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Nº 1682 - Ano 36
8.2.2010

Solidez cooperada

Com 13 anos de operação, Nossacoop atrai associados com crédito barato, aplicações rentáveis e distribuição de lucros

Ana Rita Araújo

Nascida a partir das discussões do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Finanças da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), a Cooperativa de Crédito Mútuo dos Servidores da UFMG (Nossacoop) há muito ultrapassou os limites acadêmicos e hoje ocupa lugar de destaque na economia de Minas Gerais. Por sugestão do Banco Central, recentemente incorporou ao seu patrimônio entidade similar que reunia servidores do Ministério do Trabalho e, segundo seu diretor presidente, professor Alfredo Melo, transações como essa têm se tornado comuns na trajetória da Nossacoop.

Criada no final de 1996 por um grupo de 30 servidores da Universidade, a Nossacoop reúne quase sete mil cooperados de diversas instituições de ensino superior, pesquisa científica e tecnológica de Minas Gerais. “As cooperativas desempenham papel cada vez mais relevante no desenvolvimento da atividade econômica do país”, afirma Melo, professor aposentado do Departamento de Ciências Administrativas da Face.

O capital inicial da Nossacoop foi de R$ 650. “Começamos em uma pequena sala cedida pela diretoria da Face, na rua Curitiba”, comenta o presidente, ao relembrar os primórdios da entidade numa época em que servidores da UFMG recorriam com frequência a agiotas para fazer empréstimos. “Era uma situação preocupante, que nos levou a organizar uma cooperativa de crédito local”, conta. Atualmente, a entidade, que funciona em uma loja na Praça de Serviços, contabiliza lucro anual de aproximadamente R$ 1,5 milhão, mesmo operando com taxas menores que as dos bancos.

Com a aprovação do Banco Central, a Nossacoop passou por pelo menos duas grandes transformações ao longo de sua história. A primeira, ainda no início de suas atividades, foi sua abertura para receber cooperados de todas as instituições de ensino superior da Região Metropolitana de Belo Horizonte e, posteriormente, de mais algumas cidades mineiras. Nova fase de crescimento teve início em 2005, quando passou a incorporar outras cooperativas. “Isso é importante porque cria escala operacional. Por ser uma entidade capitalizada, a Nossacoop pode oferecer empréstimos a um número maior de pessoas, que se sentem seguras ao participar de uma estrutura financeira e administrativamente sólida”, explica Melo, citando ainda como estímulo à adesão o fato de o cooperado participar da gestão, diferentemente do que ocorre nas instituições bancárias.

Já o professor André Klein, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, integrante do Conselho de Ética da entidade, aponta como vantagens a oferta de crédito barato, juros de cheque especial muito abaixo dos de mercado, aplicações financeiras de boa rentabilidade, ausência da cobrança mensal de manutenção das contas e divisão anual de sobras líquidas entre seus associados.

De acordo com Alfredo Melo, outro aspecto atrativo é a possibilidade de constituição de patrimônio pessoal. “Parte dos lucros anuais é distribuída na cota de capital do cooperado que, após 15 anos de filiação, pode sacar mensalmente até 2% do valor total. Isso funciona como previdência privada”, explica. A Nossacoop também oferece aos associados cursos e palestras sobre planejamento financeiro-familiar. “Nos diversos países onde essas organizações atuam, elas são rigorosamente fiscalizadas e acompanhadas pelos órgãos competentes; no Brasil, cabe ao Banco Central o acompanhamento e a aprovação anual dos balancetes e operações efetuadas por cada uma das cooperativas de crédito”, ressalta Klein.

Princípios

O cooperativismo de crédito no Brasil é formado por cerca de 1,1 mil instituições que congregam 2,8 milhões de cooperados, o que representa 2% do mercado nacional de intermediação financeira. Em Minas Gerais, são 192 cooperativas do ramo de crédito. Desse total, 78 integram a Rede Sicoob – a maior do Brasil – e 56 operam com conta corrrente. As cooperativas de crédito geram no Brasil mais de 37 mil postos de trabalho, sendo 4,8 mil em Minas Gerais.

Segundo André Klein, a primeira cooperativa surgiu na Inglaterra, em 1844, em plena Revolução Industrial, por iniciativa de artesãos. “Baseava-se em princípios que incluíam a formação de capital social, aquisição comum de alimentos e construção de casas para os trabalhadores, resistindo assim ao impacto da ordem econômica imposta pela produção industrial”, comenta.

Ele explica que o princípio elementar do cooperativismo é o da reunião autônoma e voluntária de pessoas para atender a necessidades comuns, “por meio de uma associação própria e de uma empresa controlada democraticamente”. Outros sete princípios orientam o cooperativismo: adesão livre e voluntária; controle democrático pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas; preocupação com a comunidade. “Pode-se dizer ainda que a essência do cooperativismo confunde-se com a própria história da humanidade, como revelam a caça em grupo, as reuniões para a partilha da carne e a confecção de vestimentas. Nosso DNA parece ser cooperativista”, compara Klein.