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Nº 1664 - Ano 35
24.8.2009

O DNA da edição em Minas

Livros produzidos por alunos de graduação da Faculdade de Letras mapeiam a história da impressão no Estado

Priscila Brito

Em 1789 circularam por Vila Rica, antiga capital de Minas e atual Ouro Preto, folhetos impressos das Cartas Chilenas, manifesto contra o governador da capitania na época, Luís da Cunha Meneses, retratado nelas como o “fanfarrão Minésio”. Alguns anos depois, em 1806, um canto em homenagem a outro governador também ganhou notoriedade nas ruas da então Vila Rica graças à impressão do texto em placas de metal. Detalhe: a autorização para a instalação de tipografias no Brasil só viria a ser concedida dois anos depois, em 1808, com a vinda da família real para o país.

Esse pioneirismo na impressão e edição no estado, no entanto, praticamente não encontra menção nos registros que documentam a história dessas práticas, segundo a professora da Faculdade de Letras Sônia Queiroz. “Fizemos um levantamento e ficou constatado que não há nada sobre o tema. Temos uma página aqui, outro parágrafo ali e alguns textos esparsos em obras sobre a história do livro no Brasil. Mas não há nada específico sobre Minas publicado.”

Foi com o objetivo de reverter esse cenário que ela conduziu, com seus alunos de duas disciplinas da graduação em Letras, pesquisa para resgatar a história da edição em Minas. O trabalho resultou em dois livros, Editoras mineiras volume 1 e volume 2. As obras traçam um panorama da edição no estado – de 1806 aos dias atuais – com as histórias de várias editoras contadas em capítulos específicos.

De acordo com a professora, a trajetória da edição em Minas acompanha o movimento observado no restante do país. Durante o Império e nos anos iniciais da República, editavam-se jornais, folhetos e textos religiosos. As editoras só foram surgir no final da década de 1950.

Diversidade

O que se observa também, segundo a professora, é uma diversificação dos segmentos de editoração no estado. De editoras infanto-juvenis às didáticas e acadêmicas, passando pelas dedicadas ao espiritismo e às artes plásticas, há espaço para todos os temas no mercado. “Temos até algumas editoras bastante inovadoras, como as que publicam obras com temas ligados à afro-descendência. No próprio Brasil, isso é muito recente. Mostramos, inclusive, como esse tipo de editora é importante para a formação dos movimentos culturais.” Ela acrescenta que ainda há outras frentes a serem exploradas, o que pode dar origem a novos volumes. “No panorama do primeiro volume, já identificamos, por exemplo, as editoras independentes dos poetas. Vamos tentar pesquisar também o mercado do braile e da língua de sinais”, revela.

A expectativa de Sônia Queiroz é que os dois livros não só gerem conhecimento sobre o tema, mas também sirvam de referência para futuros editores. “Em qualquer área do conhecimento é importante conhecer a tradição. Um descendente de uma família de editores da Alemanha [berço do pai da tipografia, Gutenberg] tem registros históricos de séculos. Aqui em Minas, quem quer ser editor não sabe nem por onde começar, não tem um estudo para se orientar. E isso que queremos oferecer”, argumenta.

Produção experimental

Além da coleta de dados e escrita do conteúdo dos livros, todo o trabalho de formatação, revisão, impressão e encadernação foi feito pelos alunos no Laboratório de Edição da Faculdade de Letras. Espécie de editora experimental, o laboratório é o espaço onde os alunos do curso de Letras com ênfase em edição vivenciam todas as etapas de produção do livro.

Devido a esse caráter da produção, os dois volumes de Editoras mineiras foram impressos em tiragens pequenas e não estão disponíveis para venda. “Nosso intuito não é comercial, é acadêmico, de experiência do aluno”, explica a professora Sônia Queiroz. Ela antecipa, porém, que uma editora com atuação no mercado já demonstrou interesse em publicar os livros.