Busca no site da UFMG




Nº 1392 - Ano 29 - 24.04.2003

A pedagogia do palco Projeto de Iniciação Científica da Belas-Artes investiga

as influências do teatro no processo de aprendizado infantil

Maurício Guilherme Silva Júnior

m grupo de pequenos atores interpreta personagens da vida cotidiana. Para tal, utilizam gestos diversos e um "idioma" inteiramente desconhecido do público. Na platéia, outros garotos e garotas, bastante atentos, procuram identificar nas cenas o significado - talvez lógico, talvez poético - de cada ação. Realizada com 13 crianças de vilas do Aglomerado da Serra, a atividade é um exemplo de jogo teatral desenvolvido a partir de um projeto de Iniciação Científica da Escola de Belas-Artes (EBA). A iniciativa busca, com base nas teorias da pesquisadora norte-americana Viola Spolin, compreender a influência do contato com as artes cênicas nos processos de socialização e aprendizado infantis.

Orientado pela professora de interpretação Bya Braga, da EBA, o projeto é desenvolvido pela estudante de Artes Cênicas Juliana Coelho, que, de 15 a 17 de abril, realizou, na UFMG, uma série de oficinas com a participação das crianças. A atividade foi a segunda etapa da pesquisa, cuja fase inicial, no ano passado, concentrou-se no estudo analítico das idéias de Spolin, difundidas em todo o mundo pelo livro Improvisação para o teatro. "Nossa iniciativa revela que o teatro é realizado com a metodologia e a precisão das pesquisas científicas. Além de seu caráter extensionista, o projeto lida com noções e processos pedagógicos", ressalta Bya Braga.

Segundo a professora, a iniciativa é também importante por desvendar o potencial das artes cênicas na consolidação dos processos de aprendizagem infantil e no fortalecimento das noções de cidadania. A maioria das crianças escolhidas para o projeto dedicam-se há algum tempo à arte de representar. Elas fazem teatro no Centro de Integração Martinho (CIM), entidade luterana que há sete anos oferece a pequenos aprendizes de bairros pobres de Belo Horizonte atividades como capoeira, dança, confecção de instrumentos musicais e acompanhamento escolar.

À frente do projeto, a estudante Juliana Coelho explica que as atividades desenvolvidas são capazes de revelar as contribuições do teatro para a formação das crianças. A pesquisadora lembra ainda que as práticas teatrais desenvolvidas em algumas escolas caracterizam-se pela banalização de técnicas e exercícios. "De modo geral, as atividades teatrais têm sido relegadas a ações recreativas ou transformadas em meros exercícios de coordenação motora", afirma a bolsista. O desenvolvimento do projeto em parceria com o CIM permite, ao contrário, o aprofundamento da pesquisa e a busca das reais influências do teatro no aprendizado infantil.

Para as crianças, a experiência é única. "Antes mesmo de entrar no projeto, já pensava em fazer teatro. É muito importante para mim", ressalta Nataly, de 9 anos. Seu colega de palco, Diogo, de 11 anos, lembra o quanto as "brincadeiras" interferem em seu aprendizado. "Aprendo muito aqui. Fazer teatro foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida", afirma. Como ele, Alexander, Andressa, Marcos, Rômulo e Fabrícia vêem nas artes cênicas a possibilidade de aprender muito e entender como é "fazer arte". Nas palavras de Hilton, de 11 anos: "Tenho aprendido muita coisa boa para o meu futuro".

Projeto: A contribuição da improvisação teatral na socialização de crianças do Centro de Integração Martinho
Coordenadora: Bya Braga
Bolsista de Iniciação Científica: Juliana Coelho