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Professor do ICB desenvolve método para diagnosticar
picada de escorpião
Estudos podem levar à descoberta de vacinas contra venenos de animais peçonhentos
Carla Maia
nquanto
a maioria das pessoas quer distância de cobras, aranhas
e escorpiões, o professor Carlos Chavez Olortegui, do departamento
de Bioquímica e Imunologia do ICB, parece não se amedrontar
por eles. Há 12 anos, ee estuda animais peçonhentos em busca
de diagnósticos mais eficientes, que contribuam para um tratamento
eficaz, em caso de ataques. O mais recente - um método para detectar
picadas de escorpião - rendeu-lhe o prêmio de melhor trabalho
científico num congresso sobre venenos e envenenamentos, promovido
pelo Instituto Pasteur de Paris.
O método
desenvolvido por Chavez é pioneiro na área de diagnóstico
laboratorial. O sangue da vítima, após ser coletado e passar
por um processo de centrifugação, é posto em contato
com anticorpos altamente específicos, que reagem apenas com a fração
tóxica do veneno. Esses anticorpos são marcados com uma proteína
corante, que colore a mistura - quanto mais intensa a cor, maior a quantidade
de toxinas. A partir daí é possível dosar a quantidade
de soro a ser administrado no paciente, de acordo com a concentração
de veneno inoculado, evitando superdosagens, que podem ser prejudiciais. "Apenas
20% dos casos de picadas de escorpião são graves e precisam
de tratamento soroterapêutico", explica o professor Carlos Chavez.
Segundo ele, o método é rápido, simples e eficiente.
"Em 50 minutos é possível indicar qual a quantidade de
veneno circulante no organismo e, assim, ministrar um tratamento mais adequado
a cada situação", garante.
O professor realiza, ainda, estudos relacionados às proteínas que provocam o envenenamento. O primeiro objetivo é produzir antivenenos mais específicos. O antiveneno, ou soro, é obtido a partir de cavalos. Os animais, ao receberem o veneno, reagem produzindo anticorpos que neutralizam o efeito tóxico. Em laboratório, é possível isolar, a partir do soro do cavalo, anticorpos purificados, que agem diretamente sobre a fração tóxica do veneno. "Apenas 0,01% dos anticorpos presentes no soro são específicos para essas toxinas", explica Chavez. De acordo com ele, o soro é eficaz. "Entre os pacientes que acompanhamos, houve casos em que após 30 minutos já não havia qualquer sinal de veneno no organismo", afirma. Os pacientes ficam sob observação por 72 horas, para comprovar se houve diminuição do veneno e desaparecimento dos sintomas. "Muitos acreditavam que a soroterapia era ineficiente em casos de picadas de escorpião. Mas conseguimos provar o contrário. Agora, só falta implantar esse método na rotina nos hospitais", destaca.
Conhecer as proteínas tóxicas também
possibilita produzir venenos atóxicos, com proteínas semelhantes,
que induziriam à obtenção do soro sem, contudo, causar
tantos danos ao animal produtor. "O animal sofre muito com as doses sucessivas
de veneno e vive pouco, cerca de quatro anos. Isso acarreta até problemas
econômicos. Queremos produzir soros mais eficientes e que não
prejudiquem tanto o animal", afirma Chavez. Essas proteínas, atóxicas
e imunogênicas, são obtidas através de técnicas
de engenharia genética ou síntese química, podendo ser
utilizadas, inclusive, na produção de vacinas, que imunizariam
pessoas contra o veneno. "Estamos próximos da descoberta de vacinas
contra picadas de animais peçonhentos. Nosso trabalho tem sido bem
recebido pela crítica científica", afirma o professor.
Um inimigo dentro de casa
Em Minas Gerais, o índice de mortalidade por picadas de escorpião (2,5%) é maior que o provocado por picadas de cobras (0,5%). Os casos mais graves geralmente envolvem crianças. Para fugir desses animais, é preciso evitar entulhos e tomar medidas higiênicas, mantendo o ambiente doméstico sempre limpo. "Escorpiões são animais caseiros", explica o professor Carlos Chavez. Em caso de picada, recomenda-se procurar um hospital o mais rápido possível. Os principais sintomas de ataque de escorpião são dor local intensa, náuseas, sudorese, vômitos e, em casos mais graves, taquicardia e insuficiência respiratória. |