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Nº 1738 - Ano 37
16.05.2011


Um educador SUPERLATIVO

Itamar Rigueira Jr.

Foca Lisboa
Mortimer: homenagem por livro publicado na Suécia, ainda sem tradução no Brasil

O professor Eduardo Mortimer, da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, tem dois livros em produção – um deles trata das transições que ocorrem em sala de aula entre o diálogo de professor e alunos e o discurso de autoridade que caracteriza o ensino de ciências nos ciclos fundamental e médio. E ele acaba de ganhar uma dose extra de motivação para esse projeto: uma homenagem do Departamento de Educação em Ciências e Matemática da Universidade de Estocolmo, pela influência naquele país das ideias contidas no livro Meaning making in secondary science classroom, de 2003 – exatamente a obra para a qual ele e o coautor Phill Scott, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, estão produzindo a sequência.

O volume que inspirou o prêmio na Suécia – e por alguma razão insondável não chegou a ganhar edição brasileira – foi produzido para a pós-graduação, mas exerceu grande atração sobre os professores de ciências, porque, ao mesmo tempo em que analisa aulas, contém também princípios de planejamento. “Estudamos a atuação de um professor brasileiro e outro inglês, e valorizamos as melhores práticas”, revela Mortimer, cuja produção é respeitada também em países como França, Espanha e Inglaterra.

No Brasil, o pesquisador da UFMG tem admiradores como Marcelo Giordan, da USP. “Seus estudos sobre interação discursiva na sala de aula têm influenciado programas de pesquisa em áreas diversas”, depõe Giordan, que destaca também a intensa e constante atuação de Mortimer em fóruns de discussão e sociedades científicas. Para Samira Zaidan, atual diretora da FaE, “chama atenção o cuidado de Mortimer com a formação prática do aluno, além de seu compromisso com a articulação entre ensino superior e médio”.

Desde cedo

Frequentador da UFMG desde os 11 anos de idade, quando ingressou no então Colégio de Aplicação (hoje Centro Pedagógico), Eduardo Mortimer fez o curso de química no Colégio Técnico (Coltec) – uma “experiência maravilhosa” – e resolveu enveredar pela educação, como foco nessa disciplina. “Só tive excelentes professores na FaE e dediquei toda a minha carreira a formar para o ensino médio e fundamental, mas recentemente passei a investigar o ensino superior”, ele afirma.

O caminho para o reconhecimento internacional começou a ser traçado no início da década de 90, com uma bolsa-sanduíche em Leeds e os primeiros artigos publicados. Pós-doutorados em Saint Louis (EUA) e Lyon (França) ajudaram a abrir novos horizontes.

Mas o prêmio na Suécia não muda a convicção do professor de que sua contribuição mais significativa foi o livro didático Química, escrito há nove anos com Andréa Horta Machado. Ainda mais que a obra foi escolhida pela versão 2011 do Programa Nacional de Livro Didático, o que exigiu sua ampliação e atualização. “Considero o impacto desse livro maior, porque foi direto sobre os alunos”, diz ele, ao justificar a preferência. “Testada e aprimorada durante anos em que era apenas uma apostila, a obra tem seus capítulos abertos com experimentos e estimula os jovens à investigação e à construção do conceito científico”, complementa.

O trabalho com os livros novos e artigos se soma às aulas e orientações – foram quase três dezenas, para alunos de todo o Brasil –, além da coordenação temporária da pós-graduação na FaE. Mas o ritmo já foi mais forte. Em 2008 ele sofreu um AVC e voltou mais prudente. Tem pensado mesmo na aposentadoria – não para viver no ócio, mas para se dedicar a atividades voluntárias na Faculdade e, claro, escrever. Haverá tempo também para a mulher e os dois filhos, que ele tem por perto em anexos à casa instalada em terreno amplo no bairro Castelo, em Belo Horizonte. Por último, mas não menos importante, o violão e a guitarra: ele recuperou antiga parceria com Marcos Pimenta, professor do ICEx, e voltaram a tocar, agora incluindo os filhos de ambos.

Alto e sorridente – o que dá pleno sentido ao apelido Duzão –, Mortimer esbanja entusiasmo com todos os projetos, como o de outro livro, sobre a exploração de conceitos simples do cotidiano para o ensino e o aprendizado da ciência. A homenagem na Suécia foi importante, mas passou. Para ele, importa mais o que ainda está por vir, e o que há por fazer.