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Nº 1610 - Ano 34
16.05.2008

Até debaixo d'água

Paulo Cerqueira
Cuba
Os professores Lorenzo Perdomo Gonzalez, Manuel Rodriguez Perez e Alexandre Bracarense: parceria no fundo do mar

 

Parceria entre pesquisadores da UFMG e de Cuba estuda uso de verniz à base de isopor que pode ser utilizado na soldagem subaquática

Ricardo Bandeira

Pesquisadores da UFMG e de Cuba estudam a aplicação de novo tipo de verniz em uma das mais complexas tarefas da engenharia mecânica, a soldagem subaquática. A intenção é desenvolver um produto alternativo ao impermeabilizante dos eletrodos utilizados na solda. Ao contrário do verniz convencional, de base petroquímica, o produto estudado pelos pesquisadores usa o isopor como matéria-prima. Além do reaproveitamento de material que, quando descartado, pode poluir o meio ambiente, a pesquisa busca alternativa economicamente viável ao verniz convencional, cujo custo varia ao sabor das oscilações do preço do barril de petróleo.

O estudo da aplicação do novo tipo de verniz é conduzido pelos professores Alexandre Queiroz Bracarense, do departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, Lorenzo Perdomo González e Manuel Rodriguez Perez, ambos da Universidad Central Marta Abreu de Las Villas, da cidade cubana de Santa Clara. Eles estão em Belo Horizonte e desenvolvem seu trabalho no Laboratório de Robótica, Soldagem e Simulação, da Engenharia Mecânica, coordenado por Bracarense.

O projeto conjunto pode ir além dos objetivos iniciais. “Vamos tentar substituir não apenas o verniz convencional, mas também a cola utilizada no eletrodo”, afirma Bracarense. O produto obtido a partir do isopor ainda será testado, para saber se ele resiste à ação prolongada da água. A soldagem subaquática é feita no fundo do mar, em plataformas de petróleo, gasodutos e oleodutos, ou em equipamentos de usinas hidrelétricas, instalados em rios e lagos.

Os professores cubanos procuraram a UFMG depois que um colega deles esteve no laboratório coordenado por Bracarense, há cinco anos, e conheceu as pesquisas sobre soldagem subaquática. González, que é engenheiro químico, destaca as condições de trabalho, os equipamentos e a capacitação do pessoal do laboratório, e diz que os atuais estudos vão contribuir para o desenvolvimento de uma área inédita em seu país. “Em Cuba, não tenho notícia de pesquisadores que trabalhem com a soldagem subaquática”, afirma o professor. A pesquisa pode ganhar impulso diante da possível ampliação da atuação da Petrobras no Golfo do México.

Perez, que é engenheiro mecânico e ocupa cargo de direção no setor de pós-graduação da Universidad Central de Las Villas, vê novas perspectivas de intercâmbio, em outras áreas, entre a instituição e a UFMG. A universidade cubana é referência mundial na produção de medicamentos e desenvolve pesquisas sobre fontes renováveis de energia também reconhecidas internacionalmente.

O novo tipo de verniz tem base semelhante ao produzido a partir de pesquisas do professor Rochel Montero Lago, do departamento de Química da UFMG. Em 2004, Lago obteve registro de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para produção de impermeabilizante, selante e verniz a partir de poliestireno, matéria-prima do isopor.

Tanque

A pesquisa sobre o verniz à base de isopor é mais uma faceta de trabalho iniciado de forma despretensiosa por Alexandre Bracarense, há mais de dez anos. O próprio professor classifica como “meio maluca” a idéia de construir um tanque no Laboratório de Robótica, Soldagem e Simulação, para estudo da soldagem subaquática. Na época, ele acabara de retornar do doutorado na Colorado School of Mines, universidade dos Estados Unidos dedicada sobretudo a estudos de engenharia e ciência aplicada.
Em 1999, a universidade norte-americana interessou-se pelo trabalho de Bracarense e iniciou parceria com o laboratório para o desenvolvimento de eletrodos. Cinco anos depois, foi a vez da PUC-Rio procurar o professor para o aperfeiçoamento de um eletrodo utilizado pela Petrobras, que financia a pesquisa, ainda em andamento. A próxima etapa é certificar o laboratório na área de soldagem subaquática, o que vai consolidá-lo como centro de excelência no assunto.

A parceria com os cubanos teve uma fase inicial, de intercâmbio de idéias, com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisa sobre o verniz é apoiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Ministério de Educação Superior de Cuba.
Bracarense também coordena estudo para a construção de robô capaz de substituir a mão-de-obra humana, ainda utilizada nos arriscados trabalhos de soldagem subaquática.