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Nº 1452 - Ano 30 - 2.9.2004


Perfil: Luís Bernardes

Um caso de amor com a farmácia

Trajetória do professor Luís Bernardes se confunde com a da Unidade que acaba de chegar ao campus


Luís Bernades no laboratório que leva o seu nome:
quase meio século vivido na Universidade
Foto: Eber Faioli

inda criança, em Uberlândia, no Tri-ângulo Mineiro, ele fugia de casa para ir à farmácia do pai. Achava tudo fascinante, desde os medicamentos nas prateleiras até a assistência terapêutica que o pai oferecia à população. Quando chegou a Belo Horizonte, em 1955, para cursar farmácia-química na Faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade de Minas Gerais, ele nem imaginava que começaria ali uma história de amor, que completa bodas de ouro em 2005.

Bernardes é dessas figuras que personificam a história de um lugar. Os 49 anos vividos na UFMG foram dedicados principalmente ao estudo dos fitoterápicos. Mas, em 1956, quando fazia o segundo ano do curso, a paixão de infância pela farmácia acabou concentrando-se em uma área: o magistério. “Iniciei minha carreira docente quando ainda era estudante, através da monitoria da disciplina de Farmacognosia, ministrada na época pelo professor Henrique Luiz Lacombe, um dos meus grandes mestres”, conta Bernardes. Em 1958, já formado, ele foi nomeado professor da Universidade e passou a dividir com o professor Lacombe a disciplina, que estuda a farmacologia das plantas. Em 1965, com a morte do mestre, Bernardes assume a Farmacognosia, disciplina da qual é professor até hoje. O professor também ensinou química em outras escolas, como Loyola e Cefet-MG. “É na sala de aula que me sinto realizado”, conta Bernardes.

Mudanças

Luís Bernardes lembra-se de cada momento histórico da Faculdade de Farmácia como se fosse hoje. Mas certamente os mais marcantes foram as mudanças de sedes. “Quando cheguei a Belo Horizonte, a Faculdade tinha acabado de se transferir para o bairro Cidade Jardim, vinda da Praça da Liberdade. Ainda peguei os resquícios da primeira mudança”, conta o professor. Em 1963, a Unidade voltou a fazer as malas. Desta vez, a transferência seria para uma sede própria, na avenida Olegário Maciel, onde passaria a se chamar Faculdade de Farmácia da UFMG. “Ao nos separarmos da odontologia, ganhamos em qualidade, evolução da parte laboratorial e prestação de serviços”, argumenta.

Este ano, veio a mudança para o novo prédio no campus Pampulha. “Sempre sonhei com uma universidade integrada, o que facilita até mesmo o engajamento dos alunos e professores para aumentar os benefícios sociais”, revela o professor, que não esconde a emoção ao percorrer os corredores da nova sede da Faculdade de Farmácia da UFMG, que ainda cheiram a tinta fresca. E é neste prédio que está a prova do reconhecimento da comunidade universitária pelo trabalho do professor. O laboratório de Farmacognosia recebeu o nome de Laboratório de Ensino Professor Luís Bernardes.

Chefe de departamento e coordenador de colegiado do curso de Farmácia foram alguns dos cargos ocupados pelo professor Bernardes. Ele participou de decisões importantes para a Unidade, como a implantação do novo currículo e criação dos departamentos. “Tenho orgulho de fazer parte dessa história de crescimento e conquistas”, diz Bernardes.

No ano passado, muito a contragosto, Luis Bernardes “caiu” na compulsória, a aposentadoria obrigatória para servidores que completam 70 anos. Mas nem ela foi capaz de pôr um ponto final na relação de Bernardes com a Universidade. O professor foi contratado para ministrar aulas teóricas e práticas de farmacognosia. Sorte dos novos alunos que ainda poderão contar com a sabedoria e experiência do mestre. Indagado se pretende permanecer trabalhando ainda por muito tempo, Bernardes é categórico: “Até quando as minhas forças permitirem”.