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Nº 1548 - Ano 32
18.09.2006

Com a pressão a mil

Motor multicombustível desenvolvido pela
Engenharia Mecânica alia potência e eficiência energética

Ana Maria Vieira

ecém-lançado no mercado nacional, modelo automobilístico que se vale de motor multicombustível está sujeito a se tornar obsoleto. A razão pode ser encontrada em laboratórios da UFMG: recentemente, grupo de pesquisadores do departamento de Engenharia Mecânica apresentou novo protótipo que amplia a faixa de seu desempenho, com grandes vantagens para o consumidor. “É como se tivéssemos vários motores reunidos em apenas um”, compara o engenheiro mecânico da Isvor Fiat, José Guilherme Coelho Baeta, um dos responsáveis pelo estudo, que norteou, inclusive, tema de sua tese de doutorado, defendida na semana passada na Universidade.
Foca Lisboa

Molina: motor otimiza aproveitamento energético do gás natural

Diversas vantagens apresentadas pelo modelo disponível no mercado podem ser encontradas no novo motor, como a possibilidade de usar quatro combustíveis – gás metano veicular, gasolina, álcool e uma mistura entre eles. Contando com quatro bicos injetores para distribuir o gás nos cilindros, o protótipo possui, como seu congênere que já circula pelas ruas, central eletrônica que possibilita a operação com cada um dos combustíveis.

Seu maior diferencial, contudo, consiste na capacidade de aproveitar a energia máxima de cada combustível e de tornar a opção a gás a que propicia maior potência ao motor, o que representa considerável avanço tecnológico em relação às opções existentes. Comumente, os motores a gás não são eficientes em situações que exigem maior torque e potência do veículo, como ultrapassagens e subidas. O problema não é do combustível, mas da tecnologia do motor. “Nossa proposta viabiliza o uso do gás natural, pois introduz recurso para um aproveitamento energético mais eficiente”, diz Ramon Molina Valle, coordenador da pesquisa, que contou também com a participação de José Eduardo Mautone Barros. Os dois são professores do departamento de Engenharia Mecânica da UFMG.

Turbocompressor
O “pulo do gato” apresentado pelo grupo da Universidade agregou um turbocompressor ao sistema do motor. Bastante utilizado em veículos esportivos de alta performance, o recurso potencializa ao máximo o desempenho do carro, ainda que à custa de elevado consumo de combustível. A aplicação da UFMG, porém, reduziu esse gasto em até 30%. “O turbocompressor é uma máquina térmica”, observa José Guilherme Baeta. Segundo ele, durante a queima de combustíveis, gases são expelidos, produzindo calor. “O turbo reabsorve essa energia, convertendo-a em nova energia dentro do motor”, diz Baeta, ao explicar o processo que garante a redução do consumo de combustível.

O motor projetado na UFMG também explora a capacidade do turbo de controlar diferentes pressões em que um combustível deve ser introduzido na câmara de combustão do motor. “É nesse local que o combustível é atomizado com o oxigênio presente no ar. Através da ignição, ele entra em combustão “, explica o professor Ramon Valle. Como o volume da câmara é fixo e cada combustível possui densidade diferente e requer uma pressão específica para que sua combustão renda mais energia ao motor, é necessário alterar a pressão de admissão. “Os modelos que existem no mercado são aspirados e trabalham com índice de pressão de admissão fixo. Por isso, não extraem a energia máxima de cada combustível”, diz o professor Molina Valle.

Além dos bons resultados obtidos, a adoção dessas ferramentas apresenta custo competitivo no valor final do veículo. Outra vantagem é a flexibilidade da metodologia usada. “Ela pode ser aplicada para outras modalidades de combustíveis”, assegura o professor Valle.

Estudo é premiado em encontro de montadora

Motores que processam diferentes combustíveis não chegam a ser novidade tecnológica. Mas só nas últimas décadas, marcadas por crises energéticas, outras ferramentas têm sido aprimoradas e aplicadas em escala industrial para explorar fontes alternativas, como gás metano veicular, álcool e eletricidade. No Brasil, tais experiências sempre contaram com a adesão do consumidor, como a recente onda de carros flex – movidos a álcool e gasolina – que registraram vendas significativas nos últimos anos.

Apesar disso, especialistas observam que a adoção desses modelos exigem investimentos em soluções tecnológicas capazes de combinar uso de fontes alternativas e menor consumo de combustível e de emissão de poluentes. “Essas são características de um motor térmico de grande interesse no mercado nacional e internacional”, dizem Ramon Valle, José Guilherme e José Eduardo, em estudo sobre o motor multicombustível, apresentado, em julho, durante o 1° Encontro científico sobre eficiência energética em prol da mobilidade (Enemobi), promovido pela General Motors, em São Paulo.

O trabalho alcançou o primeiro lugar entre outros 25 estudos. Sua repercussão e qualidade, no entanto, não garantem o aproveitamento pela indústria automobilística. “O lançamento de um produto depende de muitos fatores e requer estudos sobre viabilidade técnica, comercial e econômica que, muitas vezes, podem extrapolar o requisito de inovação tecnológica”, analisa José Guilherme Baeta.