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Nº 1580 - Ano 33
2.9.2007

O significado dos 80 anos

Fernando Correia Dias*

Ao comemorarmos o 80º aniversário da Universidade Federal de Minas Gerais, recordamos as vivas esperanças manifestadas pelos fundadores, especialmente o reitor Mendes Pimentel. É o caso também de examinarmos que aspectos da concepção de universidade, sustentados por aquele pioneiro, continuam vivos ainda hoje.

Para ele, a simples agregação de estabelecimentos preexistentes não configurava a vigência de verdadeira universidade. A palavra de ordem era integração. E, para tanto, foram tomadas algumas providências. A crise de 1930, que resultou na renúncia do reitor, não deu tempo para implantar, na época devida, o edifício sede da UMG e a cidade universitária.
Autonomia completa, inclusive didática, era prioridade absoluta, tanto assim que se obteve o reconhecimento legal (específico para a instituição mineira) dessa prerrogativa.

Mendes Pimentel dava grande valor à pesquisa científica, indispensável à vida universitária. Defendeu com vigor a sua prática, no que teve a colaboração de Alfredo Balena, que discorreu várias vezes sobre o assunto. De tudo isso resulta a atualidade evidente dos fins atribuídos, de início, à ação universitária.

Nos primeiros decênios da existência da UMG, firma-se o ensino profissional de graduação, aos poucos diversificado. Ao mesmo tempo, porém, isolam-se os estabelecimentos, enclausurando-se por completo, o que representa aspecto muito negativo. A rigor, a Universidade só vai conhecer a autêntica integração com a reforma Aluísio Pimenta, na década de 1960. Consolida-se o processo com a construção e ampliação do campus. Isso começa a concretizar-se nos anos 1940: o governador Benedito Valadares faz a doação da Fazenda Dalva, na Pampulha, com essa finalidade; mais tarde, o governador Milton Campos concede a escritura definitiva do terreno. A inauguração do prédio da Reitoria constituiu um primeiro passo relevante. O movimento em favor da cidade universitária, que conheceu várias etapas e propostas, é significativo do empenho integrador. Teve de superar a acomodação e a inércia das unidades, satisfeitas com os próprios patrimônios e instalações.
A UFMG vem-se destacando, nos últimos decênios, pela presença de certas instituições prestigiosas e pela intensificação dos trabalhos de pesquisa científica. Exemplos: Editora UFMG, criada em 1985; Centro de Conservação e Restauração de Bens Móveis, Cecor (1980); Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares, IEAT (1999); Acervo dos Escritores Mineiros (2002).

Quanto à intensificação do trabalho de pesquisa científica, temos de examinar seus pródomos e desdobramentos recentes. Nas primeiras décadas da existência da Universidade, a investigação científica era feita individualmente ou em pequenos grupos. Os procedimentos efetuados em escala plenamente institucionalizada representa fenômeno bem mais próximo de nós. Mesmo assim, permanecem na memória alguns pesquisadores pioneiros. São os casos de Otávio Magalhães, Baeta Vianna, Wilson Beraldo e Amílcar Vianna Martins (Faculdade de Medicina), Giorgio Schreiber e José Pelegrino (Instituto de Biologia da UFMG) e Aluísio Pimenta (Bioquímica, na mesma Faculdade). Baeta Vianna fez estágios em universidades americanas por conta da Fundação Rockefeller e Wilson Beraldo é descobridor da bradicimina, medicamento para a hipertensão arterial.

Mas a pesquisa científica em Minas só se institucionalizou depois. Para isso contribuíram fatores como a criação dos institutos centrais na UFMG, suscitando condições favoráveis ao estudo, e o surto dos programas de pós-graduação a partir das décadas de 60 e 70, sistematizando, em alto nível, o estudo das ciências. A UFMG generalizou, em todos os setores, a prática da investigação científica. Em 2005, havia 48 programas de doutorado, 48 de mestrado, 57 de especialização e 37 de residência médica.

A edição de maio de 2007 da Revista Diversa revela que 8.600 estudantes da Universidade (de graduação e pós-graduação) “estão vinculados a 650 grupos de estudo (...) em mais de mil linhas de pesquisa e anualmente são concedidas 900 bolsas de Iniciação Científica para projetos”. Acrescenta que o número de publicações de trabalhos científicos em todo gênero passou de 5.058, em 1995, para 9.976 em 2005. A UFMG aparece em segundo lugar em número de patentes: obteve 12 internacionais e três nacionais e encaminhou 201 pedidos no Brasil e 48 no exterior. Assinou 13 contratos de transferência tecnológica e dispõe de 20 marcas registradas.
As lideranças da UFMG se esforçam por fazer dela uma instituição de pesquisa de ponta – e que esse intento vem alcançando inegável êxito.

Conforme almejavam os fundadores, a UFMG tem sido colocada a serviço de Minas. Isso acontece no campo da extensão, terreno em que a instituição tem longa experiência: a atuação extensionista (em termos de cursos e conferências) aparece quase no nascedouro.

Desde 1986, a Universidade conta com uma Pró-Reitoria de Extensão. E não apenas a área é objeto de desvelo, mas também de reflexão, para que se encontrem os melhores rumos e métodos. Os representantes da UFMG têm, aliás, exercido liderança no respectivo Fórum de Pró-Reitores. Conta o setor com 237 projetos e 56 programas em execução no momento. A Proex oferece 345 bolsas a estudantes, com remuneração equiparada às de Iniciação Científica.

É também um serviço a Minas Gerais a publicação de estudos sobre a realidade regional. Os programas de pós-graduação no campo das Ciências Humanas têm produzido excelentes trabalhos (teses e dissertações) versando sobre todos os principais aspectos da vida social mineira.

* Professor aposentado de Sociologia; pesquisador-bolsista do CNPq. É autor do livro Universidade Federal de Minas Gerais – Projeto Intelectual e Político, publicado em 1997 pela Editora UFMG

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