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Nº 1660 - Ano 35
6.7.2009

Festival de Inverno sai às ruas

Evento começa no dia 19 com programação enxuta e marcado por parceria mais intensa com a cidade de Diamantina

Divulgação

Itamar Rigueira Jr.

Na noite do domingo 19 de julho, cerca de 100 artistas diamantinenses vão subir ao palco da Praça Dr. Prado para fazer soar os acordes iniciais da 41ª edição do Festival de Inverno da UFMG. O Concerto para Diamantina – que reunirá bandas, grupos de dança e percussão, solistas e a Orquestra Sinfônica Jovem da cidade – abrirá a programação com uma homenagem à sede do Festival, que este ano tem como tema Traduções e atrações como o Grupo Galpão – parceiro tradicional –, Jards Macalé, música eletroacústica portuguesa e um espetáculo baseado em O grande circo místico, de Chico Buarque e Edu Lobo, dirigido por Ernani Maletta e envolvendo 40 artistas.

Diamantina deve receber entre 20 e 30 mil pessoas, envolvidas em oficinas dos mais diversos temas ou como espectadores de espetáculos de todas as artes. A comunidade está cada vez mais envolvida: a programação deste ano tem mais apresentações em praças e ruas, incluindo espaços fora do núcleo urbano de Diamantina. Instituições locais oferecerão quatro oficinas.

“A cada ano temos ampliado a prática da parceria com a cidade, e este ano teremos ainda mais apresentações ao ar livre, aulas abertas e atividades na periferia”, conta o diretor de Ação Cultural da UFMG, Mauricio Campomori, que coordena o Festival. Para a secretária de Cultura, Turismo e Patrimônio de Diamantina, Márcia Betânia Oliveira Horta, o aumento da preocupação com o acesso da população às atividades desenvolvidas no Festival é importante, principalmente as que são realizadas em praça pública. “A relação do Festival com Diamantina é duradoura e cercada por uma expectativa de formação e acesso a informações novas relativas às artes, que não são encontradas aqui em outras épocas”, afirma Márcia Betânia Horta.

O Galpão Cine Horto Pé na Rua levará ao distrito de Mendanha a peça Sonho de uma noite de São João, e os “atores-brincantes” do grupo És t.u. vão apresentar o espetáculo Contos de cordel nos bairros Palha e Rio Grande. Os espetáculos em praças e ruas serão gratuitos. Nos espaços fechados, como a Casa da Glória, os ingressos serão trocados por alimentos. Como alternativa à doação, serão cobrados valores em torno de R$ 3. É uma forma de garantir que todos os espectadores contribuam para arrecadação de donativos que serão destinados a instituições de apoio a crianças e idosos na cidade.

Ajustes

A versão 2009 do Festival de Inverno está mais enxuta que as dos últimos anos. Para chegar a um custo quase 20% mais baixo, a organização fez ajustes de infraestrutura e administração, reduziu o número de oficinas e espetáculos, mas com a preocupação de não deixar cair a qualidade. As oficinas, por exemplo, terão duração maior e oferecerão número de vagas (quase 600) similar ao de outras edições. No caso dos espetáculos, a estratégia foi a de promover maior número de sessões para alguns grupos e artistas, o que promete resolver outra questão, que é a demanda por espaços maiores.

“Conseguimos preservar a oferta de vagas em oficinas e a qualidade das atrações. Estamos trazendo mais profissionais de outros estados e países”, afirma Campomori. Segundo ele, o Festival terá custo total pouco superior a R$ 500 mil. O patrocinador principal é a Cemig. Recursos foram captados também junto à Caixa Econômica Federal, Sebrae e Secretaria de Educação Superior (Sesu), do MEC.

O coordenador do Festival diz que não foi surpresa a dificuldade de obter recursos este ano, já que a crise econômica sacrificou especialmente a cultura, aspecto que, segundo ele, se agrava mais em relação a um evento que não segue a linha de mercado. No entanto, Maurício Campomori afirma que trabalhar com menos dinheiro não é uma tendência na área. “A noção da necessidade de investir em cultura está crescendo”, ele defende.

Campomori alerta que a produção de um evento do porte do Festival de Inverno deve ser antecipada, em razão de mudanças institucionais, jurídicas e de relacionamento com o mercado, sobretudo no caso de universidades e de suas fundações de apoio. Ele revela que ainda este ano será preciso iniciar o processo de inscrição da edição de 2010 na Lei Rouanet. Nesse sentido, e considerando que a UFMG terá no próximo ano uma nova gestão, aumenta a importância do seminário Perspectivas da cultura em cenário de transformações, que será realizado em Diamantina, nos dias 20 e 21. “Vamos procurar um caminho consensual para o Festival de Inverno, e as providências para a próxima edição serão baseadas nas conclusões de um grande debate, envolvendo diversos setores”, explica Campomori.

Entretenimento para reflexão

Em função da programação reduzida, aparece de forma mais intensa, na edição deste ano, a participação de professores de oficinas na grade de eventos. Nomes como Ésio Magalhães, nas artes cênicas, e Mauro Rodrigues, na música, levarão também para o palco as discussões que serão promovidas nas aulas. “Esta é uma preocupação que sempre pautou nosso trabalho no Festival, é muito interessante para o aluno ver o professor em cena”, explica Ernani Maletta, coordenador da área de eventos.

Maletta informa que grupos como o Galpão e a Mimulus Cia. de Dança encontraram formas de atender ao convite do Festival de Inverno, seja lançando mão de mecanismos legais de incentivo, seja aceitando apenas ajuda de custo. A montagem da programação respeitou, segundo ele, a proposta de discussão que orienta o evento – centrada na ideia de traduções entre as artes.

A adaptação do espetáculo Dolores, que será mostrada pela Mimulus, faz leitura cênica da obra do [cineasta espanhol] Pedro Almodóvar, para ficar em um exemplo. “A grade de apresentações artísticas não fica à parte do conceito geral do Festival”, afirma Maletta. “Muito além do entretenimento, os espetáculos ajudam a promover a reflexão crítica sobre a arte como produtora de conhecimento, que é, afinal, um dos grandes objetivos do Festival de Inverno da UFMG”.

As inscrições para as oficinas podem ser feitas no site da Fundep (www.fundep.ufmg.br). A programação artística está na página do Festival de Inverno (www.ufmg.br/festival).

Leia também: "O anti-herói do Galpão"