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Nº 1580 - Ano 33
2.9.2007

Dedicação que o tempo não apaga

Foca Lisboa
aloysio faria
Darcy dos Santos: só sai com a "expulsória"

Se dependesse do tempo de serviço, o técnico de laboratório Darcy Ferreira dos Santos, do departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, estaria em casa cuidando dos netos. Ele poderia ter se aposentado em 1999, mas sua convivência com colegas de trabalho e, principalmente, com os estudantes contribui para prolongar sua permanência na Universidade. “Não nasci para ficar em casa e gosto muito de viver no meio dos jovens. A eles devo essa vontade de continuar trabalhando”, afirma Darcy dos Santos.

Com 47 anos de trabalho na UFMG – sete na Faculdade de Medicina e 40 no ICB –, Darcy é o funcionário da ativa com mais tempo de serviço na UFMG. Essa particularidade fez dele um dos homenageados na cerimônia que comemora os 80 anos da Universidade. Até agora, o tempo foi aliado de Darcy, a ponto de transformá-lo em personagem importante na história da Universidade. Mas tem consciência de que o próprio tempo tratará de pôr fim à sua longeva relação com a Instituição. Darcy tem 67 anos e está a três de se aposentar pela compulsória. Ou pela “expulsória” como ele ironicamente prefere definir.

Anacronismo

A aposentadoria compulsória aos 70 anos está fundada em bases anacrônicas, opina o diretor da Faculdade de Ciências Econômicas, José Alberto Magno de Carvalho, de 66 anos. "Ela foi estabelecida quando a expectativa de vida da população brasileira era de 45 anos”, diz o professor. Uma afirmação feita com absoluto conhecimento de causa, já que Magno de Carvalho foi o primeiro profissional brasileiro a cursar doutorado em Demografia. Professor da UFMG com mais tempo na ativa, ele graduou-se em economia pela Face, em 1964, e ajudou a fundar o Cedeplar três anos depois. À época passou numa seleção da Fundação Ford para cursar pós-graduação no exterior. “Foi uma loucura. Em três anos, fiz mestrado, doutorado e defendi tese na London School of Economics and Political Science. Tudo com um inglês péssimo”, comenta.
Oportunidade para permanecer lá fora não faltou. O jovem pesquisador recebeu proposta de trabalho das Nações Unidas e ficou tentado: “Londres do início dos anos 70 era uma delícia”. Mas ele preferiu arrumar as malas e voltar com a família ao Brasil, decisão baseada no desejo de construir aqui uma carreira acadêmica e institucional.

Coincidência

arquivo pessoal
aloysio faria
Gazzinelli: discípulo de Baeta Vianna

Uma coincidência cronológica pôs o professor Giovanni Gazzinelli e a funcionária Elísia Amparo Hudson de Moura, ambos aposentados, no centro das comemorações do aniversário da UFMG. Os dois completam 80 anos em setembro, em datas muito próximas à fundação da Universidade.
Gazzinelli nasceu no dia 6 de setembro de 1927. Formou-se em Medicina em 1955 e sete anos depois foi admitido como professor, integrando um grupo de jovens pesquisadores comandado pelo lendário Baeta Vianna. “Ele criou uma escola de bioquímicos que formou pesquisadores para centros importantes como USP, UFRJ e Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo)”, lembra Gazzinelli ,que aposentou-se pela UFMG em 1980 e logo depois ingressou no Centro de Pesquisas René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz. Lá construiu sólida carreira como pesquisador em bioquímica, imunologia e imunopatologia da esquistossomose. Já aposentado na Fiocruz, ainda mantém vínculo com a instituição como bolsista do CNPq. Também atua na pós-graduação da Santa Casa de Belo Horizonte.

No céu

arquivo pessoal
aloysio faria
Elísia de Moura: trabalho reconhecido

Foram apenas seis anos. Tempo mais do que suficiente para que a servidora aposentada Elísia Amparo Hudson de Moura criasse uma forte identidade com a Universidade. De 1976 a 1982, ela trabalhou na Escola de Enfermagem. Começou na portaria até aposentar-se como secretária da diretoria.

Dona Elísia, que completa 80 anos no dia 9 de setembro, guarda boas lembranças da Escola de Enfermagem, onde teve seu trabalho reconhecido. “Certa vez fizeram até um abaixo-assinado para impedir que eu mudasse de setor”, conta, orgulhosa. Ela entrou no serviço público, em 1954, para trabalhar nos Correios, onde não teve vida fácil. “Fazia hora extra e trabalhava nos finais de semana. A transferência para a Universidade foi como se tivesse ido para o céu”, compara.