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Nº 1358 - Ano 28 - 18.07.2002

A voz das margens

Revista de cultura, editada por Silviano Santiago e Wander Melo Miranda, traz reflexões sob a ótica latino-americana

Ana Siqueira

á envolvimento de acadêmicos, mas não é publicação para público especializado. Aborda temas relacionados à cultura, mas não se inclui no rol de revista de divulgação cultural. Atua como forma de intervenção política, apesar de ser veículo apartidário. Tais características, aparentemente contraditórias, marcam a revista Margens/Márgenes, lançada nesta quinta-feira, dia 18, no Rio de Janeiro, pelo projeto do mesmo nome que agrega professores, escritores e outros pensadores da cultura do Brasil e da Argentina. Em Belo Horizonte, o lançamento ocorrerá no dia 23, durante o VIII Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), que acontece na UFMG.

O Margens/Márgenes é um projeto transdisciplinar, com participantes das áreas de história, ciência política, artes plásticas e literatura, que se propõe a pensar e a discutir questões da cultura sob uma perspectiva latino-americana, particularmente brasileira e argentina. "Partimos sempre da margem, mesmo quando pensamos temas relacionados a outras partes do mundo", afirma o professor Wander Melo Miranda, diretor da Editora UFMG, coordenador do Margens/Márgenes e editor assistente da publicação. O olhar do projeto contempla preferencialmente as regiões onde se localizam as universidades envolvidas: UFMG, UFBA, Universidad Nacional de Mar del Plata e Universidad de Buenos Aires, as duas últimas da Argentina.

O projeto promove dois grandes encontros por ano e uma série de outros menores, em que são desenvolvidos e apresentados trabalhos. Parte dessa produção foi, no primeiro ano do Margens/Márgenes, publicada em duas edições de caderno de cultura homônimo. Com a revista, a iniciativa ganha mais espaço (no caderno, eram 16 páginas e, agora, são cerca de 100) para divulgar os produtos da reflexão gerada pelo projeto, além de entrevistas, resenhas e ensaios que se situam dentro da perspectiva do Margens/Márgenes. "É uma revista que adota o ponto de vista das margens para discutir questões da cultura. Com isso pretendemos produzir uma reflexão profunda e preencher um espaço político de debate, sem fechar os olhos para o público leigo", explica Wander Melo Miranda.

Minas Gerais

A primeira edição da revista, que terá periodicidade semestral, traz diversos textos sobre questões relacionadas à literatura e à cultura latino-americana, algumas das quais diretamente vinculadas a Minas Gerais. Um dos textos, da professora Eneida Maria de Souza, aborda o período em que o autor mineiro Guimarães Rosa atuou como cônsul em Hamburgo, na Alemanha. Entrevistas com a cineasta Suzana Amaral e com o escritor mineiro Autran Dourado unem cinema e literatura. A primeira é diretora de Uma vida em segredo, filme baseado na obra homônima escrita por Dourado. Há ainda ensaio fotográfico sobre a obra de Niemeyer na Pampulha, produzido por Paulo Schmidt, que assina a edição de arte da revista. Outro destaque é a imagem de obra do artista plástico mineiro Marcos Coelho Benjamin, reproduzida na capa da revista.

Margens/Márgenes iniciou-se em 2001, mas suas raízes estão no projeto Modernidades tardias no Brasil, que teve como um de seus resultados mais expressivos a aproximação de intelectuais brasileiros e argentinos. Financiado pela Fundação Rockfeller (que já apoiava o Modernidades Tardias), o Margens/Márgenes pretende dar continuidade à reflexão transdisciplinar e consolidar o diálogo entre os intelectuais dos dois países. O trabalho conjunto e binacional de elaboração da revista é expresso no caráter bilíngue da publicação, que apresenta os textos em espanhol e português.

Revista: Margens/Márgenes
Editor: Silviano Santiago
Editores assistentes: Wander Melo Miranda e Florencia Garramuño
Preço: R$ 15
Contato: cel@letras.ufmg.br

 

Morre o bioquímico Carlos Diniz

Morreu no dia 8 de julho, aos 83 anos, vítima de edema cerebral, o professor Carlos Ribeiro Diniz, do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, um dos mais importantes estudiosos de toxinas de serpentes, aranhas e escorpiões do país.

Nascido em Luminárias, no Sul de Minas, Carlos Diniz formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da UFMG, em 1943. Lá conheceu e se transformou num dos mais brilhantes discípulos de José Baeta Viana, precursor dos estudos bioquímicos em Minas Gerais.

Seis anos depois, mudou-se para São Paulo, onde ajudou a fundar a Escola de Medicina da USP/Ribeirão Preto. Em território paulista, coordenou estudos que ajudaram a cristalizar a bradicinina _ substância descoberta pelos cientistas Maurício Rocha e Silva, Gastão Rosenfeld e Wilson Teixeira Beraldo que é base para a fabricação de medicamentos hipertensivos. Ainda nos anos 50, Carlos Diniz foi um dos primeiros cientistas no mundo a pesquisar venenos de escorpiões, aranhas e serpentes, trabalho que lhe rendeu reconhecimento internacional.

De volta à UFMG nos anos 80, Diniz exerceria um papel decisivo no fortalecimento da ciência mineira. Ajudou a criar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e integrou o grupo que lançou as bases da Biobrás, laboratório de Montes Claros que produz insulina.

Para o professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão, do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, e ex-pró-reitor de Pesquisa da UFMG, a projeção alcançada pela biotecnologia produzida em Minas, reconhecida como a melhor do país pelo empresariado do setor, deve-se, em boa medida, ao trabalho do professor Diniz. "Trata-se de uma herança do seu esforço e da sua competência", afirma Beirão. Carlos Diniz também ajudou a formar e a consolidar importantes grupos de pesquisa na própria UFMG, na Ufop, no Centro de Pesquisa René Rachou e na Fundação Ezequiel Dias (Funed), onde ultimamente exercia o cargo de diretor de pesquisas.