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Nº 1311 - Ano 27 - 28.03.2001

A primeira vez a gente nunca esquece

Estudo da Face revela que iniciação sexual influencia a

formação dos hábitos de prevenção da mulher

Virgínia Fonseca

iniciação sexual é fator decisivo no comportamento futuro das mulheres em relação ao uso de métodos contraceptivos. Essa foi uma das principais conclusões de um estudo feito pela pesquisadora Luciene Aparecida Ferreira de Barros Longo entre mulheres da faixa etária de 15 a 24 anos. O trabalho foi apresentado semana passada como dissertação de mestrado junto ao curso de pós-graduação em Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas.

O estudo investiga os fatores que influenciam as práticas contraceptivas entre as mulheres, considerando aspectos sexuais, demográficos, socioeconômicos e culturais. Luciene Longo tomou por base dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, concluída em 1996 pela Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar (Bemfam). Ela trabalhou com informações de 1.715 mulheres: 858 não unidas (solteiras, divorciadas e viúvas) e 857 unidas (casadas ou em união consensual), todas sexualmente ativas, não esterilizadas, que não estavam grávidas e nem pretendiam engravidar.

A pesquisadora concluiu que os fatores relacionados às atividades sexuais - principalmente à "primeira vez" - são decisivos na determinação do comportamento frente aos contraceptivos. As mulheres que usaram algum método de contracepção na primeira relação tendem a fazê-lo ao longo da vida, seja qual for a sua situação marital. Mas ela não despreza o que chama de "fator aprendizagem". "Quem não usava pode vir a usar", pondera. Segundo a pesquisadora, o mesmo raciocínio se aplica ao planejamento da chegada dos filhos. "Quem iniciou a vida sexual com marido ou namorado e usou métodos contraceptivos na primeira relação tem menos chances de ter um filho não desejado".

Mudança de hábito

Luciene Longo não acredita em mudanças significativas nos hábitos sexuais das pessoas ao longo da vida. Por isso, entende que a formulação de políticas de planejamento familiar deve se voltar para a jovem antes mesmo de sua iniciação sexual. "Se a primeira relação exerce influência tão significativa, o esclarecimento e conscientização da adolescente são fundamentais para evitar futuro comportamento de risco e a gravidez indesejada", defende a pesquisadora.

A pesquisa também sugere que as mulheres que não engravidaram na adolescência possuem mais chances de não ter filhos ou demoram mais a tê-los. Luciene Longo propõe até um marco etário para essa situação: 22 anos. "Possivelmente, quem teve filho após esta idade conseguiu planejar sua gravidez", diz.

Ela vem trabalhando com esse tema desde 1997, quando concluiu sua monografia para o curso de economia, que versou sobre gravidez na adolescência. No início, pretendia continuar centrando seus estudos nesta faixa etária, mas concluiu que poderiam ficar inconsistentes e resolveu expandir para grupos mais velhos. "Sempre me intriguei com o crescimento do número de filhos entre adolescentes nesta época marcada pela tendência de redução do número de filhos por casal", afirma a pesquisadora.

Dissertação: Prevenir ou remediar? Um estudo das práticas contraceptivas entre as mulheres de 15 a 24 anos

Autora: Luciene Aparecida Ferreira de Barros Longo

Defesa: 21 de março, junto à pós-graduação em Demografia da Face

Orientadora: Paula de Miranda Ribeiro