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Nº 1657 - Ano 35
15.6.2009

Moratória tecnológica

Itamar Rigueira Jr.

Taxas altas de reposição de mão-de-obra, aliadas à falta de qualificação profissional e de recursos financeiros, tendem a levar à “hipertrofia tecnológica” nos processos de informatização de bibliotecas universitárias em países como Brasil, Moçambique e África do Sul. A conclusão é do pesquisador Manuel Valente Mangue, que estudou os sistemas da UFMG, da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em Moçambique, e das universidades de Cape Town e Western Cape, na África do Sul. Sua tese de doutorado foi escolhida para o Prêmio Capes de Teses 2008, na área de Ciências Sociais Aplicadas 1.

Assim que se graduou na Escola de Ciência da Informação, em 1998, o moçambicano Manuel Valente Mangue voltou para seu país natal para informatizar o sistema de bibliotecas da UEM, a maior e mais antiga do país. Seu mestrado, também na UFMG, incluiu a análise do processo em universidades congêneres, que serviriam de referência. Nessa fase, mais do que respostas, surgiram questionamentos, motivados por sucessão de falhas na informatização e no funcionamento dos sistemas implementados. “Mais do que problemas técnicos, sobressaíam problemas estruturais como a falta de prestígio e melhor enquadramento das bibliotecas, e problemas com recursos financeiros e equipamentos”, recorda Manuel Mangue.

Entre as descobertas do trabalho de doutorado na Escola de Ciência da Informação da UFMG, Manuel menciona que o processo de informatização deve considerar restrições em função do lastro histórico e do contexto político, econômico e educacional da sociedade que o adota. Os modos de gestão e a organização do trabalho também têm influência. Segundo o pesquisador, ficou evidente também que a adoção tecnológica é “um processo endógeno à instituição e que cada fase deve ser acompanhada pela qualificação profissional e pelo aprimoramento dos mecanismos administrativos, sob pena de involução causada por hipertrofia tecnológica, da unidade de informação como um todo, a despeito do uso da mais alta tecnologia”.

Manuel Mangue define hipertrofia tecnológica como a incapacidade da organização de fazer uso competente da tecnologia adotada, e que se evidenciou, no caso das bibliotecas estudadas, por lentidão da rede, paradas do sistema e atualizações que resolvem um problema criando outros.

O pesquisador sugere que bibliotecas similares às analisadas em seu trabalho adotem a chamada moratória tecnológica: elas não teriam que acompanhar todos os estágios da evolução. O risco da indigência é menor que o da hipertrofia tecnológica, que significa o máximo de custos (financeiros, humanos e materiais) para um mínimo de benefícios. Atual diretor do sistema de bibliotecas da UEM, Manuel Valente Mangue conta que mudou a estratégia de gestão, passando a explorar o software no limite do estágio de qualificação de mão-de-obra, ainda que o fornecedor constantemente proponha “melhorias”. “Esta é nossa moratória”, explica Manuel. ”Não vamos adotar um sistema que acelere a desqualificação de nosso pessoal, ao ponto de não poder usar sua configuração básica.”