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Nº 1407 - Ano 29 - 11.09.2003

 

 

A UFMG em Montes Claros*

Ana Lúcia Gazzola**

 

ais do que um dado com o qual sempre se pode contar, o caráter público da UFMG, como de resto de outras instituições também públicas, é uma tarefa sempre em construção. Identificar uma instituição de ensino superior como pública significa dizer que sua atuação deve atingir, através de formas variadas, setores mais abrangentes da sociedade. Sendo amplas e diversas, as formas da interação das instituições públicas com a sociedade devem ser objeto de cuidadosa avaliação, resguardando-se sempre a natureza e as finalidades da instituição em causa.

A UFMG tem dado seguidas mostras de compreensão de seu caráter público. Políticas inclusivas de acesso e manutenção relativas aos estudantes, por exemplo, têm sido implementadas, e programas de interface universidade/sociedade multiplicam-se entre nós, como é o caso, entre tantos outros, de nossa atuação no Vale do Jequitinhonha. Temos nos posicionado, com o necessário vigor, em defesa do sistema federal de ensino superior, instrumento cada dia mais indispensável à construção do Brasil justo e desenvolvido com que sonhamos. Não teremos uma grande universidade numa nação empobrecida e dependente, mas também não ganharemos a autonomia e o desenvolvimento desejados sem um crescente investimento na diversidade das áreas do conhecimento e na formação cada vez mais apurada de recursos humanos. Assim, entendemos como inseparáveis a busca da qualidade acadêmica - sem a qual nenhuma universidade se sustenta - e a sensibilidade para com as questões postas pela sociedade em que nos inserimos, sem o que os vultosos recursos investidos pela nação careceriam de justificativa.

São esses os ideais que levam a UFMG a ampliar significativamente e consolidar a sua presença no campus Montes Claros. Uma série de iniciativas concretiza essa intenção. De início, estão programados cursos de graduação à distância, na modalidade licenciatura, nas áreas de Química e Biologia, que serão oferecidos também em Araçuaí e Teófilo Ottoni, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação. Recursos para tal estão sendo buscados junto às agências financiadoras do governo. Novos cursos de graduação, como Zootecnia, poderão ampliar a oferta de vagas em Montes Claros. Também na pós-graduação, outros projetos estão em elaboração. Para o primeiro semestre de 2004, serão propostos mestrados nas áreas de Ciências Biológicas e Ciências Agrárias, com vagas no campus Montes Claros.

Cursos de pós-graduação (lato sensu), na área de Agricultura Familiar e/ou Desenvolvimento de Tecnologia Agrária para a região do semi-árido, também estarão em funcionamento. Parcerias entre a Unimontes e a UFMG, através da oferta de mestrados interinstitucionais, já deram bons frutos e poderão ter continuidade. Além disso, consórcios envolvendo a Uemg também estão em estudo. Medidas propiciadoras da vinculação de pesquisadores a linhas de pesquisa e áreas de concentração no Instituto de Ciências Biológicas ou na Escola de Veterinária são possíveis e imprescindíveis para a consolidação da pós-graduação em Montes Claros.

A essas atividades somam-se novas iniciativas associadas aos programas de extensão, tradicionalmente alocados no norte de Minas. Um exemplo é o projeto de alfabetização em assentamentos e quilombolas, recentemente aprovado pela Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, a ser desenvolvido em parceria com o Incra e com outros órgãos, e que terá como núcleo o campus da UFMG em Montes Claros. Também deve ser mencionada a construção da biblioteca da UFMG na cidade, outro indicador dos laços da Instituição com o município. As providências desencadeadoras das medidas acima mencionadas estão em curso e, em breve, os resultados aparecerão.

Entendemos que a oferta de cursos regulares da UFMG no interior de Minas Gerais é ainda tímida e deve ser intensificada. A consolidação do campus Montes Claros e o estreitamento de suas relações com o campus Belo Horizonte, objeto de um plano de desenvolvimento pormenorizado, exemplificam a intenção da Universidade de atuar de forma mais consoante com a sua natureza pública. Vale notar que as iniciativas relativas ao campus Montes Claros ora propostas resultaram do debate com a comunidade local e da percepção de que os cursos propostos devem ter em vista a vocação e as necessidades específicas da região.

Ao ampliar a faixa de atuação da UFMG, é nossa convicção de que o ensino superior público não deve sujeitar-se ao estreitamento sofrido nos anos recentes. Se há um espaço a ser ocupado pelo ensino privado, e existe esse lugar, tal ocupação não deve ocorrer em detrimento do ensino público. A qualidade das instituições federais de ensino superior, cuja densidade acadêmica é atestada por inúmeros estudos já realizados, é patrimônio inegociável do país e justificação mais do que suficiente de sua relevância. É esse o projeto que está em jogo na ampliação do campus UFMG Montes Claros.

* Artigo publicado no jornal Estado de Minas, de 6/9/2003
** Reitora da UFMG

 

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