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Nº 1645 - Ano 35
23.3.2009

Eulaema, a atleticana

Na cromatografia gasosa monodimensional, uma amostra em solução líquida é inserida em aparelho que torna a solução gasosa. Ao passar por uma coluna, os compostos da mistura são separados e, em seguida, detectados e quantificados em um espectrômetro de massas. Já a cromatografia bidimensional abrangente usa duas colunas em sequência, permitindo a separação e observação, com alto grau de resolução e sensibilidade, de compostos que passam despercebidos pela cromatografia convencional.

Patrícia Azevedo

A identificação é imediata. Mais do que um mascote, o galo é praticamente o segundo nome de um dos mais populares times de futebol do Brasil, o Clube Atlético Mineiro. Apesar de insubstituível como símbolo, o simpático galináceo enfrenta agora a concorrência de outra espécie do reino animal: a abelha Eulaema atleticana, identificada em seu doutorado pelo pesquisador André Nemésio, do ICB. Atleticano fanático, Nemésio notou semelhanças entre o padrão de listras pretas e douradas do corpo da abellha com a camisa comemorativa do centenário do clube. “Sempre tive vontade de prestar essa homenagem, só precisava encontrar a abelha certa”, conta Nemésio.

Além da atleticana, foram descobertas outras seis espécies da subtribo Euglossina, todas na Mata Atlântica da Bahia. Diferentemente das abelhas melíferas (produtoras de mel), elas não formam colmeia, são solitárias e contribuem para a polinização de orquídeas. Segundo o pesquisador, havia uma grande confusão em torno da nomenclatura dessas espécies na literatura científica. “Decidi, então, checar e comparar todos os nomes e fazer uma completa análise espécime-tipo”, explica. Para tanto, foram estudados 102 tipos de abelhas. Destes, 54 foram identificados como euglossinas, incluindo as sete novas espécies descobertas por Nemésio.
Os resultados da pesquisa foram publicados pela revista neozelandesa Zootaxa, uma das mais conceituadas publicações especializadas em taxonomia – a ciência que descreve espécies. “A partir de agora, o nome está registrado e, mesmo que não exista mais futebol, a referência ao Atlético estará presente na literatura científica”, afirma Nemésio.

No entanto, mais do que promover a imagem do seu time do coração, o pesquisador espera que a homenagem ajude na preservação das euglossinas. “A Mata Atlântica está sendo destruída, mas nenhum torcedor vai querer que a espécie que carrega o nome de seu time seja extinta. Essa foi a maneira que encontrei para chamar a atenção das pessoas. Se a abelha for preservada, estaremos salvando também a preguiça, os mamíferos e toda a floresta”, defende. O próximo passo do pesquisador, em seu trabalho de pós-doutorado, é analisar o estado de saúde das populações de abelha e constatar se os espécimes restantes são suficientes para garantir a conservação das espécies.