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Nº 1702 - Ano 36
5.7.2010

Caminhos da sétima arte

Os rumos e as possibilidades do cinema formam o eixo temático do 42° Festival de Inverno da UFMG, em uma perspectiva transdisciplinar

Vicente Cardoso Jr.

Foca Lisboa
Sertão
Projeto especial pretende trabalhar aspectos da profissionalização dos músicos de Diamantina

Em um cotidiano em que as imagens diversas saturam o olhar, o cinema faz de sons, palavras, gestos e formas sua matéria-prima. Para refletir sobre a expressão artística audiovisual, o 42º Festival de Inverno da UFMG, a ser realizado de 20 a 29 de julho, em Diamantina, apresenta como tema Projeções – capturas e processos, a partir do qual serão discutidas possibilidades e caminhos para a produção cinematográfica contemporânea.

O Festival de Inverno da UFMG tem a proposta de refletir sobre a arte contemporânea a partir de olhar transdisciplinar. Segundo Fabrício Fernandino, curador do Festival, o cinema é uma forma de expressão em que essa abordagem aparece com bastante clareza. “Temos a música, na trilha sonora; a literatura, no roteiro; as artes cênicas, na atuação; as artes plásticas, na fotografia. As diferentes manifestações artísticas, a partir de sua especificidade, são acionadas na produção audiovisual”, explica.

Oficinas, palestras, apresentações, seminários e projetos especiais com a comunidade compõem a programação, construída a partir da proposta de aprofundar o debate sobre a arte contemporânea. “O Festival busca uma reflexão com densidade acadêmica, capaz de pensar a arte sem disciplinas formais. Tentamos promover um novo paradigma, um olhar intermidiático e de convergência entre as artes”, afirma Fabrício.

Oficinas das cinco áreas do Festival (artes plásticas, audiovisual, literatura, música e teatro) trabalharão em conjunto na produção de um filme. Com exibição marcada para o último dia da programação, a obra será inteiramente realizada durante os nove dias de Festival.

A única definição prévia é a temática: os quatro elementos básicos da natureza no pensamento de Platão – terra, água, fogo e ar – e sua relação com a natureza e a cultura de Diamantina. “Temos como ponto de partida essa ambiência e os quatro elementos, mas toda a produção será um exercício de experimentação, um laboratório de cinema rápido”, afirma o cineasta Fábio Carvalho, que dirigirá a obra.

Segundo ele, a dinâmica de trabalho permitirá que todas as equipes participem das diferentes etapas. “Propomos uma produção nada burocrática. O roteiro não precisa ser algo de ferro, que vá engessar as etapas seguintes”, defende. Para o diretor, o filme deve ser encarado como um organismo vivo, que passa por evolução própria. “Nada sai totalmente como o planejado, então devemos aceitar surpresas que a obra nos coloca”, afirma.

Retorno para os anfitriões

Para deixar frutos na cidade que recebe o Festival, a organização elabora projetos especiais em parceria com a Secretaria de Cultura de Diamantina. Este ano, as atividades serão desenvolvidas especialmente na área de música, com conteúdo definido a partir de reuniões com os artistas da cidade. “Sentimos necessidade de profissionalização dos músicos, que podem ser talentosos, mas muitas vezes têm dificuldades para se posicionar no palco ou identificar e criar oportunidades de mercado”, afirma o professor da Escola de Música Mauro Rodrigues, coordenador da área no Festival.

Para atender às demandas identificadas, foram propostas oficinas de orquestra para regente e instrumentista, produção de fonograma em estúdio, atitudes e postura no palco, promoção e valorização da seresta e empreendedorismo cultural. O último tema também será trabalhado em seminário, no qual músicos e gestores culturais falarão sobre organização da classe profissional e oportunidades de mercado.

Outro projeto especial em parceria com a Prefeitura é a oficina de iniciação em circo para o público infantil, que já fez parte da programação de festivais anteriores. Desenvolvida em duas turmas, conforme a faixa etária, a atividade tem como objetivo estimular novas possibilidades de expressão e comunicação, contribuindo para o desenvolvimento cultural, afetivo e social da criança.

Arte política

Para aprofundar as discussões sobre a arte contemporânea, foram convidadas cinco personalidades do cenário artístico brasileiro. No dia 24 de julho, o professor da USP Agnaldo Farias, cocurador da Bienal de São Paulo, falará sobre o processo curatorial da mostra e apresentará, em projeção, algumas obras selecionadas. “Escolhemos a arte política como tema, portanto queremos realizar, mais que uma exposição, um espaço de encontro, de troca de diferenças entre as pessoas”, comenta Agnaldo.

No dia 26, o Festival promoverá o encontro entre o documentarista Eduardo Coutinho e o ator Paulo José, no qual falarão sobre cinema, teatro e televisão. O cineasta acredita que, a partir da trajetória de cada um deles, o debate sobre a atuação pode ser frutífero. “A conversa filmada, com que eu trabalho, é sempre teatral. A longa experiência do Paulo como ator e diretor gera um cenário de discussão interessante para nós”, avalia Coutinho.

A programação de eventos especiais será completada com performance poética do artista Arnaldo Antunes, no dia 25, e com apresentação do músico Naná Vasconcelos, no dia 28.