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Nº 1777 - Ano 38
28.5.2012

Nas quatro estações

Festival de Verão se desdobra ao longo do ano com exposição, intervenção urbana e programa de rádio

Zirlene Lemos*

Junte pedaços de madeira, com recortes de espelhos, engrenagens e manivelas. Acrescente pitadas de tudo aquilo que sempre quis jogar fora, mas nunca teve coragem, como refugos de metal, tubos e peças de aparelhos eletrônicos, sucatas, fios e arames. Deixe descansar. Tempere com a curiosidade, mais um bocadinho de conhecimento em artes plásticas. Para finalizar, misture tudo com sensibilidade poética e musical. Dessa receita não tão exata surgem obras inusitadas, como um mosaico móvel, por vezes sonoro, que compõe a exposição Máquinas poéticas, esculturas cinéticas, aberta à visitação no Centro Cultural UFMG a partir desta sexta-feira, 1º de junho.

A exposição reúne 14 peças a partir de trabalhos realizados em fevereiro durante o 6º Festival de Verão da UFMG, em oficina de mesmo nome, juntamente com produções deste semestre de autoria dos alunos da disciplina Processo criativo e empreendedorismo, coordenada pelo professor Marcos Bortolus, da Escola de Engenharia da UFMG. “Os trabalhos se caracterizam por movimentar ou conter partes que se movem pela ação do vento, de um motor ou pela interferência de um observador, despertando outro olhar sobre os valores e relações mantidas com as máquinas”, explica Pierre Souza Fonseca, aluno da Escola de Belas-Artes (EBA) e um dos professores da oficina ao lado da artista plástica e professora Elisa Campos.

Segundo ela, foram produzidas aproximadamente três peças, em média, por participante, o que impressionou os professores, até mesmo em função do tempo, somente quatro dias de oficina. “Foi surpreendente, e o grupo, de formações variadas, esteve o tempo todo envolvido tanto com as questões práticas da realização de seus trabalhos como no desenvolvimento expressivo, poético e conceitual das peças que compõem a exposição”, destacou a professora.

A mostra integra série de ações do Festival de Verão programadas para ocorrer ao longo do ano, como explica Lúcia Castelo Branco, professora da Faculdade de Letras e coordenadora do evento. “O objetivo é mostrar que o Festival não faz apenas intervenções pontuais na vida da comunidade durante o carnaval, mas estabelece laços mais duradouros”, ressalta. Ela destaca ainda a necessidade de incorporá-lo no dia da dia da UFMG. “Cada vez mais o Festival ganha espaço na programação da cidade, sendo que os principais ganhos dizem respeito a uma integração maior das diversas áreas do saber da UFMG. Queremos avançar nesse sentido e integrá-lo ainda mais no cotidiano da instituição”, adiantou a professora.

Não previsível

Na perspectiva da integração de áreas, aspecto central na proposta do Festival, a abertura da exposição contará com uma intervenção “não previsível” dos alunos da oficina Práticas de não saber. Voltada para o público infantojuvenil, a oficina reinventou modos e práticas de relacionar e habitar a cidade, como relata Alice Ramos Silva, 10 anos. “Passamos 32 horas acampados no Centro Cultural. Criamos fantasias para desfilar no bloco de carnaval, fizemos instrumentos com materiais recicláveis, dormimos em sacos de dormir e chegamos a fazer um jantar com alimentos pedidos de porta em porta. Adorei a experiência e devo participar da intervenção-surpresa”, diz Alice.

O mistério é alimentado por Adriano Mattos Corrêa, professor da Escola de Arquitetura da UFMG e responsável pela intervenção de 1º de junho. “Não sabemos bem o que vai acontecer, mas convidamos as crianças que participaram, além do verdureiro, do açougueiro, do padeiro e de outras pessoas que conhecemos na rua, para uma espécie de piquenique no Centro Cultural, assim como aconteceu durante o período da oficina”, adiantou.

Os desdobramentos não param por aí: a Rádio UFMG Educativa estreou recentemente o programa Migalhas Literárias, fruto de duas oficinas realizadas nos festivais da UFMG: o de Inverno, que em julho promove sua 44ª edição, e o de Verão. No programa, os participantes costuram textos do autor preferido ou mais odiado. “A atividade tem como suporte o conceito de ‘grão da voz’, de Roland Barthes, que aborda a voz como extensão do próprio corpo, associado à ideia da voz como objeto de pulsão”, explica a professora Vânia Baeta, da Fale, uma das coordenadoras da atividade de extensão juntamente com a professora Lúcia Castello Branco. O programa vai ao ar de segunda a sexta, em dois horários: 14h30 e 20h.

Para o segundo semestre estão sendo propostas mais atividades, como o lançamento de blog que pretende registrar as atividades da edição de 2012 e funcionar como espaço de discussão das ideias propostas para 2013. Outra sugestão é a realização de jogo de futebol em algum espaço urbano. Coordenado pela Diretoria de Ação Cultural (DAC) da UFMG, o Festival de Verão conta com o patrocínio da Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte e Fundep.

*Jornalista da Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão

Exposição: Máquinas poéticas, esculturas cinéticas
Abertura: 1º de junho, às 20h. Em cartaz até 10 de junho
Local: Centro Cultural UFMG (avenida Santos Dumont, 174)