que gerou equívocos. "Muitas pessoas tinham a noção de que policiamento comunitário era apenas contribuir financeiramente com a polícia", conta.

Outra confusão, segundo a pesquisadora, foi provocada pelo grande envolvimento das associações de bairro com o projeto, deixando a impressão de que o programa atenderia apenas aos associados. Algumas associações de bairro chegaram a comprar celulares para os policiais, mas passavam o número apenas a seus sócios. Além disso, acrescenta a socióloga, a estreita convivência entre comerciantes e a polícia gerou a sensação de que o policiamento era uma espécie de segurança comercial.

Modelo reavaliado

Por tudo isso, o modelo de policiamento comunitário acabou repensado. Com a ajuda do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), do Departamento de Sociologia, o projeto foi incrementado com o programa Policiamento de Resultados, que distribui o patrulhamento nas regiões segundo a incidência de crimes. A polícia conta também com a ajuda dos Conselhos de Segurança Pública, órgãos da prefeitura dos quais participam as associações de bairros. "Se, num primeiro momento, a polícia atendia a demandas individuais, agora, neste novo formato, ela passa a atender à comunidade", avalia a pesquisadora.

O programa de policiamento comunitário transcende o apoio logístico à polícia, na avaliação da socióloga Elenice de Souza. "A segurança pública passa a fazer parte da vida da comunidade", sentencia. O sistema também altera profundamente a rotina de trabalho da polícia. "Em vez de planejar suas ações no gabinete, apenas sob a ótica do policial, a PM identifica os problemas e traça planos de ação em conjunto com a população", explica Elenice.

Apesar dos problemas registrados em seus primórdios em BH, a socióloga acredita que o policiamento comunitário é uma alternativa viável para a questão da segurança pública nos grandes centros urbanos. Ela acredita que o sistema poderá ajudar a quebrar a tradição de distanciamento entre a polícia e a sociedade. "Quando a PM se aproxima da sociedade, esta passa a controlar e a confiar mais no trabalho da instituição", conclui.

Um aliado da segurança pública

A Polícia encontrou na investigação científica e na estatística aliadas poderosas para combater a violência. Há dois anos, o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), do departamento de Sociologia, auxilia as polícias militar e civil a mapear o crime em Belo Horizonte. A UFMG é a única universidade brasileira a fazer este trabalho com as duas corporações.

Coordenado pelo professor Cláudio Beato, o Crisp oferece o curso de extensão Analista de crime, destinado a ensinar policiais civis e militares a usar softwares de tratamento de dados estatísticos, trabalho feito em conjunto com o Departamento de Estatística do ICEx. O Centro também participou da fundação dos conselhos comunitários de segurança através de cursos de Policiamento Comunitário para mais de 400 líderes de associações de bairro e policiais. Oficiais de outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso, também já participaram de atividades do Crisp.

Dissertação: Polícia comunitária em Belo Horizonte. Avaliação e perspectivas de um programa de segurança pública

Autora: Elenice de Souza
Menção honrosa do 1° Concurso Brasileiro CNPq/Anpocs de obras científicas e teses universitárias, dezembro de 2000

 





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Nº 1305 - Ano 27 - 07.02.2001