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Nº 1695 - Ano 36
17.5.2010

Muito além da economia mineira

Seminário de Diamantina reunirá centenas de intelectuais brasileiros e estrangeiros

Ana Maria Vieira

De 24 a 28 deste mês, Diamantina recebe a décima quarta edição do Seminário sobre Economia Mineira. Pelo menos três centenas de participantes de todo o país – e estrangeiros – devem desembarcar na cidade para expor e discutir questões que, na realidade, vão além da economia e do contexto mineiro. Haja vista o debate previsto com convidados como Francisco de Oliveira, da USP, que vão se debruçar sobre temas polêmicos como O eclipse da política. Ou a proposta do pesquisador lisboeta José Luís Cardoso de repensar os 80 anos da influente École d’Annales na historiografia contemporânea.

Temas estritamente econômicos têm, por sua vez, espaço especial e vão atrair à cidade do interior mineiro intelectuais ingleses e norte-americanos, interessados em destrinchar os impactos da crise financeira que ainda assombra os mercados mundiais. João Furtado, da USP, também aportará em Diamantina, para diálogo em torno de um suposto adeus ao capitalismo dependente.

Já pesquisas interdisciplinares poderão ser acompanhadas em diversas mesas-redondas sobre, por exemplo, a economia das mudanças climáticas no Brasil. As repercussões vão desde os desafios de planejamento urbano demandados pelas novas condições ambientais até a avaliação dos efeitos da taxação de carbono no mercado nacional. Também não faltarão apresentações de monografias variadas sobre história mineira e questões atuais da demografia, além de visões críticas em torno das contas públicas, como indica o tema da exposição de Fabrício de Oliveira, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes): Contabilidade criativa: como chegar ao paraíso, cometendo pecados contábeis – o caso do governo do estado de Minas Gerais.

Junto a essa programação acadêmica, que diariamente começa às 9h e fecha por volta das 20h com apresentação de pôsteres e cerca de 120 monografias, o evento promoverá lançamento de livros e apresentações do Grupo Galpão e da Vesperata, com músicos diamantinenses. As atividades podem ser conhecidas no site do Cedeplar.


"A cultura nos singulariza"

Fotos Foca Lisboa
João Antônio: diálogo com realidade regional e internacional

Em entrevista ao BOLETIM, o pró-reitor de Extensão, João Antônio de Paula, coordenador da comissão organizadora do 14° Seminário e professor da UFMG, refletiu sobre as dimensões alcançadas pelo evento, promovido pelo Cedeplar/Face.

O senhor poderia relembrar um pouco a história do seminário?

O seminário era, inicialmente, voltado para a economia mineira, mas, ao longo do tempo ampliamos as temáticas, dando mais ênfase à demografia e à questão das políticas públicas. Mas, desde o primeiro evento, houve grande atenção à dimensão cultural. Hoje eu diria que ela é tão central quanto as outras. Temos sempre uma exposição, que congrega o seminário, e que este ano será dedicada a quatro poetas mineiros, relativamente conhecidos, mas que ainda não têm o destaque merecido: Alphonsus Guimaraes, poeta simbolista; Dantas Mota, autor muito interessante e que hoje em dia não é muito lido; Emílio Moura, que foi professor, diretor da Face e poeta integrante da geração modernista, mas com uma dicção muito particular, clássica e lírica, e o quarto deles, que é outro grande poeta e está vivo, Afonso Ávila.

Após tantos anos, que face o evento apresenta?

É um seminário cada vez mais interdisciplinar, como as temáticas mostram, e um evento que deixou de ser apenas mineiro. Teremos convidados de vários lugares do Brasil – Rio, São Paulo, Distrito Federal, Paraná e outros – e convidados estrangeiros. Os debates continuam a ter um centro, Minas, mas os temas dialogam com a realidade regional e internacional.

O ano eleitoral reforça a dimensão política – não exatamente partidária – do seminário, considerando que ele reúne pessoas que estão pensando a realidade e os rumos do país?

Há alguns anos trabalhávamos com espécie de balanço da década e com as perspectivas da outra que começava. Era o momento de fazer acertos de conta com a política – o que a política mineira ou brasileira contribuiu ou não para o desenvolvimento regional? Isso sempre aparece, e em época de eleição mais ainda. Até porque as pessoas estão mais ávidas e dispostas a discutir temas políticos.

Por que misturar cultura e economia?

Senti há algum tempo a necessidade de fazer da questão cultural um momento importante do evento, que chamasse a atenção dos economistas, público principal do seminário, para as visões propiciadas pela cultura e necessidade de a economia e as ciências sociais dialogarem com ela. Temos esse compromisso permanente com a cultura, que reflete a história de nossa casa, a Face. Emílio Moura, poeta, deu aula na Faculdade durante toda a sua vida. Isso não é trivial, mas ele não foi o único e posso citar o escritor Fábio Lucas e o historiador Francisco Iglesias, também professores da instituição, além de ex-alunos ligados ao cinema e teatro – Chico Pelusio, do grupo Galpão; Rafael Conde e Helvécio Ratton, cineastas. Essas circunstâncias nos singularizam, pois a Face é dedicada ao ensino das tecnicalidades da economia, mas, sem abrir mão da qualidade e da excelência, tem essa faceta mais cultural, filosófica e crítica.