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Nº 1651 - Ano 35
4.5.2009

UFMG guardará memória da anistia

‘Coleginho’, no bairro Santo Antônio, será reformado para receber documentos relativos a processos de indenização, dossiês, imagens e relatos

Da redação

A UFMG e o Ministério da Justiça formalizaram, na semana passada, parceria que prevê a criação da sede nacional do Memorial da Anistia Política no “coleginho” do antigo prédio da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O imóvel, situado no bairro Santo Antônio, passará por uma reforma e receberá acervo de materiais relativos aos 64 mil processos de indenização que foram apresentados na Comissão da Anistia Política. O Memorial também receberá dossiês administrativos, fotos, imagens, relatos, testemunhos, livros, áudios e vídeos recebidos pela Comissão por ocasião da campanha de doação de arquivos referentes ao período da ditadura militar. A estes documentos se somará ainda o acervo preservado pela própria UFMG, que inclui cerca de 10 mil fotos e 400 filmes da época.

A formalização da parceria ocorreu em Brasília, no último dia 28, com a presença do reitor da UFMG, Ronaldo Pena, da vice-reitora, Heloisa Starling, do ministro da Justiça, Tarso Genro, do vice-presidente da República, José Alencar, do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, além dos ministros mineiros Patrus Ananias e Luiz Dulci. Na ocasião, a Prefeitura de Belo Horizonte assinou um acordo com a UFMG em que se comprometeu a oferecer suporte para a implantação do Memorial. A perspectiva é de que a primeira etapa da obra, de transformação do espaço em museu e centro de documentação, seja concluída até o final do ano. Uma segunda etapa, que inclui a construção de dois anexos, deverá ser finalizada em 2010.

 
UFMG possui importante acervo sobre a ditadura militar

A criação do Memorial da Anistia Política se dá no mesmo momento em que a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, coordena a criação do Memórias Reveladas, centro de referências que abrigará documentos oficiais do governo militar. “São projetos complementares. O nosso Memorial constituirá o acervo das vítimas e testemunhas, sendo que grande parte dele será composto de doações. A ministra, por sua vez, pretende reunir os arquivos oficiais, produzidos pelos militares. É uma iniciativa importante que demandará muito trabalho, pois diversos documentos continuam guardados a sete chaves. São informações que ainda não foram reveladas”, explica a vice-reitora da UFMG, Heloísa Starling.

Reflexão

Na opinião da vice-reitora, o Memorial tem a importância de estimular a reflexão sobre o período militar e, consequentemente, sobre a consolidação da democracia brasileira. “O espaço abrigará um riquíssimo material de pesquisa que traz o ponto de vista das vítimas do regime, muitas vezes ocultado pela História. São documentos que permitirão à Universidade elucidar ainda mais as questões ligadas à ditadura. Há muitos fatos desconhecidos, e os eventos daquela época deverão emergir com outra força. Ao mesmo tempo, a sociedade terá acesso a informações que permitirão criar uma visão mais aprofundada sobre o período. Acredito que o Memorial terá impactos significativos no debate político”, diz ela.

Heloísa Starling relata ainda que, para fomentar a apropriação do espaço pelo público, estão sendo discutidas ideias como a realização de cursos livres, de shows e de exibições de cinema. O objetivo é dar vitalidade cultural ao ambiente, estabelecendo um calendário permanente de atividades com eventos temáticos sobre a ditadura. Além disso, a própria construção do Memorial se dará através de um intercâmbio com a sociedade, que poderá contribuir com o acervo, e com a comunidade do bairro Santo Antônio. O projeto prevê, por exemplo, a construção de uma praça, sugestão dos moradores da região.

Escolhas

A localização da sede do Memorial foi decidida por comissão criada em 2007 pelo Ministério da Justiça. Foram avaliados imóveis do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Belo Horizonte. Heloísa Starling acredita que vários aspectos contribuíram para a escolha da capital mineira, entre eles a importância de alguns fatos históricos da luta contra a repressão. Mas o fator que mais pesou na decisão, segundo a vice-reitora, foi a atuação da UFMG. “A nossa Universidade é a que mais tem se preocupado com os estudos da ditadura. Não é uma marca de um ou outro reitorado, mas da instituição como um todo. Desde a gestão do professor Cid Veloso, foram realizados grandes eventos que envolvem a memória do período militar. Não é à toa que nosso acervo sobre esta época é enorme”, argumenta.

A cineasta Daniela Thomas assumirá a coordenação museográfica do Memorial. Natural do Rio de Janeiro, Daniela é filha do cartunista Ziraldo. Iniciada no teatro, ela realizou importantes trabalhos de cenografia em peças de destaque, além de ter escrito roteiros teatrais. Em seu currículo figuram os filmes Terra estrangeira (1994) e Linha de passe (2007), ambos dirigidos em parceria com Walter Salles.