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Nº 1673 - Ano 36
26.10.2009

Pedra sobre pedra

Livro recria histórias das Minas Gerais e do Brasil com base em seus monumentos

Igor Lage

Pedra sobre pedra

No meio do caminho, tinha uma pedra. Uma não, várias. E cada uma delas tem um pouco de história para contar. Pensando nisso, o geólogo Antônio Gilberto Costa, professor do Instituto de Geociências, escreveu o livro Rochas e histórias do patrimônio cultural do Brasil e de Minas, que trata dos monumentos criados durante o barroco por meio dos materiais utilizados em sua construção.

"Pouco destaque é dado às rochas quando o assunto é patrimônio cultural”, afirma Antônio Gilberto Costa. Segundo ele, as rochas podem ajudar a remontar a história e o processo de concepção de um monumento, indicando técnicas usadas na construção, origem dos materiais utilizados e até mesmo quem os construiu. Por outro lado, os monumentos são também importantes fontes de pesquisa para o estudo das pedras, pois representam exemplos concretos da erosão e da ação do tempo sobre os materiais. “Podemos simular diversas situações no laboratório, mas os monumentos estão lá expostos há 200, 300 anos”, explica.

O autor conta que, nesse livro, preferiu concentrar-se em Minas Gerais devido à disponibilidade de material para análise. Segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), são 3.535 bens tombados no estado, o maior número em todo o país. “A maior parte da atividade mineradora dos séculos XVIII e XIX se concentrou em Minas, daí a grande quantidade de patrimônios culturais”, afirma Costa. A facilidade de encontrar matéria-prima para construção de igrejas, casas, estátuas e outros monumentos também foi fator importante no desenvolvimento cultural da região. Porém, o autor explica que, na época, não havia uma seleção qualificada de materiais e que, por isso, muitos monumentos não se encontram plenamente preservados. “As pedras mais utilizadas eram o quartzito e a pedra-sabão, um substituto local para o calcário, muito utilizado na Europa oitocentista”, afirma o pesquisador.

Memória

Antônio Gilberto Costa explica que buscou atingir um público diversificado, por isso optou por uma linguagem menos acadêmica. Fruto de extensa pesquisa, a obra contém imagens de patrimônios históricos espalhados por Minas Gerais, como os profetas em Congonhas e as igrejas e capelas de Ouro Preto. Analisando o material utilizado em cada obra, o autor consegue apontar traços da arquitetura do período e singularidades do cotidiano da época.

Outro propósito do livro é chamar a atenção para a necessidade de preservação do patrimônio histórico. Em toda a obra, o autor ressalta a importância de manter bem cuidados esses registros de uma época, pois eles “fazem parte da nossa memória”. Segundo Antônio Gilberto Costa, não há como impedir a alteração da rocha com o passar do tempo, mas é possível preservá-la para que continue sendo importante fonte de pesquisa e registro histórico.

Livro: Rochas e histórias do patrimônio cultural do Brasil e de Minas
Autor: Antônio Gilberto Costa
Editora: Bem-Te-Vi
292 páginas

Diálogo disciplinar

Um das características marcantes do processo de produção do livro Rochas e histórias do patrimônio cultural do Brasil e de Minas é o envolvimento entre diversas áreas do conhecimento, como Geologia, História, Arquitetura, Belas-Artes e Engenharia. O autor, que já recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti com as obras Caminhos do ouro e a Estrada Real (2006) e Roteiro prático de cartografia: da América portuguesa ao Brasil império (2008), conta que é impossível se restringir a apenas um olhar quando se trabalha com a análise de monumentos históricos. “Todos os saberes estão ligados sob uma perspectiva interdisciplinar. Ao promover o diálogo entre eles, conseguimos compreender melhor o nosso patrimônio cultural”, afirma Costa.