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Nº 1430 - Ano 30 - 18.3.2004

Discriminação positiva


Ações afirmativas seleciona bolsistas negros para projeto de pesquisa


Fiorenza Carnielli


rograma Ações Afirmativas na UFMG seleciona, até 30 de março, bolsistas negros para o projeto O contato com a alteridade: estudo das teorias raciais na sociedade brasileira. A iniciativa, implantada há dois anos na UFMG, busca facilitar o acesso e a permanência da população negra na Universidade.

"Usamos como critério de inclusão o mesmo de que historicamente a sociedade lança mão para a discriminação: a cor", afirma a professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação e coordenadora do Ações Afirmativas. Nilma admite que, à primeira vista, a ação pode parecer radical, mas na verdade é parte da luta por uma sociedade democrática e igualitária. "O Brasil vive um racismo estrutural, que cria um imaginário equivocado, afetando a vida de brancos e negros", afirma a professora.

Sob a coordenação da professora Maria Aparecida Moura, o projeto de pesquisa que abre vagas para bolsistas negros será desenvolvido na Escola de Ciência da Informação, e um dos seus objetivos é estudar os pensadores clássicos da teoria racial. Nilma Lino explica que o projeto não trabalha com a idéia de dificuldade de aprendizado, mas com diferenças de oportunidades educacionais. Por isso, o Ações Afirmativas dá grande atenção à capacitação dos alunos negros, que, em grande parte, tiveram uma formação escolar deficitária. "Há uma tendência na universidade em não admitir bolsistas negros justamente pela falta de capacitação. E é essa lógica que queremos inverter", afirma Nilma Lino.

O programa considera negros aqueles que se identificam como tais. "Num país como o Brasil, nosso projeto é de vanguarda. Assim, quem participa dele também precisa ter a coragem de ser vanguarda e compreender a política do projeto e do racismo na nossa sociedade", argumenta Nilma, para quem os bolsistas do projeto ganharão base teórica para dialogar com o diferente. "É esse encontro que promove o respeito mútuo", sentencia a professora da Faculdade de Educação.

Programa busca corrigir desigualdades

Ações Afirmativas na UFMG é um dos 27 projetos aprovados no Concurso Nacional Cor no Ensino Superior, promovido há três anos pelo Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), com apoio da Fundação Ford.

Ações afirmativas, explica a professora Nilma Lino, são políticas de correção de desigualdades direcionadas a grupos sociais que historicamente sofrem discriminação e exclusão, como mulheres, negros e homossexuais. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizado em 1999, revelou que apenas 2% dos jovens negros ingressam na universidade. "Se o acesso de negros à educação superior é sabidamente dificultado, não existem dados sobre a permanência dos poucos que estão na universidade", afirma a professora.

O objetivo do programa da UFMG é desenvolver condições acadêmicas adequadas para a formação de alunos negros, contribuindo para a construção de uma identidade positiva dos integrantes do projeto. Ações como cursos, palestras e seminários também têm o objetivo de estimular o debate e a reflexão sobre a questão racial na Instituição.

Os candidatos às quatro bolsas devem ser alunos negros regularmente matriculados nos cursos de graduação da UFMG e que não estejam nos dois últimos semestres do curso. As inscrições podem ser feitas na sala 4.017 da Escola de Ciência da Informação. Mais informações sobre o edital pelo telefone (31)3499-5232.

 


Mesa-redonda debate pensamento de Michel Serres

s conexões entre ciência, arte e tecnologia, presentes no pensamento do filósofo francês Michel Serres, serão o tema da mesa-redonda O pensamento de Michel Serres: ciências, redes e literatura, que o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) e o grupo de pesquisa Literatura, rede e saber contemporâneo, da UFMG, promovem nesta quinta-feira, 18 de março, das 14 às 18 horas. Aberto ao público, o evento acontece no auditório 4 do Instituto de Ciências Exatas, no campus Pampulha.

Vinculado ao IEAT desde 2002, com projeto aprovado pelo Comitê Científico do Instituto, o grupo Literatura, rede e saber contemporâneo investiga as relações entre a Literatura e outros campos do conhecimento. "Por meio desta mesa-redonda, queremos ampliar o debate público e sistemático em torno das idéias de Michel Serres, que favorecem a transdisciplinaridade", explica a coordenadora do grupo, Maria Antonieta Pereira, professora de Teoria da Literatura, da Faculdade de Letras.

Professor da Universidade de Stanford e membro da Academia Francesa, Michel Serres é autor de ensaios nas áreas de filosofia e história das ciências. No Brasil, publicou as obras Notícias do mundo, Os cinco sentidos: filosofia dos corpos misturados, Hominescências: o começo de uma outra humanidade?, Hermes: uma filosofia da ciência, O nascimento da física no texto de Lucrécio: correntes e turbulências, O contrato natural, Filosofia mestiça e A lenda dos anjos.