Busca no site da UFMG




Nº 1353 - Ano 28 - 13.06.2002

/O educador da paz

Professor da FaE é o único latino-americano a integrar entidade européia de combate à violência escolar

m Santos, litoral paulista, a família costumava se reunir e conversar sobre o futuro. Os dois irmãos ouviam atentos aos conselhos dos pais, que sempre ressaltavam a importância da educação na vida de um homem. Para o casal Alberto e Luizete Gonçalves, o acúmulo de conhecimento seria a única alternativa de enfrentar e ultrapassar os preconceitos diários. As noções absorvidas na infância serviram de base à trajetória de Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves. Ele não só tornou-se professor da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, como há décadas se dedica ao estudo de questões como a discriminação racial e a violência nas escolas.

Gonçalves é o único pesquisador latino-americano a integrar a comissão científica do Observatório Europeu de Violência Escolar e Políticas Públicas, com sede na Universidade de Bordeaux, na França. Trata-se de entidade supranacional, mantida pelo Parlamento Europeu, e a meta é analisar a violência escolar em vários países do planeta.

A participação ativa no Observatório é uma conseqüência natural das atividades acadêmicas de Luiz Alberto. Sociólogo graduado pela Fundação de Sociologia e Política, de São Paulo, ele é mestre em Educação pela UFMG, onde estudou, na década de 80, o tema da discriminação racial no ensino público. No doutorado, realizado na parisiense Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, com orientação de Alain Touraine, investigou os movimentos negros no Brasil. Antes de se lançar definitivamente no mundo acadêmico, Gonçalves acumulou experiência em atividades sociais. Quando saiu de Santos e veio para Minas Gerais, em 1976, o pesquisador envolveu-se com uma série de projetos ligados à educação rural, em regiões como o Vale do Jequitinhonha.

Violência escolar

As observações feitas ao longo dos anos permitiram que o professor tomasse conhecimento das especificidades do sistema educacional brasileiro. Além de questões raciais, o problema da violência escolar saltou-lhe aos olhos. "A violência começa a aparecer em meu contato com as escolas. Percebi o quanto o problema era contundente", lembra o

pesquisador. A preocupação com o tema serviu, por exemplo, para que Luiz Alberto fundasse na FaE, junto com outros professores, em 1997, um grupo de estudos sobre violência na escola. Formada por professores e alunos da Graduação e da Pós, a equipe está prestes a concluir pesquisa sobre o perfil da violência escolar em Belo Horizonte.

Os dados para a investigação foram recolhidos junto ao Comando de Operações Especiais da Polícia Militar de Minas Gerais. "Trata-se de 16 mil ocorrências, em que analisamos, por exemplo, o tipo de delito encontrado e as áreas de maior incidência de casos", explica Luiz Alberto. Parte dos resultados da pesquisa serão apresentados em congressos no exterior. Além disso, as informações servirão de base para discussões com vários setores da sociedade belo-horizontina. "A pesquisa nos dará subsídios para elaborar propostas de ação", diz.

Em sua trajetória, o professor presenciou diversas cenas de agressão entre professores e estudantes. "Houve crescimento da intolerância, e as escolas não se tornaram ambientes de proteção. Até mesmo a estrutura de algumas famílias colabora para o aumento da violência", ressalta Luiz Alberto. Neste ponto, os antigos ensinamentos de seus pais modificaram-se ao longo da vida. Para o pesquisador, não basta apenas a força do conhecimento para a derrocada dos preconceitos e da violência. É preciso agir. Uma de suas formas de atuação reside justamente no envolvimento com o Observatório Europeu. A realidade de diversos países é posta em pauta nas reuniões da entidade. "Há cores diversas para a violência em cada país. Precisamos modificar um problema que afeta seriamente a comunidade global", conclui.