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Nº 1323 - Ano 27 - 08.08.2001

 

UFMG quer desvendar genética do Schistosoma

Pesquisadores começam a produzir "etiquetas" para identificar genes do parasita

Virgínia Fonseca

 

UFMG prepara-se para iniciar, ainda este ano, o seqüenciamento, junto com outras seis instituições de pesquisa de Minas Gerais, dos genes do Schistosoma mansoni, parasita que causa a esquistossomose. O trabalho será realizado pelas equipes dos professores Glória Franco, Sérgio Costa e Fabrício dos Santos, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Os pesquisadores acreditam que o Schistosoma tem em média 15 mil genes. Glória Franco explica que o seqüenciamento não decodifica todo o genoma do parasita, mas apenas a parte que contém as proteínas e que serve como uma "etiqueta" para identificar os genes. A meta é produzir, em dois anos, cerca de 100 mil dessas etiquetas, para tentar encontrar pelo menos um "exemplar" de cada gene do parasita.

Segundo a pesquisadora, a partir dessa catalogação será possível escolher os genes que pareçam mais interessantes, para um estudo aprofundado. "Além disso, a infra-estrutura montada para esse estudo servirá de base para projetos futuros", acrescenta Glória Franco.

Pioneirismo

O estudo do genoma do esquistossoma teve início em 1992, a partir do projeto de doutorado da professora Glória Franco, e foi o primeiro trabalho dessa área realizado no Brasil. "Muitas pessoas estudavam genes isolados na época, mas ainda não havia pesquisas mais abrangentes", lembra a pesquisadora.

Na ocasião, o professor Sérgio Pena, do departamento de Bioquímica, que orientava a tese, organizou em Caxambu o Encontro Sul-Norte de Projeto Genoma. Os cientistas presentes ao evento concluíram que o Brasil não poderia mais ficar de fora dos estudos nesse campo. Como o país não tinha condições de trabalhar com o genoma humano, os professores Sérgio Pena e Andrew Simpson, atual coordenador do Projeto Genoma Nacional, optaram pelo do esquistossoma por ser o causador de uma doença endêmica de grande incidência em Minas. Além disso, o próprio Simpson já trabalhava com os genes desse parasita.

Algum tempo depois, a Fapemig financiou a compra pela UFMG do primeiro aparelho seqüenciador, também pioneiro na América Latina. Desde então, as pesquisas na área evoluíram muito. "No começo usávamos um aparelho que analisava 10 amostras em 12 horas. Hoje, é possível seqüenciar 96 amostras em uma hora e meia", conta Glória Franco. Durante os últimos anos, os estudos receberam apoio do CNPq e da Organização Mundial da Saúde (OMS). No início de 2001, a Fapemig voltou a se interessar pelo projeto e lançou um edital para a pesquisa, aprovando a liberação de recursos de R$3,8 milhões.

O trabalho, que conta também com o apoio do CNPq, será desenvolvido pela chamada Rede Mineira de Genoma, formada pela UFMG, Fundação Oswaldo Cruz, Embrapa de Sete Lagoas e universidades federais de Viçosa, Ouro Preto, Uberlândia e Lavras. Glória Franco acredita que a UFMG terá papel decisivo no projeto, porque possui equipamentos de ponta e pessoal qualificado. Tanto que a parte de bioinformática - baseada na análise dos dados obtidos - será feita nos laboratórios do ICB, sob o comando do professor José Miguel Ortega, do departamento de Bioquímica e Imunologia.

Pesquisa: Rede Genoma do Estado de Minas Gerais - O Schistosoma mansoni como modelo

Equipe da UFMG: Glória Franco, Sérgio Pena, Ségio Costa, Santuza Teixeira, Vasco Azevedo, Maria de Fátima Horta, Ricardo Gazzinelli, Kenneth Gollob, Fabrício dos Santos, Hélida Rabelo e Ana Paula Fernandes

Financiamento: Fapemig e CNPq

 

Endêmica, doença atinge 200 milhões no mundo

A esquistossomose é causada por um verme cujas larvas se hospedam em certas espécies de caramujos encontrados em lagoas e rios. O contágio se dá através da pele do homem, quando entra em contato com a água infectada. No organismo humano, o parasita se desenvolve, alojando-se no intestino e seus ovos podem, em grande número, causar danos a outros órgãos, como fígado e baço. Existem drogas eficazes para tratamento, mas, em casos extremos, a enfermidade pode levar à morte.

Endêmica em 74 países, a doença infecta 200 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil são cerca de 12 milhões de casos, concentrados principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Norte e Espírito Santo. Só em Minas são 1,6 milhão de doentes. A Lagoa da Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte, é foco da doença.