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Nº 1534 - Ano 32
08.06.2006

Debate sobre inclusão deve envolver universidade e sociedade

Comunidade discute mérito, permanência e outras formas de acesso

mplantação de políticas de ações afirmativas, incluindo cotas étnicas e socioeconômicas, deve ser precedida de um amplo e exaustivo debate envolvendo todos os setores da Universidade. É o que defendem representantes da comunidade universitária ouvidos na terceira enquete feita pelo BOLETIM sobre a democratização do acesso ao ensino superior. O debate foi aberto recentemente pelo reitor Ronaldo Pena, que durante a posse da nova diretoria da Faculdade de Medicina, conclamou a Universidade a refletir sobre mecanismos de inclusão no curso médico.
Foca Lisboa

Antônio Emílio: debate com a sociedade


“Esse deve ser um debate desapaixonado e desideologizado”, defende o professor Antônio Emílio Angueth de Araújo, do departamento de Engenharia Elétrica da UFMG e ex-coordenador do Vestibular. Além disso, prega o professor, a discussão deve ser transposta para além dos muros da Universidade. “Precisamos saber o que a sociedade anseia da Universidade. Será que ela quer, por exemplo, que a instituição afrouxe seus critérios de mérito para selecionar seus alunos?”, pergunta.

A ampliação das discussões também é defendida por representantes estudantis do curso de Medicina, justamente aquele que provocou o debate aberto pelo reitor. Para a coordenadora do Diretório Acadêmico Alfredo Balena, Polyana Gitirana de Araújo Guerra, a reflexão também deve envolver a permanência do aluno. “Não raro ouvimos relatos de colegas que se dizem vítimas de preconceito e discriminação dentro da universidade, seja pela cor, condição social ou mesmo e freqüentemente pela via de acesso. São os casos, por exemplo, dos alunos que ingressam por meio de programas de admissão de estrangeiros”, argumenta a estudante. Em sua opinião, o acesso não é garantia plena de inclusão. “A universidade precisa oferecer um ambiente que favoreça e incentive a formação acadêmica dos grupos incluídos”, defende Polyana.
Marcus Vinícius/Faculdade de Medicina

Polyana: permanência

Essa também é a preocupação do seu colega de curso e de DA, Franco Magalhães Sant‘Anna. “Decisões embasadas em pragmatismo produzem ações pouco sustentáveis. E o pior: podem fazer emergir preconceitos e visões equivocadas que resultam em discriminação e intolerância”. Ainda que vislumbre esse risco, Franco Sant‘Anna é “veementemente” favorável às políticas afirmativas. “Que venha a diversidade e a sua força transformadora, a contradição”.

Mérito
Para muitos, o resultado do vestibular é atribuído apenas ao mérito pessoal do aluno. “Isso é falso”, afirma o professor José Francisco Soares, pesquisador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais (Game), da Faculdade de Educação. Presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional, Soares lembra que estudos realizados no mundo inteiro comprovam que o “ambiente escolar, principalmente o clima criado por uma dominância de alunos, prioriza o desempenho cognitivo e é poderoso preditor de resultados em exames como o vestibular”. O que não é o caso, segundo ele, das salas de aula das escolas públicas brasileiras. “Isso configura uma injustiça que precisa ser reparada”, afirma o professor, ao comentar que “a proposta do reitor vai na direção correta desde que implementada com a escolha de um ponto de corte compatível com o desenvolvimento de projeto acadêmico de qualidade”.

Foca Lisboa

Soares: injustiça a ser reparada


Já o professor Antônio Emílio aponta outra medida que poderia ser implementada em vestibulares mais concorridos para favorecer a inclusão. “Talvez seja necessário imaginar um concurso com provas compostas por conhecimentos mais acessíveis a todos os candidatos”, sugere o professor. Ele lembra que hoje o vestibular cobra conteúdos que se revelam excludentes, como a prova de inglês, que favorece os alunos com acesso a cursos de língua e intercâmbios.

E há quem defenda ainda o “fim do monopólio” do vestibular como forma de acesso à UFMG. “Outras formas de inclusão são possíveis e necessárias. O vestibular é somente uma forma de acesso. Que se experimentem outras, mais justas”, defende Cristina Del Papa, ex-coordenadora-geral do Sindifes.

Foca Lisboa

Del Papa: capacitação de professores

Del Papa também acredita que a UFMG não deve limitar seus esforços a medidas internas. “Há que se investir na escola pública e a universidade precisa se posicionar sobre isso”, diz. Para ela, a contribuição da instituição na capacitação de professores – que já é objeto de algumas iniciativas em curso – precisa ser mais sistemática. “É uma medida muito importante para instrumentalizar os profissionais que trabalham com os jovens que vão passar pela ´peneira’ do vestibular”.