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Nº 1712 - Ano 37
27.9.2010

“Queremos INFLUENCIAR”

Ana Rita Araújo

Ao final de sua primeira década de existência, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) começa a implantar mudanças que apontam para o futuro. A experiência bem-sucedida das cátedras, que trazem à UFMG pesquisadores de renome internacional, será reformulada para ampliar o prazo de convivência de alunos e professores com os convidados do exterior.

Foto: Alice Dacar
Loureiro: Encontros Transdisciplinares como atividades curriculares

“Não queremos apenas ver ou sermos vistos; queremos influenciar”, diz o diretor Maurício Loureiro, indicando, na entrevista abaixo, o rumo que o Instituto pretende seguir.

Atuar de forma transdisciplinar é fundamental para a ciência moderna?

Como afirma o físico romeno Basarab Nicolescu, se não formos transdisciplinares o mundo vai acabar, nossa própria existência corre perigo, porque a cada aprofundamento que fazemos nas nossas buscas, nos distanciamos do outro e assim deixamos de ver o mundo como um todo. Nicolescu critica fortemente o processo de fragmentação do conhecimento, e sugere abordagens alicerçadas na compreensão das múltiplas dimensões da realidade.

Em dez anos de Ieat, já é possível sentir a influência da transdisciplinaridade na Universidade?

Penso que sim, mas é difícil identificar até onde vai a contribuição do Ieat e até que ponto isso acontece como mudança de mentalidade de uma instituição como a nossa, uma universidade de excelência que vem revelando sua vocação transdisciplinar. De qualquer forma, a UFMG tomaria esse rumo, por isso é difícil identificar a “culpa” do Ieat nesse processo. Por outro lado, meu próprio trabalho é fruto da transdisciplinaridade proposta pelo Ieat. Em 2007, fui anfitrião de uma cátedra, que trouxe o pesquisador em musicologia sistemática Marc Leman, da Universidade de Ghent (Bélgica), e certamente incorporei ainda mais a transdisciplinaridade ao meu trajeto acadêmico.

Qual o papel das cátedras nesse processo?

O programa de cátedras tem por objetivo abrigar, por um período, pesquisadores de excelência, para desenvolver suas atividades na UFMG. Acredito que foi a opção certa para o Ieat nos seus primeiros dez anos. Por intermédio delas, nossos pesquisadores conheceram pessoas de fora, mas também se conheceram aqui dentro. Ou seja, a missão das cátedras foi cumprida. Agora teremos algumas alterações – não apenas nas cátedras – em função do seminário interno Prospectando o Ieat, que avaliou essa primeira década do Instituto e propôs novos caminhos para os próximos dez anos.

Que caminhos foram traçados?

O que o Ieat procura agora não é tanto a visibilidade – não queremos apenas ver ou sermos vistos, queremos influenciar. A prioridade hoje é penetrar na Universidade, e uma das maneiras mais concretas é produzir resultados. Em vez de manter um catedrático na Universidade por um mês, pretendemos promover visitas internacionais de uma ou duas semanas, mas, ao mesmo tempo, estabelecer um programa de cátedra-residência, em que o pesquisador estrangeiro fique aqui por um período de até três meses. Com isso, ele vai ao laboratório para interagir não apenas com os docentes, mas também com o aluno de iniciação científica, de mestrado e de doutorado. Além das cátedras, são programas de excelência do Ieat os Encontros Transdisciplinares, que também devem sofrer alterações. Também há nova proposta para laboratórios.

O que muda nesses encontros?

Os Encontros Transdisciplinares procurarão sempre contar com a participação de um pesquisador externo, brasileiro ou estrangeiro, que vai interagir com a audiência a partir de debates com pesquisadores da UFMG. Queremos que, a partir de 2011, os Encontros, juntamente com as conferências vinculadas às Cátedras, sejam ofertadas como atividades curriculares para a graduação ou pós-graduação. A iniciativa é importante por conectar o Ieat à formação acadêmica nos diferentes níveis. Outra inovação – ainda em estudo – é a criação de um programa de pós-graduação em nível de mestrado que possa captar essa riquíssima capacidade transitória dos catedráticos residentes. Esse mestrado não teria linha de pesquisa definida, adotaria algo nos moldes do programa de mestrado da Universidade de Columbia (EUA), focado na “pesquisa recentemente possível”.

E o que são os laboratórios a que o senhor fez referência?

Eles reunirão diferentes grupos de pesquisa em torno de seis grandes temas: movimento humano; as novas biotecnologias e fronteiras do humano; água, recursos minerais e sustentabilidade; a questão do tempo e as várias temporalidades; espaço e cultura contemporânea; e divulgação científica e novas mídias. Acredito que chegaremos ao final do ano com, pelo menos, três desses laboratórios formalizados. O Centro de Estudos do Movimento, Expressão e Comportamento Humano (Cemech), que agrega trabalhos de pesquisadores da Música, Engenharia Elétrica, Educação, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e das Ciências do Esporte, Ciência da Computação e Belas-Artes e Linguística, é o laboratório em estágio mais avançado de consolidação.

O laboratório Tempo vai envolver a memória em seu sentido amplo – histórica e do patrimônio – , e o tempo em todas as suas dimensões: o político, o musical, o cósmico, o infinitesimal, o químico. Já o laboratório Ética e Biotecnologia abordará problemas éticos que aparecem com o novo ser humano que se prospecta com os avanços do genoma, mas também o próprio ser humano já modificado. Do mesmo modo, o grupo Espaço terá como focos o espaço urbano, o ecológico, o espaço do planeta e o da nação.