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Faça jornalismo, não faça guerra
or
que todo dia você fica assistindo ao jornal para ver a guerra?"
Depois de conquistado o controle remoto, não soube o que responder
àquela criatura que me inquiria do alto dos seus quatro anos. De fato,
tomado por um sentimento, como diria a academia, de que os "horizontes
da minha responsabilidade estão muito além das minhas interações
cotidianas", lá ia eu assistir, pela oitava ou nona vez, a uma
sucessão de falas e imagens que, admito, pareciam se repetir todos
os dias.
Mesmo imerso no assunto, não há como ignorar um certo alheamento em relação à guerra: uma espera diante da TV de imagens de combates e explosões espetaculares, como aquelas que Hollywood sabe fazer tão bem. Mas a guerra tecnologicamente avançada da TV, letal como poucas, quase nada tem de espetacular. São como os programas policiais no fim da tarde: um helicóptero acompanha carros e pessoas, e o locutor apela: "atenção, informações dão conta de que pode estar ocorrendo uma perseguição"... Ficamos como funcionários da segurança de um shopping, monitorando as telas que reproduzem imagens captadas por diversas câmeras, esperando que algo "diferente" aconteça. Qualquer gesto traveste-se de notícia. Afastamos um certo tédio individual prescindindo de alguma sensibilidade crítica.
Apesar de tentador, é errôneo atribuir tal atitude a uma ação da mídia, resultado de uma manipulação dos meios de comunicação. Afinal, durante a guerra, a onipresente mídia também padece com seus dilemas, antigos e atuais; toma parte, alveja e é alvejada. Primeiro míssil: "A verdade é a primeira vítima da guerra". Explode logo no início da cobertura, arremessando estilhaços de senso comum jornalístico. "Veja, leitor, olhe, telespectador, não nos deixam trabalhar, os governos envolvidos no conflito escondem a guerra e dizem apenas aquilo que lhes interessa."
A verdade, suposta civil indefesa, jaz entre os escombros de propaganda. A
bateria antiaérea responde: "Por isso, desconfie de tudo".
Todos estão plantando notícias, operam estrategicamente. A informação
é uma das armas nessa guerra. Lembranças de que os fatos sempre
foram também artefatos jornalísticos. Vem então o "ataque
maciço": os repórteres estão na frente de batalha,
submetidos aos ditames militares. A cobertura "ao vivo" proporcionada
pelas tecnologias transformaram jornalistas em mero batalhão das divisões
militares que combatem no deserto. Censura e engajamento fardado são
apenas algumas conseqüências. Ao que a voz ponderada da ONU alertaria:
boa parte da cobertura da chamada mídia de referência, inclusive
brasileira, tem sido bem feita e equilibrada. A imprensa brasileira tem até
alertado na sua cobertura para que avaliemos o próprio papel que a
mídia tem cumprido no conflito. É a guerra de sempre... O que
há de novo, então, no front? É possível
engatilhar argumentos nada recentes, sobre fatores que são determinantes
para avaliar o papel da mídia, em especial do jornalismo, no mundo
atual. A mídia adquiriu preponderância para constituir uma dimensão
pública mundializada, que confere legitimidade a determinadas ações. As relações entre as novas tecnologias da informação e a atividade jornalística - principalmente a simultaneidade associada à instantaneidade - ditam os caminhos da mídia. Uma lógica de representação do mundo antenada com as "pressões" do mercado consumidor (texto leve e agradável, atmosfera sedutora do consumo) faz-se hegemônica. A guerra representada na imprensa clássica coexiste com a "reapresentada" na mídia eletrônica. Permanecemos ruminando a idéia sobre como a mídia recria dimensões do mundo, implicando novas formas de socialização, novas formas de o sujeito perceber e processar o mundo, de construir a realidade. Nada de novo no front.
No dia seguinte, um acontecimento matinal me sugeriu uma resposta, ainda não totalmente compreensível para a adversária do controle remoto. "Um cérebro humano quase inteiro parecia esquecido perto do rodapé, (...) O horror, o horror", escreveu o enviado especial da Folha de S. Paulo a Bagdá. A crônica diária diretamente do front vinha me soando estranha, incômoda, perto do coro de adágios que se propaga sobre a participação da mídia na guerra. Para além das explicações disponíveis, vez ou outra ainda "trombo" com textos jornalísticos que ultrapassam uma realidade congelada e previsível. Reportagens que constroem associações e significações inesperadas. São relatos que têm, como escreveu a filósofa Jeanne Marie Gagnebin, "uma espécie de atenção ao mesmo tempo intensa e leve. Esta atenção indica uma presença do sujeito ao mundo tal que saiba deter-se, admirado, respeitoso, hesitante, talvez perdido, tal que as coisas possam se dar lentamente a ver e não naufraguem na indiferença do olhar ordinário". Reportagens que vez ou outra revelam até mesmo uma guerra.
* Professor do departamento de Comunicação Social da Fafich