Busca no site da UFMG

Nº 1765 - Ano 38
5.3.2012

À PROVA de TRINCAS

Pesquisadores da UFMG e da PUC-RJ desenvolvem eletrodo de alta qualidade para soldagem subaquática

Ana Rita Araújo

Eletrodos com formulação inédita que aumenta a qualidade da solda usada em ambientes subaquáticos estão disponíveis no mercado. Desenvolvido por pesquisadores da UFMG e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o material permite que a solda absorva baixo teor de hidrogênio, o que reduz a formação de trincas. Financiada pela Petrobras, a tecnologia foi transferida para a empresa Esab.

Segundo o professor Alexandre Bracarense, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, o crescente investimento em plataformas marinhas de exploração e produção de petróleo tem impulsionado a demanda por soluções para manutenção de dutos e equipamentos instalados em até 20 metros de profundidade. “As antigas estruturas também vão envelhecendo, o que leva a uma série de problemas que exigem reparos, como fadiga e corrosão dos materiais”, acrescenta o professor Valter Rocha dos Santos, do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, ao ressaltar as vantagens da técnica de soldagem direta na água – ou molhada – se comparada ao reparo a seco que utiliza câmaras hiperbáricas, compartimentos selados que envolvem a região a ser reparada. “Além da rapidez e da fácil acessibilidade, o custo é bem menor”, diz.

Bracarense explica que, durante o processo de soldagem molhada, a água se decompõe. Enquanto o oxigênio pode formar poros e inclusões no material, o hidrogênio tende a gerar trincas. “A formulação que encontramos para os eletrodos aumenta a qualidade da solda e a possibilidade de ser classificada no nível A, considerado de melhor desempenho pelas sociedades classificadoras”, assegura o professor. Segundo ele, a equipe conseguiu produzir um eletrodo com baixa quantidade de hidrogênio absorvido pela solda.

O dispositivo alia desempenho e operacionalidade. “O eletrodo comercial, disponível no mercado, é fácil de usar. Nossa pesquisa, focalizada inicialmente na qualidade, retomou nos últimos anos a busca por esse atributo, por isso conseguimos também um alto índice de operacionalidade”, comenta Bracarense. Além da aplicação no mar, na produção de petróleo, a solda de alta qualidade é necessária para reparos em represas e portos.

O trabalho de parceria acontece com a produção da solda na UFMG e o envio do material para a PUC-Rio, onde as análises são feitas. “Aqui temos um vaso hiperbárico para simulação da soldagem subaquática que é único no mundo. Na PUC-Rio são realizados ensaios mecânicos e metalográficos”, conta Bracarense, ao lembrar que o eletrodo desenvolvido em conjunto pelas duas equipes não teve patente registrada conforme decisão tomada em conjunto por todos os participantes do projeto. “Com alguns testes, especialistas podem chegar muito próximo à formulação conseguida por nós. Não temos interesse em restringir a fabricação, até porque os recursos financeiros vieram da Petrobras, que repassou cerca de R$ 1 milhão só para a UFMG.”

Parte dos valores recebidos para realização do projeto tem sido investida na formação de pessoal e em aquisição de equipamentos para os laboratórios da área, que recebem estudantes de diversos cursos de engenharia, como Mecânica, Metalurgia, Eletrônica e Química. “O maior benefício da parceria para a UFMG é a formação de pessoal na graduação e na pós-graduação”, acrescenta o professor, ao destacar que até o momento cinco estudantes concluíram ou estão desenvolvendo dissertações de mestrado. “Além disso, os alunos envolvidos com esse tipo de pesquisa têm extrema facilidade de inserção no mercado de trabalho”, completa.

Dispositivo

Orientado por Bracarense, o engenheiro Weslley Carlos Dias da Silva defendeu na última segunda-feira, 27 de fevereiro, a dissertação Efeito da profundidade de soldagem difusível das soldas molhadas, que demonstra a funcionalidade de dispositivo – proposto pelo mesmo grupo de pesquisa – capaz de analisar a quantidade de hidrogênio absorvido pela solda. “Ele nos permite identificar o teor de hidrogênio presente em cada profundidade, de 20 a 50 metros”, informa o co-orientador do estudo, Ezequiel Caires Pereira Pessoa, pesquisador do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG. Ele informa que não há trabalhos similares ao de Weslley no Brasil. “Sabemos que há 20 anos houve um estudo nessa linha, no Japão”, diz.