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Nº 1655 - Ano 35
1.6.2009

Com jeito de cereal matinal

Pesquisadora da UFMG desenvolve banana desidratada e crocante, produto pioneiro que pretende minimizar as perdas de excedente no Norte de Minas Gerais

Luiza Lages

Parece sucrilhos, mas tem gosto de banana. Não é extrato ou aroma artificial, é mesmo a fruta: banana desidratada e crocante, objeto de estudo de Teresa Elisa Sousa da Silva para o mestrado no programa de pós-graduação em Ciência de Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG. Em resposta ao desperdício na produção de banana no Norte de Minas Gerais, o quinto maior estado produtor no Brasil, a aluna lançou o produto pioneiro no mercado.

O que já existe de similar é a banana frita, comumente encontrada no Norte do estado. “Mas eu, como nutricionista, quis fazer um produto mais saudável, que não envolvesse o uso de gorduras e óleos”, diz Teresa Elisa. Diferente da banana frita – que lembra chips de batata –, o produto desenvolvido pela pesquisadora da UFMG é doce. Ao testar vários tipos de bananas em diferentes estágios de amadurecimento, a que apresentou melhores resultados em textura e sabor foi a prata, ainda com a casca verde.

O processo descrito pela nutricionista para torná-la doce inclui a imersão da fruta em solução que pode ser feita com adoçante natural ou artificial. Antes, ela é fatiada e submetida a um tratamento químico com bissulfito de sódio para evitar o escurecimento. “É uma concentração muito baixa, que não causa nenhum problema para o consumidor”, ressalta a pesquisadora. E finalmente a fruta é desidratada com ar seco, ao passar por um secador convectivo, que extrai a água sem uso de outras substâncias. O resultado final é um produto que lembra cereais matinais como os conhecidos sucrilhos.

Validade maior

Do ponto de vista biológico, a banana é um dos frutos que apresenta perdas mais significativas por decomposição após a colheita. Seu comércio tem alguns problemas característicos: ela amadurece rapidamente quando retirada do cacho e amassa com facilidade por ter casca pouco resistente. Frutas que apresentam manchas provocadas por choque, durante a colheita ou o transporte, perdem valor comercial. Assim, depois de transportados, os cachos são separados em pencas, e as pencas das extremidades são rejeitadas, por geralmente sofrerem mais choques. Cerca de 25% da produção é perdida dessa forma.

Realizada em parceria com a Fapemig – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais –, a pesquisa de Teresa Elisa da Silva tem o objetivo de dar destino nobre às bananas desperdiçadas e também ao excedente da produção que não é comercializado. Por diminuir a atividade de água na fruta, a desidratação dá à banana um prazo de validade maior: “Os microorganismos não conseguem se proliferar muito rapidamente, então a banana não estraga”, explica a pesquisadora. “O produto é realmente viável para evitar o desperdício de banana, porque é muito prático para o consumo, com tempo longo de prateleira”, completa.

Teste com consumidor

Como se trata de um produto novo, foi feito um teste de aceitação do consumidor, em que, através de análise sensorial, os participantes avaliaram a banana numa escala de 1 a 9. O resultado final foi nota 6 (“gostei ligeiramente”). Também foi perguntado se o consumidor compraria a banana e a resposta foi que talvez comprasse, talvez não.

Agora que a pesquisa atingiu a fase final, ela vai ser discutida no âmbito da Fapemig, para que seja avaliada a viabilidade de aplicação industrial. “A ideia é entrar em contato com os produtores de banana e abrir uma fábrica de desidratação, em sistema de cooperativa, ou uma estrutura do tipo”, conta Teresa Elisa da Silva. Segundo ela, a produção que foi feita em laboratório pode se adaptar à escala industrial, com resultados ainda melhores. “Com certeza o produto final ficaria melhor se tivéssemos equipamentos de porte industrial, que permitisse menos manipulação durante o processo”, afirma a nutricionista.

A banana é composta de água (75%) e matéria seca (25%), e é uma fonte de vitaminas A e C, fibras e potássio. A banana desidratada e crocante mantém sua composição química e seu valor nutritivo – “a diferença é que os sólidos são concentrados porque a água foi embora, o que faz com que a pessoa acabe ingerindo ainda mais nutrientes”, afirma Teresa Elisa da Silva. As análises químicas demonstraram que o cereal de banana tem alto teor de fibras, principalmente as solúveis, que reduzem o colesterol sanguíneo. “Os resultados mostram que a banana desidratada pode ser benéfica à saúde do coração, além de diminuir o índice glicêmico da alimentação”, conclui a nutricionista.

Dissertação: Desenvolvimento de banana (Musa spp. cv Prata) desidratada crocante: caracterização físico-química e aceitação pelo consumidor
Autora: Teresa Elisa Sousa da Silva
Defesa: 8 de maio de 2009, no programa de pós-gradução do Departamento de Ciência de Alimentos da Faculdade de Farmácia
Orientador: professor David Lee Nelson
Co-orientadora: professora Accácia Júlia Guimarães P. Messano