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Nº 1755 - Ano 38
31.10.2011

LIXO bem RESOLVIDO

Escola de Veterinária controla da coleta à destinação final de seus resíduos, minimizando riscos para as pessoas e o meio ambiente

Itamar Rigueira Jr.

São 23 toneladas de resíduos que oferecem algum tipo de risco, mais 11 toneladas de lixo comum, incluído o reciclável. Esse é o movimento mensal na Escola de Veterinária da UFMG, que há oito anos trabalha mais sistematicamente para minimizar riscos e conta com o comprometimento crescente da comunidade de pesquisadores, servidores e alunos.

O trabalho inclui distribuição de material (sacos, contêineres para resíduos biológicos e químicos, caixas para perfurocortantes etc.), classificação e quantificação dos resíduos, armazenamento interno e externo, aplicação de sinalização de risco e, sobretudo, esforço diário de orientação das pessoas. “Envio ofícios e e-mails, faço reuniões e estou sempre esclarecendo dúvidas e acompanhando de perto os procedimentos”, conta Monica Campolina Stehling, coordenadora da Gerência de Resíduos e Higienização da Escola de Veterinária.

A gerência foi implantada em 2003, embora só tenha sido incorporada ao organograma da unidade no ano passado. Monica Stehling coordena também a equipe de limpeza, terceirizada. Segundo ela, a Veterinária é a única que funciona dessa forma. São 23 serventes, treinados pela empresa contratada para atuação em áreas insalubres e monitorados por Monica, enfermeira sanitarista e mestre em epidemiologia pela própria Escola.

O plano de gerenciamento de resíduos segue normas legais definidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e Prefeitura de Belo Horizonte. A legislação municipal, atualizada em 2007, rege os procedimentos nos ambientes interno e externo ao estabelecimento.

Animais inoculados

O gerenciamento de resíduos na Escola lida com material químico (grupo B) – considerado tóxico e perigoso – e que é reenvasado nos laboratórios e então incinerado; perfurocortante (grupo E), embalado em caixas apropriadas; e biológico (grupo A), dividido em cinco subgrupos. Culturas de micro-organismos (A1) recebem tratamento (autoclavação) para redução de carga microbiana antes do descarte final.

Resíduos de assistência (A4), infectantes, são depositados em sacos plásticos devidamente identificados e em lixeiras com tampo e pedal. São levados ao abrigo localizado na área externa da Escola, onde são guardados em contêineres de resíduos infectantes, e depois transportados para aterros sanitários pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), mediante taxa especial.

Uma unidade como a Escola de Veterinária tem característica muito específica. É preciso descartar apropriadamente carcaças de animais (A2), desde camundongos até equinos e bovinos. Os corpos, que muitas vezes foram inoculados com micro-organismos para fins de pesquisa, deveriam também passar pelo tratamento (autoclavação, incineração) antes da disposição final. “Não há, entretanto, em Belo Horizonte, empresas com aparelhagem para incineração de animais de médio e grande portes. A lei exige o procedimento, mas não há como cumpri-la”, afirma Monica Stehling.

Mônica Stehling integra também o Comitê de Ética no Uso de Animais (Ceua) da UFMG. Questões relacionadas ao tratamento de resíduos foram incorporadas aos protocolos elaborados pelo Comitê, o que contribui para que os pesquisadores participem mais ativamente do gerenciamento. “Lidar de forma correta com os resíduos em um hospital veterinário é uma questão de ética. E lesar o meio ambiente é definido como crime pelo Código Penal”, alerta a coordenadora.

Desconhecimento e consciência

A atuação de Monica Campolina Stehling no campo dos resíduos hospitalares tem lastro acadêmico. No doutorado, que cursa na Escola de Veterinária, ela investiga os acidentes e seus efeitos na comunidade de laboratórios de ensino e pesquisa na UFMG. Durante o mestrado, concluído em 2009, ela pesquisou sobre o conhecimento e a prática com relação aos resíduos biológicos e perfurocortantes no Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Entrevistas com mais de 270 alunos de graduação e pós-graduação, docentes e técnicos revelaram que 91% deles desconheciam as bases da biossegurança (classificação de resíduos, simbologia, cor de embalagens, papel das agências reguladoras). Por outro lado, a grande maioria dos entrevistados demonstrou compreensão do risco a que a comunidade se expunha e consciência do próprio despreparo.

“Quase todas as pessoas envolvidas se disseram a favor de que o tema fosse tratado no ICB para o ciclo básico de todos os cursos da área da saúde e biológicas, e hoje pelo menos duas disciplinas contemplam questões da biossegurança”, afirma Monica. Ela acrescenta que há poucas fontes bibliográficas sobre gerenciamento de resíduos, principalmente em instituições de ensino e pesquisa, e que a transmissão de doenças diretamente ligadas ao lixo é rara desde que o gerenciamento dos resíduos seja feito de forma adequada.