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Nº 1380 - Ano 29 - 16.01.2003

Professor do ICB desenvolve método para diagnosticar picada de escorpião

Estudos podem levar à descoberta de vacinas contra venenos de animais peçonhentos

Carla Maia

nquanto a maioria das pessoas quer distância de cobras, aranhas
e escorpiões, o professor Carlos Chavez Olortegui, do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, parece não se amedrontar por eles. Há 12 anos, ee estuda animais peçonhentos em busca de diagnósticos mais eficientes, que contribuam para um tratamento eficaz, em caso de ataques. O mais recente - um método para detectar picadas de escorpião - rendeu-lhe o prêmio de melhor trabalho científico num congresso sobre venenos e envenenamentos, promovido pelo Instituto Pasteur de Paris.

O método desenvolvido por Chavez é pioneiro na área de diagnóstico laboratorial. O sangue da vítima, após ser coletado e passar por um processo de centrifugação, é posto em contato com anticorpos altamente específicos, que reagem apenas com a fração tóxica do veneno. Esses anticorpos são marcados com uma proteína corante, que colore a mistura - quanto mais intensa a cor, maior a quantidade de toxinas. A partir daí é possível dosar a quantidade de soro a ser administrado no paciente, de acordo com a concentração de veneno inoculado, evitando superdosagens, que podem ser prejudiciais. "Apenas 20% dos casos de picadas de escorpião são graves e precisam de tratamento soroterapêutico", explica o professor Carlos Chavez. Segundo ele, o método é rápido, simples e eficiente. "Em 50 minutos é possível indicar qual a quantidade de veneno circulante no organismo e, assim, ministrar um tratamento mais adequado a cada situação", garante.

Soros

O professor realiza, ainda, estudos relacionados às proteínas que provocam o envenenamento. O primeiro objetivo é produzir antivenenos mais específicos. O antiveneno, ou soro, é obtido a partir de cavalos. Os animais, ao receberem o veneno, reagem produzindo anticorpos que neutralizam o efeito tóxico. Em laboratório, é possível isolar, a partir do soro do cavalo, anticorpos purificados, que agem diretamente sobre a fração tóxica do veneno. "Apenas 0,01% dos anticorpos presentes no soro são específicos para essas toxinas", explica Chavez. De acordo com ele, o soro é eficaz. "Entre os pacientes que acompanhamos, houve casos em que após 30 minutos já não havia qualquer sinal de veneno no organismo", afirma. Os pacientes ficam sob observação por 72 horas, para comprovar se houve diminuição do veneno e desaparecimento dos sintomas. "Muitos acreditavam que a soroterapia era ineficiente em casos de picadas de escorpião. Mas conseguimos provar o contrário. Agora, só falta implantar esse método na rotina nos hospitais", destaca.

Conhecer as proteínas tóxicas também possibilita produzir venenos atóxicos, com proteínas semelhantes, que induziriam à obtenção do soro sem, contudo, causar tantos danos ao animal produtor. "O animal sofre muito com as doses sucessivas de veneno e vive pouco, cerca de quatro anos. Isso acarreta até problemas econômicos. Queremos produzir soros mais eficientes e que não prejudiquem tanto o animal", afirma Chavez. Essas proteínas, atóxicas e imunogênicas, são obtidas através de técnicas de engenharia genética ou síntese química, podendo ser utilizadas, inclusive, na produção de vacinas, que imunizariam pessoas contra o veneno. "Estamos próximos da descoberta de vacinas contra picadas de animais peçonhentos. Nosso trabalho tem sido bem recebido pela crítica científica", afirma o professor.

Um inimigo dentro de casa

Em Minas Gerais, o índice de mortalidade por picadas de escorpião (2,5%) é maior que o provocado por picadas de cobras (0,5%). Os casos mais graves geralmente envolvem crianças. Para fugir desses animais, é preciso evitar entulhos e tomar medidas higiênicas, mantendo o ambiente doméstico sempre limpo. "Escorpiões são animais caseiros", explica o professor Carlos Chavez. Em caso de picada, recomenda-se procurar um hospital o mais rápido possível. Os principais sintomas de ataque de escorpião são dor local intensa, náuseas, sudorese, vômitos e, em casos mais graves, taquicardia e insuficiência respiratória.