Busca no site da UFMG

Nº 1655 - Ano 35
1.6.2009

opiniao

Computação e infraestrutura*

José Carlos Maldonado** e Virgilio Fernandes Almeida***

O que seria um dia sem computação? Talvez a primeira resposta fosse a imagem de um dia sem internet. Recentemente, falhas técnicas nas redes das operadoras de telecomunicação provocaram panes na internet no estado de São Paulo, interferindo gravemente em serviços essenciais para a população, como retirada de documentos de identificação e habilitação, realização de boletins de ocorrências policiais e até serviços bancários. Para se avaliar no entanto a magnitude e abrangência dessa questão, é interessante refletir sobre os serviços fundamentais que hoje se baseiam na tecnologia da informação, que dependem de computadores, softwares e redes de comunicação.

Um dia sem computadores seria um dia sem os modernos meios de comunicação e entretenimento, que afetam praticamente todas as pessoas, como celular, televisão, rádio, jornais, vídeos DVD, música MP3 e jogos por computadores. Um dia sem computadores seria um dia sem os serviços de diagnósticos médicos por imagem. Um dia sem computadores pararia grande parte dos carros e ônibus, que dependem cada vez mais de microprocessadores, que controlam desde a ignição eletrônica até os freios ABS. Um dia sem computação seria um caos para a infraestrutura do país e de suas grandes cidades. Os serviços de transmissão e distribuição de energia elétrica, as comunicações, a previsão do tempo, o controle aéreo, a operação de trens e metrôs, a sinalização e controle de trânsito, os serviços bancários, a previdência social, o pagamento de impostos, tudo seria irremediavelmente afetado. Um dia sem computação deixaria literalmente paralisado o Brasil.

Hoje, todas as áreas do conhecimento dependem da computação, para processar gigantescas massas de dados ou simular novos e complexos fenômenos

Sem uma moderna infraestrutura de computação, as pesquisas científicas e tecnológicas não avançam. Hoje, todas as áreas do conhecimento dependem da computação, para processar gigantescas massas de dados ou simular novos e complexos fenômenos. Sem computação, não seríamos capazes de antecipar as mudanças climáticas, realizar previsões meteorológicas, monitorar o desmatamento da floresta amazônica e realizar as pesquisas genéticas. Serviços globais de informação na internet já fazem parte do cotidiano das pessoas, empresas e governos. Não são apenas os serviços de buscas na Web, mas também os serviços de email, localização geográfica em mapas e armazenagem de documentos essenciais para as pessoas e empresas. O funcionamento eficiente de vários segmentos da sociedade depende hoje da infraestrutura global de informação. Embora privados, os serviços de informação, como Google, Yahoo e Microsoft, têm a dimensão de infraestruturas públicas, dado o número de pessoas que usam e dependem desses serviços. Nesse aspecto, observa-se que a moderna estrutura de informação é praticamente construída, desenvolvida e operada fora do país, aumentando sobremaneira a influência e a dependência de serviços globais em áreas tão estratégicas para o país.

O processo de evolução e modernização da infraestrutura do país deverá passar por uma crescente incorporação das tecnologias da informação. Os projetos de futuras infraestruturas apontam para as chamadas infraestruturas inteligentes, que irão abranger desde sistemas de transporte, controle do meio ambiente, TV Digital até as redes de distribuição de energia. Um vigoroso e planejado programa de ciência, tecnologia e inovação será necessário para criar as infraestruturas do século 21, inteligentes, eficientes e confiáveis.

O governo federal, apoiado por governos estaduais, incluindo o de Minas Gerais, tem criado ações positivas nessa direção, através do Programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. No entanto, precisamos de mais ousadia na busca do desenvolvimento tecnológico do país. Precisamos estabelecer objetivos concretos para metas estratégicas, que criem no país tecnologias inovadoras de escala global. Precisamos construir programas colaborativos entre governo, iniciativa privada e academia, que permitam o desenvolvimento de projetos estratégicos para o país. Já existem exemplos bem-sucedidos, como as redes multidisciplinares de pesquisa, presentes em projetos da Embrapa, Petrobras, no Projeto Genoma da Fapesp e no projeto GINGA, de software aberto para o sistema brasileiro de TV digital. Um investimento sólido e permanente em Ciência e Tecnologia (C&T) será fundamental para o desenvolvimento de infraestruturas modernas, que são requisitos indispensáveis para o progresso social e crescimento econômico sustentável do país.

(*) Publicado no jornal Estado de Minas, dia 16/4/2009
(**) Professor titular do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP e presidente da Sociedade Brasileira de Computação
(***) Professor titular do Departamento de Ciência da Computação da UFMG e membro da Academia Brasileira de Ciências

Esta página é reservada a manifestações da comunidade universitária, através de artigos ou cartas. Para ser publicado, o texto deverá versar sobre assunto que envolva a Universidade e a comunidade, mas de enfoque não particularizado. Deverá ter de 4.000 a 4.500 caracteres (sem espaços) ou de 57 a 64 linhas de 70 toques e indicar o nome completo do autor, telefone ou correio eletrônico de contato. A publicação de réplicas ou tréplicas ficará a critério da redação. São de responsabilidade exclusiva de seus autores as opiniões expressas nos textos. Na falta destes, o BOLETIM encomenda textos ou reproduz artigos que possam estimular o debate sobre a universidade e a educação brasileira.