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Nº 1732 - Ano 37
04.04.2011


MEDICINA aos olhos da HISTÓRIA

Livro resgata trajetória da “arte de restituir a saúde” e mostra
contexto de criação da Faculdade de Medicina da UFMG

Itamar Rigueira Jr.

Em 1911, a então jovem Belo Horizonte era habitada por “37 mil almas (...) e ainda perseguia o ideal de uma grande capital, moderna e civilizada”. Em agosto daquele ano, ocorrera o primeiro atropelamento por automóvel em suas ruas – entre a Avenida Afonso Pena e a Rua dos Tamoios. Informações como essas são apenas aperitivo do panorama histórico que contextualiza a criação da Faculdade de Medicina da UFMG e que compõe um dos capítulos do livro Medicina – história em exame, lançado este mês para comemorar o centenário da Instituição.

Manuscrito
Imagem de esqueleto humano extraída de uma publicação de 1418

Antes de descrever a cidade que acolheu a escola, a obra conta a história da medicina na época moderna e, particularmente, no império marítimo português, em capítulos assinados pela professora Júnia Ferreira Furtado, da Fafich. O esforço, mais uma vez, foi o de contextualização, “apresentando o processo de institucionalização do ensino médico desde a Europa, em especial em Portugal, até o que se faz hoje na formação de médicos na UFMG”, segundo a introdução do livro, organizado por Heloisa Starling, Ligia Germano e Rita de Cássia Marques.

De acordo com Rita Marques, o livro segue a linha das obras que celebraram os centenários das faculdades de Farmácia e Odontologia, também elaborados pelo Projeto República, da UFMG. “Era fundamental revelar, sob o ponto de vista histórico, como se formaram os médicos que chegaram ao Brasil até o século 19 e que cidade recebeu a escola. Ao contrário da aura de cidade salubre que envolvia Belo Horizonte, escolhida em oposição a Ouro Preto, ela era igual a qualquer outra, com problemas de saúde a serem resolvidos”, lembra Rita Marques, que leciona história da saúde e da alimentação na Escola de Enfermagem.

Verbetes

A pesquisadora destaca que em pouco tempo após a fundação de Belo Horizonte, a faculdade já se fazia muito necessária. Seu trabalho revela, entre outros aspectos, como se deu a criação da escola, as pessoas que se movimentaram nesse sentido, a importância dos hospitais e ambulatórios para o desenvolvimento do ensino e a forma como ela se abriu para fora de seus muros.

O Projeto Manuelzão, que trabalha pela recuperação da bacia do Rio das Velhas, é um dos temas abordados pelos verbetes do livro. Composta de textos curtos, de autoria de especialistas, entre médicos e historiadores, a seção pretende “jogar luz sobre a vida da Faculdade”, de acordo com Lígia Germano. “Foi uma solução atrativa que oferece um panorama das atividades dos médicos e da Faculdade, abordando do Internato Rural à utilização de cadáveres para o ensino, passando pelas mudanças curriculares”, explica a pesquisadora do Projeto República. Os verbetes abordam ainda, entre outros temas, o movimento estudantil na Faculdade e personagens como Pedro Nava, Guimarães Rosa e Juscelino Kubitschek.

Medicina – história em exame não tem a pretensão de esgotar o assunto. Como destaca Rita Marques, há diversas outras possibilidades de se abordar a história da profissão, dos médicos e da quarta escola de Medicina criada no Brasil. O que parece fundamental é que essa história continue.

"A cidade criou uma faculdade que atendeu plenamente às expectativas projetadas por seus fundadores e as superou", afirmam as organizadoras em sua apresentação. "A Faculdade (...) incentivou a criação de vários hospitais, fomentou a criação e o desenvolvimento de centros de pesquisas, esteve à frente de movimentos políticos, ajudou a salvar vidas e a melhorar a saúde dos cidadãos não só de Belo Horizonte, mas de outros centros próximos ou distantes."

Livro: Medicina: história em exame
Organizadoras: Heloisa Maria Murgel Starling, Lígia Beatriz de Paula Germano e Rita de Cássia Marques
Editora UFMG e Projeto República
235 páginas / R$ 80