Busca no site da UFMG

Nº 1651 - Ano 35
4.5.2009

Encanto sem espanto

Curso ensina física moderna sem recorrer à matemática

Léo Rodrigues

Filipe Chaves
Aba Cohen: iniciativa tenta suprir lacuna

O que sua caneta Bic tem em comum com o computador de sua casa? Parece surpreendente, mas a existência de ambos deve-se ao intelecto de uma mesma pessoa, responsável por alterar os rumos da humanidade. Ao apresentar a teoria da relatividade e aprofundar os estudos de física quântica, Albert Einstein acabou fixando as bases da física moderna, possibilitando o desenvolvimento da alta tecnologia. Isso significa que o dedo do cientista está presente em seus aparelhos eletrônicos e até mesmo nos objetos mais simples, como a caneta Bic, que passa por um processo de produção com tecnologia avançada.

Com o objetivo de chamar a atenção para a importância deste homem para o progresso da ciência, o Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) lançou o curso de extensão Einstein no Terceiro Milênio. Sua terceira turma inicia as aulas no dia 12 de maio. O coordenador da iniciativa, professor Aba Cohen Persiano, afirma que a intenção é suprir uma lacuna do ensino oficial. “Apesar da importância inegável dos estudos de Einstein, a física moderna não tem sido ensinada nas nossas escolas secundárias. Até mesmo na universidade, o conteúdo é abordado timidamente. Engenheiros estão sendo formados para trabalhar no desenvolvimento tecnológico e a noção que eles possuem de Einstein é mínima”, critica o professor.

A iniciativa é voltada para qualquer pessoa que esteja cursando, pelo menos, o ensino médio. Entretanto, as turmas anteriores foram preenchidas majoritariamente por profissionais de nível superior, como médicos, engenheiros, psicólogos, físicos, historiadores e professores universitários. A diversidade do público-alvo deve-se, segundo o professor Aba Cohen, ao método de ensino. “A física tem um lado que fascina, mas há muita resistência das pessoas por causa do excesso de matemática. Decidimos então ensinar o conteúdo evitando a matemática, facilitando a compreensão, mas sem deixar de aprofundar no tema. Assim, alcançamos diversas faixas etárias e apresentamos o encanto da física sem espanto”, diz ele.

As primeiras experiências do curso surgiram em 2005, motivadas pelo centenário do anúncio das descobertas de Einstein. Em 1905, o jovem físico publicou quatro trabalhos inovadores, um dos quais lhe valeria o Prêmio Nobel de Física. O professor Aba Cohen, após diversas experiências externas à Universidade, decidiu apresentar a proposta de um curso de extensão na UFMG em 2008. As vagas esgotaram-se rapidamente, o que motivou uma segunda edição em março deste ano, também preenchida integralmente. A expectativa é de que as vagas desta terceira turma também se esgotem. Novas turmas estão sendo programadas para o segundo semestre.

Conteúdo

A programação inclui conteúdos da teoria da relatividade especial, como a dilatação do tempo, a contração do espaço e a transformação de massa em energia; da teoria de relatividade geral, como a gravitação e a curvatura do universo; da mecânica quântica, como o princípio da incerteza e as ondas de matéria; e da cosmologia, como o Big Bang e os buracos negros. O curso também aborda alguns aspectos históricos do desenvolvimento da física e da trajetória de Einstein. O programa está disponível no endereço http://fisicafacil.wordpress.com, blog do professor Aba Cohen.

As atividades acontecem no Auditório 4 do ICEx. Além do professor Aba Cohen, as aulas são ministradas por convidados renomados como o presidente da Sociedade Brasileira de Física, Alaor Chaves; o diretor do Observatório Frei Rosário, Renato Las Casas; e a física Beatriz Alvarenga. São usados diversos recursos didáticos, como vídeos de animações, demonstrações e analogias de fácil compreensão. Há também atividades em laboratórios. O professor Aba Cohen oferece livros para empréstimo.

A última aula é dedicada a uma discussão sobre questões que não estão ao alcance da física e que perpassam o universo da filosofia, das artes e da fé. “A física diz como as coisas são, mas, muitas vezes, não sabe explicar por que são assim. Essa reflexão acaba sendo feita em outros terrenos e é importante apresentá-la. Sabemos, por exemplo, que o elétron tem carga negativa, mas não compreendemos a razão. Usamos a física para explicar o funcionamento do Big Bang, mas ela não é capaz de dizer o que havia antes da explosão. Isto fica para a filosofia e a fé”, justifica Aba Cohen.