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Nº 1406 - Ano 29 - 28.08.2003

 

 

Aprecie com moderação

João Pinto Furtado*

uando fomos eleitos para a direção da FAFICH, nos tomou de assalto grande vontade de comemorar o fato junto aos amigos e apoiadores da chapa. Pensamos, de imediato, em fazer uma festa doméstica e privada, mas acabamos optando por organizar um coquetel que se seguiria à cerimônia de posse, que seria oferecido a toda a comunidade da FAFICH e do qual participaram nossos eleitores e também os não-eleitores. Diferentes éramos (e somos), mas nem por isso deixamos de nos confraternizar em momentos em que a vida universitária assim o exige.

Também nos momentos mais rotineiros e/ou acadêmicos, essa rotina de convivência entre os diferentes se repete e se reproduz. A partir desta pequena história é que iniciamos esta reflexão sobre o tema da restrição á venda de bebidas alcoólicas nos Campi da Universidade. Qual seria o sentido daquela comemoração se nós tivéssemos cobrado pela cerveja que servimos aos nossos convidados? Outra pergunta, um pouco mais preocupante, também nos surge a partir da mesma história: e se, ao contrário das poucas pessoas que concorreram ao nosso coquetel, fossem cerca de 2 ou 3 mil pessoas num dia normal de aulas, buscando um pouco de lazer e Rock and Roll? Cremos ser difícil discordar do fato de que toda comunidade "viva" precisa deste tipo de espaço e manifestação. Cremos também ser difícil discordar do fato de que os últimos grandes eventos realizados nos Campi da UFMG, quando não resultaram em graves problemas, de diversas naturezas, estiveram na iminência disto.

Também é difícil discordar de que estes eventos vinham resultando em inestimáveis prejuízos às nossas rotinas acadêmicas. Isso é válido, sobretudo, neste momento no qual os órgãos superiores da universidade optaram por expandir e priorizar a oferta de cursos noturnos, reconhecidamente de maior potencial de inclusão social. Foi precisamente dos muitos professores e estudantes de cursos noturnos que recebemos os maiores incentivos quando a direção da FAFICH optou por não mais autorizar a realização de eventos e shows no prédio e áreas adjacentes. Ao mesmo tempo, a Congregação da Faculdade, com o compromisso das entidades estudantis, regulamentou a realização dos eventos de pequeno porte em seu interior, o que também vetou qualquer forma de comercialização de bebidas, bem como conteve a distribuição em volume exagerado.

Segundo a Congregação da FAFICH acredita, para congregar e confraternizar em nosso espaço, não é necessário ter lucro, ou um grande concurso de pessoas. Basta um grupo de pessoas que se conheçam,ou que assim o desejem, e que respeitando e entendendo as funções precípuas da Universidade, não comprometam as rotinas de ensino, pesquisa e extensãoque se exercem em tempo integral nos campi da UFMG.

* Diretor da Fafich


Em defesa de Baco

Paulo Barbosa*

oi Noé quem primeiro sintetizou o precioso líquido. Sob inspiração etílica, construiu a famosa arca onde acomodou casais de todas as espécies conhecidas. Meio alto, confundiu scripts e casou pato com lagarto e lontra, fazendo nascer o ornitorrinco, para desespero dos zoólogos e êxtase dos semiólogos, mas isso é outra história.

Entre os gregos, tamanha era a devoção ao extrato da videira que criaram um deus biriteiro e fanfarrão só para eles. Ao famigerado consagravam-se festas de arromba, regadas a tintos substantivos, seguidas de lautos banquetes prontamente devorados por gente metida em trajes sumários (bons tempos). Baco passou à história, pois, como símbolo da celebração da vida e das melhores coisas que ela traz (sexo, vinho e rock'n'roll - se rock'n'roll houvesse, bem entendido).

Já o Cristo prestou enorme contribuição à humanidade no episódio das Bodas de Caná, quando tornou água em vinho. Sacramentada pelo Messias, a bebida ganhou notoriedade, passando, inclusive, a metáfora do sangue do filho unigênito nos ritos católicos (excelente álibi para padres beberrões e fiéis enófilos).

O fato é que a história registra inúmeros casos de devoção aos cultos báquicos. Lautrec e Picasso não passavam sem molhar o bico no absinto. São Tomás de Aquino era afeito aos prazeres da boa mesa e do bom copo. Quantos governos despóticos não ruíram por obra de anarquistas boêmios, calibrados por algumas doses de bourbon? Quantas odisséias não se engendraram graças ao providencial conhaque no bolso do pa-letó? Quantas Eurecas não se gritaram após uns cálices de licor? Quantos sambas imortais não se compuseram sob os eflúvios da nacionalíssima cachaça?

Pois bem, a despeito dessa folha de serviços, andam maltratando o vinho nas academias. Parece não haver outro responsável pelos males que assolam a sociedade. Acharam até de proibi-lo. Ironicamente, é a própria ciência que vem em seu auxílio, provando por A+B que o álcool faz um grande mal à saúde daqueles que não bebem. Macambúzios, Baco e seus discípulos vagam por nossas ágoras, qual órfãos em busca de um lar. Resta esperar que o exemplo do Cristo ilumine corações e mentes, e seja permitido a essas pobres almas vagabundas algum convívio entre os abstêmios. Enquanto, no Olimpo, ainda não decidiram pelo toque de recolher.

* Cartunista da Assufemg