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Nº 1379 - Ano 29 - 19.12.2002


Mostra encerra festival de Inverno de 2002


Próxima edição quer aprofundar caráter experimental

Ana Siqueira

em bem encerrou a mostra que reuniu alguns dos melhores trabalhos desenvolvidos no 34º Festival de Inverno da UFMG, o coordenador do evento, Fabrício Fernandino está de olho em 2003. O eixo conceitual da próxima edição já está definido: Limites - desdobramentos e rupturas.

Como sugere o mote, o Festival de 2003 tentará aprofundar idéias e conceitos que permearam o evento deste ano e dos anteriores. "Esperamos contar com oficinas e apresentações mais afinadas com as idéias de experimentação, ousadia e ampliação dos limites, marcas de nosso Festival" explica Fernandino.

Pelo menos em parte, essa pretensão foi materializada no Salão de Artes Plásticas e Artes Visuais, que trouxe a Belo Horizonte alguns dos trabalhos mais representativos do evento. Além disso, a idéia de dar continuidade ao Festival para além das três semanas em que é realizado em Diamantina foi aprofundada com uma pequena amostra das demais áreas que o compõem. De acordo com Fernandino, o objetivo da iniciativa é tornar públicas algumas das ações mais relevantes do evento. "A mostra final trouxe a Belo Horizonte a noção das dimensões do Festival e de sua importância como espaço propício à experimentação e pesquisa", completa o coordenador.

A área de música apresentou, em concerto no Conservatório UFMG, o resultado da oficina Música contemporânea, com participação de seu coordenador, Silvio Ferraz. Já a área de Literatura foi representada pela reedição da oficina Café Letrado (leia entrevista abaixo), que levou ao Centro Cultural UFMG os escritores Sebastião Nunes e Adão Ventura. O Centro Cultural também foi palco de três apresentações do grupo Lume, de Campinas, reconhecido nacionalmente pela excelência de sua pesquisa teatral.

 



/ Solange Rebuzzi

Carla Maia

"Diamantina respira poesia e música"

m dos destaques da programação do 34º Festival de Inverno da UFMG, o programa Café Letrado promoveu encontros com escritores, oferecendo ao público a oportunidade de refletir sobre literatura.

Solange Rebuzzi: conversa descontraída

"Vivi uma experiência única em Diamantina", confessa a idealizadora e coordenadora do projeto, Solange Rebuzzi. Psicanalista, com especialização em Filosofia Contemporânea, mestrado em Letras e agora também doutoranda na UFMG, ela fala, nesta entrevista ao BOLETIM, sobre sua ligação com Minas Gerais e sobre o Café Letrado, que acabou inspirando a criação de um programa de entrevistas produzido pela TV UFMG.

Como surgiu o Café Letrado?

A idéia nasceu no Rio de Janeiro, no final do ano 2000, quando comecei a fazer encontros na Livraria Contracapa, no Leblon. Em cada encontro, convidava dois escritores para falar de sua obra. Sempre privilegiei os poetas, porque acho que, num mundo em ruínas, onde a esperança é pequena, a poesia tem que abrir um espaço para a reflexão. O nome Café Letrado surgiu da intenção de promover uma conversa descontraída, em que os participantes se sentissem bem à vontade. Nada de entrevista ou de conferência de auditório. Daí, a idéia de fazer um café regado a biscoitinhos e a muita conversa.

Essa idéia de cafezinho e conversa é uma coisa bem mineira ...

É isso mesmo. Não por acaso, fomos parar em Diamantina.

Como foi a experiência de participar do Festival de Inverno?

Diamantina foi uma experiência única. Primeiro, porque a cidade respira poesia e música, com aquelas montanhas, aquelas pedras escritas no caminho da gente. Os encontros foram ótimos, sempre lotados, num espaço excelente, me surpreendi. Depois de Diamantina, passei a olhar Minas Gerais de um jeito diferente. Aqui ainda há algo que a humanidade está perdendo. As pessoas se olham nos olhos, falam o que sentem. Não há nada parecido com isso no Rio de Janeiro.

 


Alumiando o Brasil de dentro

rabalhar de forma integral o "corpo-em- vida" - noção cunhada pelo diretor italiano Eugenio Barba - do ator. Considerar as dimensões interior e exterior, que, apesar de serem às vezes preparadas separadamente, devem constituir uma unidade, não para que o corpo do ator diga, mas para que permita dizer. Tais idéias pautam, desde seu início, em 1985, o trabalho do Lume, núcleo interdisplinar de pesquisas teatrais sediado na Unicamp. Trabalho árduo, de pesquisas teórico-práticas, muito treinamento e ensaios, cujo resultado pode ser conferido no espetáculo Café com queijo, um dos mais recentes do grupo.

Apresentado no 34º Festival de Inverno da UFMG, Café com queijo voltou no início de dezembro, na programação da mostra final do evento, em três apresentações no Centro Cultural UFMG. O espetáculo resultou de pesquisa feita no interior do Brasil, e insere-se na linha de pesquisa mímeses corpórea. "Ela consiste na observação e posterior imitação de ações cotidianas e se preocupa também com a forma de transpor esse material para a cena", diz Ricardo Puccetti , um dos fundadores do grupo.

Café com queijo traz o português quase dialetal falado em alguns lugares, reproduzindo artisticamente uma cultura ainda pouco influenciada pelos sistemas midiáticos e que se integra mais à natureza. "Os atores partiram da experiência de pessoas que têm outra forma de perceber o mundo", explica ele.

Café com queijo foi apresentado no Centro Cultural, em três sessões, todas com lotação esgotada. Uma prova do êxito do grupo, aplaudido por leigos e pelo público especializado. "O Lume produz um trabalho que conjuga técnica precisa com doses intensas de humanidade. É uma técnica com cor e sorriso", define a professora Bya Braga, do curso de Artes Cênicas da UFMG. (AS)