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Nº 1655 - Ano 35
1.6.2009

Originada dos caminhos que levavam às reservas de ouro e diamantes da capitania de Minas Gerais no século 18 e parte do 19. Em torno dela, formaram-se 179 municípios em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Referência para atendimento integral

Pesquisadores da UFMG lançam livro que discute a ligação da saúde com aspectos psicossociais

Luiza Lages

Em um contexto de intenso aprimoramento tecnológico, especialização crescente e maior complexidade da medicina, a preocupação é sobre como aliar as inovações ao bem-estar do paciente. Com a intenção de ampliar e atualizar referência teórica a respeito da ligação entre saúde, comportamento, psicologia e vida social, pesquisadores da UFMG organizaram o livro Aspectos biopsicossociais da saúde na infância e adolescência, criado com base na disciplina homônima do programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina. A obra reúne textos de especialistas de diversas universidades brasileiras que participaram das primeiras edições da disciplina. Os organizadores são os professores Vitor Geraldi Haase, do Departamento de Psicologia da UFMG, Francisco José Penna, da Faculdade de Medicina, e a doutoranda Fernanda de Oliveira Ferreira, também professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

A interdisciplinaridade marca os 32 capítulos do livro, que lançam mão de conceitos e produções de diversas áreas do conhecimento: medicina, psicologia, pedagogia, terapia ocupacional, fisioterapia, entre outras. “Cada disciplina tem seu cacoete, sua ética e sua tradição de pesquisa, o que cria a urgência de um corpo teórico que favoreça esse diálogo”, diz Vitor Haase, lembrando que a necessidade de que profissionais de diversas áreas atuem juntos no tratamento dos pacientes nasce do ideal de humanização da medicina.

As doenças crônicas – como diabetes, asma, epilepsia – submetem as pessoas à convivência com limites que repercutem do ponto de vista funcional na vida cotidiana e no trabalho, e também psicologicamente. “Eu sou hipertenso e sedentário, e minha médica me recomenda um certo remédio. Eu poderia fazer dieta e caminhar todos os dias, só que é mais fácil tomar o comprimido apesar de me trazer menos resultados”, descreve Vitor Haase. “Essa situação representa a dimensão biopsicossocial, que envolve a saúde, os hábitos e um esforço educativo muito grande”, diz.

Na UFMG, têm surgido programas que reúnem profissionais das mais diversas áreas, mas com estrutura unificada de atendimento a doenças crônicas. Alguns desses órgãos – ambos no Hospital das Clínicas – são o Centro de Investigação de Esclerose Múltipla (Ciem) e um centro de referência do idoso, que se encontra em formatação e vai contar com divisão dedicada à doença de Alzheimer e demências. Segundo o pesquisador, pacientes com esclerose múltipla atendidos por grupos de especialistas apresentam evolução mais favorável do que aqueles atendidos separadamente em consultório. “O indivíduo tem a oportunidade de participar de grupos, de trocar experiências e de ter contato com outras pessoas e famílias com o mesmo tipo de problema. Cria-se uma comunidade formada pelos profissionais, pacientes e suas famílias”, explica o pesquisador.

Terminologia comum

A Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe desde a sua fundação, em 1947, que a saúde seja entendida como um processo que ultrapassa a doença, e que o bem-estar do indivíduo seja encarado na relação com aspectos biopsicossociais. As duas principais medidas para operacionalizar esse conceito são as escalas de qualidade de vida e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Entrevistas ou questionários, as escalas começaram a ser usadas pela indústria farmacêutica para produção de novos medicamentos e depois no atendimento clínico. “Através dessas avaliações, identificam-se necessidades de atendimento e impactos das intervenções”, explica Vitor Haase. “É o caso de medicamentos para o câncer, que podem aumentar a sobrevida, mas ter efeitos colaterais que dificultem a vida do paciente”, completa.

A CIF, tratada em dois capítulos do livro, é base para a estrutura da medicina biopsicossocial. A classificação é organizada em três níveis: estrutura e função do organismo; atividades desenvolvidas pelo indivíduo e participação dele em espaços sociais. Os níveis não existem necessariamente de forma linear em um paciente. “A pessoa pode ter um comprometimento ambiental e então contrair uma doença. Ou pode não sofrer de problema estrutural: uma criança com dificuldade de aprendizado nem sempre tem uma lesão, e tem dificuldades porque não frequenta uma escola adequada. Essa dificuldade pode afetar sua sociabilidade no ambiente da escola ou em casa”, exemplifica a professora da Ufop Fernanda Ferreira. O objetivo principal é estabelecer uma terminologia comum entre as diversas profissões de saúde, de modo que o atendimento possa ser planejado de modo mais global e eficiente.

Livro: Aspectos biopsicossociais da saúde na infância e adolescência
Organizadores: Vitor Geraldi Haase, Francisco José Penna e Fernanda de Oliveira Ferreira
Editora: Coopmed – 659 páginas – R$ 100
Lançamento: 4 de junho, às 19h, na sala da Congregação da Faculdade de Medicina
(avenida Alfredo Balena, 190)