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Nº 1652 - Ano 35
11.5.2009

Projeto de extensão da UFMG voltado para a revitalização da bacia do Rio das Velhas. Fundado em 1997 na Faculdade de Medicina, é hoje uma iniciativa de caráter interdisciplinar, envolvendo professores e estudantes de diversas áreas.

Expedicionários da revitalização

Projeto Manuelzão volta a percorrer Rio das Velhas para mobilizar população e avaliar cumprimento da Meta 2010

Léo Rodrigues

Acervo Projeto Manuelzão
Expedição de 2009 pretende estimular sentimento biocêntrico

“Navegar é preciso”, anunciava o general romano Pompeu, cerca de 70 anos antes de Cristo. Ele se dirigia aos marinheiros que se recusavam a entrar no navio que partia para a guerra. Apropriada com um novo sentido, a frase parece mover a equipe do Projeto Manuelzão, que iniciou, na última sexta-feira, 8 de maio, a Expedição pelo Velhas 2009. Médicos, biólogos, geógrafos, jornalistas, artistas, professores e estudantes formaram um exército que está navegando pelo Rio das Velhas, dando continuidade à cruzada pela revitalização de suas águas.

A Expedição partiu de Belo Horizonte em direção a Ouro Preto. De lá, segue por diversas cidades que integram a bacia. A última parada será Barra do Guaicuy. Depois, os expedicionários voltam à capital mineira para o encerramento da atividade no dia 6 de junho. Os interessados em engrossar o grupo podem se incorporar a ele em qualquer parte do trajeto. O roteiro completo está disponível em http://www.manuelzao.ufmg.br/expedicao2009, onde também é possível acompanhar cada etapa da Expedição.

O Projeto Manuelzão já realizou uma iniciativa semelhante. Em 2003, a Expedição Manuelzão Desce o Rio das Velhas se propôs a conhecer a realidade do rio. “Nós tínhamos noção da degradação das águas, mas não sabíamos a dimensão exata nem os pontos onde a poluição era mais intensa”, lembra Marcus Vinícius Polignano, professor da Faculdade de Medicina e também coordenador do Projeto Manuelzão.

O momento agora é outro e, por isso, a edição 2009 tem um sentido diferente. O objetivo é estimular na população local um sentimento de pertencimento à bacia do Rio das Velhas, construindo uma cultura baseada na sustentabilidade ambiental. “Não adianta a universidade pesquisar formas de revitalização e o governo investir, se não for criada uma nova mentalidade que pautará a relação da humanidade com a natureza”, explica Marcus Vinícius.

A metodologia adotada também é mais ousada. Uma equipe percorrerá o trajeto por terra, mobilizando a população para os FestiVelhas, festivais de cultura agendados para os finais de semana. Realizados em Ouro Preto, Santa Luzia, Curvelo, Várzea da Palma e Belo Horizonte, eles vão promover debates, palestras, oficinas e apresentações culturais das comunidades localizadas na região da bacia.

Outra forma de mobilizar a população será através das miniexpedições, em que a população local é convidada a sugerir e percorrer trajetos dos afluentes do Rio das Velhas. Cada uma dessas atividades terá um tema que dialogue com a realidade histórico-cultural da região. “Dessa forma, construímos uma cultura que permite a sobrevivência dos rios. O FestiVelhas e as miniexpedições visam integrar a população à bacia, fazendo-a se reconhecer como parte daquele ambiente. Assim, criamos condições para que aflore um sentimento menos antropocêntrico e mais biocêntrico, exaltando a diversidade da vida. Estamos levantando uma bandeira de perspectiva planetária”, diz Marcus Vinícius.

Ao longo do trajeto, os expedicionários também coletarão dados para pesquisa acadêmica e estabelecerão parcerias com as prefeituras, envolvendo-as em iniciativas que contribuam para a revitalização. De concreto, serão produzidos pelo menos livro, documentário e relatório sobre a realidade socioambiental da bacia, que será entregue ao governo de Minas em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente.

Meta 2010

A conclusão do trajeto em 2003 resultou na Meta 2010: pretendia-se, num prazo de sete anos, navegar, nadar e pescar no Rio das Velhas na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Meta 2010 recebeu o apoio do Governo do Estado, que a transformou em um programa estruturador, mobilizando órgãos públicos e recursos financeiros.

A nova Expedição fará um balanço da Meta 2010. Ao menos uma grande notícia poderá ser dada: a possibilidade dos peixes repovoarem as águas deixou de ser um sonho. “Desde o ano passado, peixes são vistos subindo o leito do rio. Na região de Lagoa Santa, o dourado voltou a ser encontrado. Trata-se de espécie muito sensível às condições ambientais”, conta Marcus Vinícius, acrescentando que tem recebido e-mails com fotos e relatos surpreendentes.

O principal entrave para alcançar a Meta 2010 é o esgoto da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Copasa tem instalado interceptores de esgotos, o que contribui significativamente para o processo de revitalização. Mas ainda existem canalizações antigas, desconhecidas da Copasa, que levam dejetos diretamente ao Rio das Velhas e aos afluentes. O mapeamento dessas canalizações, que já está sendo realizado, é fundamental para atingir o terceiro item da Meta 2010: nadar.