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Nº 1359 - Ano 28 - 25.07.2002

Índio quer educação superior

Laboratório intercultural abre portas da UFMG para povos indígenas

Ana Siqueira

ndio não quer só terras para viver e trabalhar. Índio quer também educação superior construída a partir das características de sua própria cultura. O laboratório intercultural, que ocorrerá na UFMG de 29 de julho a 9 de agosto, dentro do projeto de extensão da Fale Culturas indígenas na UFMG, pretende avançar na abertura da Universidade aos povos indígenas e contribuir para que a demanda deles por educação _ prevista constitucionalmente _ seja atendida.
O laboratório intercultural prevê 80 horas de atividades com os índios, em oficinas divididas em duas grandes áreas: territórios e linguagens. Docentes e alunos voluntários de diversos departamentos estão envolvidos no projeto, que pretende estabelecer diálogo entre alunos indígenas e professores para criação conjunta de metodologias de ensino e pesquisa adequadas à formação superior indígena. "Na UFMG, os índios terão espaço para entender, se expressar e aprender, enquanto os professores conhecerão suas demandas e, certamente, também aprenderão muito com eles", acredita a professora da Fale Maria Inês de Almeida, coordenadora do projeto.

Cerca de 200 índios se inscreveram para participar do laboratório, financiado pelo Cenex da Fale e pelo Ministério da Educação, com apoio da UFMG. "Com uma verba pequena (cerca de R$ 13 mil), tivemos que limitar o número de alunos a apenas 60", lamenta Maria Inês de Almeida. Os participantes pertencem às etnias maxakali, xacriabá, pataxó e krenak. Todos possuem ensino médio completo e a maioria se formou no magistério do Programa de implantação de escolas indígenas de Minas Gerais. Eles agora reivindicam formação em pedagogia, para lecionar em suas próprias escolas, e nas áreas de saúde, meio ambiente, gestão de projetos e lingüística. Elas são as mais requisitadas, pois os índios estão se fixando nos territórios pelos quais lutaram e enfrentam questões que emergem desse processo: o resgate de sua língua e cultura, a gestão dos territórios, considerando questões ambientais, legais, de educação e saúde. "Para que a integridade das populações indígenas seja garantida, é necessário que elas possuam autonomia de pensamento, gestão e sustentabilidade", defende a coordenadora, que atua na área há alguns anos. Ela leciona no Programa de implantação de escolas indígenas de Minas Gerais e sua tese de doutorado versa sobre a produção literária indígena contemporânea.


Outras iniciativas
A discussão sobre a educação supe-rior indígena existe em outras universidades, como em Roraima e no Amazonas, mas apenas a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) já oferece curso direcionado aos índios _ no caso licen-ciatura de terceiro grau _ , que se trata de magistério em nível superior. A UFMG pode se tornar a primeira universidade a criar outros cursos orientados para índios, o que ficou evidente, segundo Maria Inês de Almeida, na reunião que ocorreu em outubro de 2001 entre o então reitor Francisco César de Sá Barreto e as lideranças indígenas. A partir das demandas explicitadas pelos índios, a reitora Ana Lúcia Gazzola criou comissão para colher subsídios e coordenar iniciativas visando à institucionalização de programa para populações indígenas. Presidida pela própria Maria Inês de Almeida, a comissão prepara relatório que será entregue à reitora nos próximos dias.

Para a coordenadora do projeto, a educação superior indígena traria inúmeros benefícios à Universidade. "O convívio com os índios, com seus saberes e formas únicas de percepção do mundo, enriqueceria toda a comunidade universitária e certamente repercutiria em nosso ensino, pesquisa e extensão", argumenta, acrescentando que a educação indígena é campo de grande experimentação e produção de conhecimento nas áreas de Lingüística, Antropologia e Ciências Sociais, entre outras.

Oficinas do Laboratório Intercultural

Territórios

Arqueologia: André Prous (Arqueologia)
Antropologia: Ruben Caixeta de Queiroz (Antropologia)
Sustentabilidade: Allaoua Saadi (Geologia)

Linguagem

Lingüística: Cristina Magro (Letras)
História oral e edição de texto: Sônia Queiroz (Letras) e Inês Teixeira (Educação)
Produção de material didático para alfabetização: Ana Gomes (Educação)
Gestão escolar: Eloísa Santos (Educação) e Lúcia Bernardes (doutoranda em Educação)
Gravura e ilustração: Daisy Turrer (Belas Artes)
Música com maxacali e edição de CD com xacriabá: Rosângela de Tugny (Música)