|
|
|||
|
||||
Nº 1658 - Ano 35
22.6.2009
Espetáculo “Efeito Borboleta”, da companhia Contour Progressif, abrirá o evento: códigos do videogame questionam representações do corpo |
Léo Rodrigues
Parece não haver dúvidas de que a principal metamorfose da era da globalização é o desenvolvimento tecnológico. Ele provoca mudanças nas relações entre países, no contato entre os indivíduos, no mundo do trabalho, na produção industrial, enfim, em toda a dinâmica mundial. Mas e os impactos dessa tranformação no meio artístico? Quais as potencialidades do encontro entre as artes e as diversas tecnologias da informação e da comunicação? A Semana Internacional de Artes Digitais e Alternativas (Siana) busca criar condições de trocas efetivas entre diferentes culturas, explorando exatamente essas potencialidades.
O evento acontecerá entre os dias 30 de junho e 12 de julho. Mas o espetáculo que marcará a abertura oficial da Siana será no dia 1º de julho, às 20h30, no teatro Klauss Vianna do Instituto Oi Futuro. Trata-se de produção da companhia francesa Contour Progressif. Intitulado “Effet papillon”, ou “Efeito borboleta”, o espetáculo convoca os códigos do videogame para questionar as representações do corpo nos universos de realidade virtual. “A imagem de um corpo ideal, midiático e modelado será colocada à prova”, avisa Laisa Bragança, integrante da Companhia de Teatro Luna Lunera e coordenadora geral do Siana.
O espetáculo, como todas as demais atividades, tem entrada franca. A programação inclui outras apresentações artísticas, workshops, exposição de obras de artes digitais, instalações interativas, conferências e mostra de trabalhos científicos. Tudo isso dividido em quatro espaços: o Palácio das Artes, o Conservatório UFMG e o Instituto Oi Futuro, em Belo Horizonte; e o Instituto Inhotim, em Brumadinho. Detalhes da programação estão disponíveis na página www.sianabrasil.com.br.
Idealizada na França em 2003, a Siana chega a sua terceira edição, cujo tema é O imaginário das tecnologias digitais. A novidade é que, pela primeira vez, o evento rompe os limites de seu país de origem e será realizado em três territórios. Em março deste ano, a Siana aconteceu na cidade francesa de Evry. E depois de passar pelo Brasil, a China abrigará o evento em outubro, selando a internacionalização da iniciativa.
A organização do evento no Brasil é de responsabilidade da Companhia de Teatro Luna Lunera e da UFMG, com patrocínio da Oi e da Usiminas, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. A Siana compõe o calendário de comemorações do Ano da França no Brasil. As conferências serão feitas por especialistas brasileiros e franceses. As exposições também mesclarão obras dos dois países, mas sempre contextualizadas com uma discussão sobre o panorama brasileiro.
Parte da equipe de produção do Siana está ligada ao Laboratório de Produção de Eventos, do curso de Comunicação Social da Fafich. Nove alunas estão engajadas na iniciativa e realizam tarefas de acordo com o seu perfil. Aquelas que buscam formação em jornalismo estão focadas na produção de conteúdo para o site e para outras ferramentas virtuais, disseminando as informações. Já as estudantes que almejam habilitar-se em relações públicas dedicam-se aos trabalhos com os públicos estratégicos, fazendo visitas técnicas, sobretudo nas escolas de arte. As peças gráficas do Siana foram encomendadas à Cria Jr, empresa júnior dos estudantes de Comunicação Social. “O evento não é lugar de formação apenas para o público. Ele proporcionará também um rico aprendizado para quem participa de alguma etapa de sua organização”, conta Carla Soares, professora do Laboratório que também assumiu o papel de produtora.
Desde 2005, o Departamento de Comunicação Social da UFMG mantém relações com o instituto Telecom & Management SudParis, um dos organizadores da Siana na França. A parceria para realização da Semana se concretizou quando os docentes da UFMG decidiram abraçar a ideia. O professor Carlos Mendonça assumiu a direção do comitê científico e a presidência do júri encarregado de selecionar os melhores trabalhos científicos inscritos. Já o professor Rodrigo Minelli é o curador artístico.
Carla Soares acredita que o tema desta edição da Siana permite instaurar uma pausa para pensar o que tem sido feito da tecnologia. Segundo ela, o desenvolvimento tecnológico pôs a ciência sob duas visões opostas e extremas. “Primeiro houve uma euforia; a tecnologia foi considerada a panaceia para todos os males. Depois surgiu um prognóstico antagônico, segundo o qual ela levaria à degradação do mundo. Mas a tecnologia não é boa ou má em si mesma. Isso depende de como vamos usá-la. E é a partir do imaginário que pensamos esse uso. O juízo de valor está no imaginário”, argumenta a professora.