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Nº 1640 - Ano 35
9.2.2009

Mistério na Pampulha

Lagoa, Museu de Arte, Igrejinha e UFMG viram cenário
de romance policial de professor da Letras

Léo Rodrigues

Interferência de Rita da Glória em foto de Eber Faioli

Um cadáver boiando na Lagoa da Pampulha. Em 2004, essa ideia começou a perseguir o escritor e poeta Marcus Freitas, professor da Faculdade de Letras da UFMG. Porém, o motivo e as consequências da morte só se tornaram claros em sua cabeça recentemente, com a produção da sua primeira obra em prosa. “Sempre fiz poesia, mas há muito tempo desejava escrever em prosa. Cinco anos atrás, veio à minha cabeça a cena do corpo boiando na Lagoa da Pampulha. Esbocei algumas páginas, mas acabei deixando a ideia de lado”, conta Marcus. O resgate da imagem se deu em 2007, quando o professor se sentiu motivado a apresentar projeto para concorrer ao prêmio Petrobras Cultural.

Vitorioso na categoria literatura, o projeto transformou-se no romance policial Peixe morto, lançado pela Autêntica Editora. “No incío, tinha apenas uma visão da cena inicial do livro e não sabia nem mesmo qual seria o seu gênero. Aos poucos, percebi que o narrador era o suspeito do assassinato”, explica o escritor. Ele ressalta que esta é uma característica peculiar do seu romance policial: o ponto de vista não é do investigador, mas do suspeito, que tenta se antecipar aos fatos para provar sua inocência. Curiosamente, o suspeito é um professor de história da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), que mantinha um relacionamento amoroso com a mulher do morto.

O cadáver era de um sujeito rico e poderoso. O leitor deparará com o desafio de identificar o autor do assassinato. Cobiça, traição, vingança... Quais teriam sido as motivações do crime? Segundo Marcus, as pistas aparecem discretamente. O suspeito, no decorrer da trama, sustentará a dúvida: ele é ou não culpado? Além disso, o passado cruza constantemente com o presente à medida que são apresentados relatos de viajantes do século 19, tema de pesquisa do professor de história. Esse trânsito temporal, em alguns momentos, contribui com a investigação do leitor, mas em outros só serve para confundi-lo e desnorteá-lo.

Lagoa noir

Como ficção, Peixe morto não tem pretensão de retratar um fato verídico, mas a construção da narrativa não está completamente abstraída da realidade. “Toda história é criada a partir das referências do autor”, diz Marcus Freitas. O melhor símbolo dessa influência é o local onde se passa a trama. É na Pampulha que Marcus mora, trabalha e passa a maior parte de seu tempo. O escritor chega a acreditar que a obra é também um romance sobre a região, pois aborda seu conjunto arquitetônico, suas ruas e bairros, a UFMG, o Museu de Arte e a Igreja São Francisco. A obra também faz menção à poluição e à importância ambiental da Pampulha, o que faz dela um verdadeiro personagem.

A atmosfera criada em Peixe morto lembra os filmes do gênero noir. O autor não esconde que o livro nasceu de uma visão cinematográfica e do desejo de ver a narrativa transposta, um dia, para as telas. Marcus Freitas é fã do estilo noir, que marca filmes como Chinatown (1974), de Roman Polanski, e Corpos ardentes (1981), de Lawrence Kasdan.

Da poesia clássica às expedições de Hartt

O belo-horizontino Marcus Freitas nasceu em 1959. Desde os 25 anos escreve poesias, tendo publicado, até agora, seis livros. Ele se diz fortemente influenciado pela poesia clássica, na qual se destacam nomes como Homero e Horácio. Em 2005, publicou No verso da canoa, coletânea de poemas produzidos desde 1993. É também autor de alguns ensaios, entre eles Hartt: expedições pelo Brasil Imperial, 1865-1878, que obteve menção honrosa, na categoria biografia, da edição 2002 do Prêmio Jabuti.