Busca no site da UFMG

Nº 1638 - Ano 35
15.12.2008

A tribo pelo olhar do outro

Em livro-reportagem, estudantes de jornalismo investigam
o modo de vida da comunidade LGBT de Belo Horizonte

Léo Rodrigues

Que músicas escutam, que roupas vestem e que programas fazem os sujeitos que se identificam como membros da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros)? Buscar respostas para essas questões foi um desafio enfrentado por Vinícius da Silva Luiz e Maria Tereza Novo Dias, estudantes de Comunicação Social da Fafich. Eles apresentaram, no dia 10 de dezembro, o projeto experimental de conclusão de graduação, materializado no livro-reportagem Cidade dos outros – Espaços e tribos LGBT em Belo Horizonte. O trabalho, que não foca nas questões eróticas, prefere abordar outras formas de sociabilidade adotadas pela comunidade LGBT.

Segundo Vinícius da Silva Luiz, o público-alvo do livro-reportagem são leitores de blogs, preferencialmente não-iniciados no universo homossexual. Por isso, a linguagem adotada transita entre o didático e o curioso. “O leitor de blog é aquele que não se contenta em ter apenas uma fonte de informação. Ele visita vários blogs que abordam o seu tema de interesse. Por isso, o nosso livro-reportagem fornece informações sem ser excessivamente didático. Alguns termos não são explicados, justamente para permitir que o leitor pesquise em outras fontes”, explica o estudante.

O objetivo não era fazer um guia de ambientes freqüentados pela comunidade LGBT, mas escolher alguns espaços para observar e entrevistar pessoas. Os dados coletados seriam utilizados para identificar questões ligadas ao modo de vida, como forma de vestir, tipo de música preferida, atividades que realizam, entre outros aspectos. Foram visitadas várias boates, sendo quatro delas voltadas para o público LGBT. Dessas, três já são casas tradicionais – Josefine, Gis e Estação 2000. A quarta, Amici, embora mais recente, recebe um fluxo considerável de pessoas. A dupla entrevistou empresários do ramo e freqüentadores. Estes últimos foram apresentados no trabalho com nomes fictícios para resguardar sua identidade.

Muitos entrevistados eram capazes de listar e explicar as características de diversas tribos, como barbies, finas, transcolocadas, poc-pocs, emos, indies e modernos. Mas não havia sentimento de autopertencimento. Em geral, eles não eram capazes de mencionar qual a sua tribo. Com base nessa observação, Vinícius e Maria Tereza concluem que uma tribo é sempre resultado do olhar do outro.

Construção social

A pesquisa se valeu de alguns referenciais teóricos. Para abordar a questão da tribo, a dupla recorreu à visão do sociólogo francês Michel Maffesoli, para quem os agrupamentos cada vez menos se formam por questões políticas e mais por semelhança nos gostos. A segunda é a chamada teoria Queer, que tem Judith Butler e Jeffrey Weeks entre seus expoentes, e que ajuda na compreensão do comportamento dos membros da comunidade LGBT. De acordo com essa corrente, o gênero dos indivíduos é resultado de uma construção social, portanto, não existem papéis sexuais predefinidos pela natureza humana. A teoria rejeita oposições binárias como “homem e mulher” e “heterossexual e homossexual”.

Uma terceira influência teórica vem de Michel Foucault, que afirma não haver repressão sexual, mas uma organização de valores que define padrões de comportamento aceitáveis ou não. Vinícius da Silva Luiz acredita que os valores predominantes na sociedade estão entre os fatores que limitam a comunidade LGBT a determinados espaços. “Quando as pessoas lhe negam os espaços, essa comunidade é levada a se juntar em locais específicos. O ideal seria que eles pudessem se manifestar em qualquer ambiente, pois suas características particulares não dependem de onde freqüentam”, defende Vinícius.

Projeto Experimental: Cidade dos Outros – Espaços e Tribos LGBT em Belo Horizonte
Autores: Vinícius da Silva Luiz e Maria Tereza Novo Dias
Orientador: professor Bruno Leal
Defesa: 10 de dezembro de 2008