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Nº 1777 - Ano 38
28.5.2012

Corografia é a descrição de parte importante de um território

Minas antiga em versão digital

Álbum com mapas de um século atrás ganha versão para web que inclui estudos críticos

Itamar Rigueira Jr.

Mapa de São Gotardo: informações toponímicas
Mapa de São Gotardo: informações toponímicas

Um retrato da situação político-administrativa, das redes de comunicação e transporte e da valorização do patrimônio histórico e paisagístico de Minas Gerais do início do século 20 ganhou vida nova. O Álbum Chorographico Municipal do Estado de Minas Gerais 1927 teve seus mapas reproduzidos e foi enriquecido de estudos críticos para sua versão na web. Três pesquisadores da UFMG participaram do projeto.

Apenas 11 exemplares do álbum têm localização conhecida. Ele é composto de 178 pranchas que correspondem a cada um dos municípios do estado à época – e um índice atualizado faz a vinculação dos 853 municípios mineiros aos territórios de um século atrás. Maria Lucia Costa, uma das organizadoras do projeto, destaca a riqueza dos textos que compõem a versão digital. “Neles há matéria para pesquisas futuras visando, por exemplo, à recuperação cartográfica dos territórios inundados por hidrelétricas e à identificação do que era considerado patrimônio antes da instituição da política nacional de preservação, na década de 30”, afirma a historiadora, que herdou exemplar do Álbum Chorográfico de seu avô, Homero Costa.

Os mapas da publicação produzida pelo governo mineiro sob coordenação do estatístico Teixeira de Freitas “permitem a identificação de povoados e vilas, elementos diversos da geografia municipal, aspectos demográficos e elementos como escala e coordenadas, que propiciam a geração de medidas a partir de dados geográficos cartografados”, salienta a pesquisadora Marcia Duarte Santos, coordenadora do Centro de Extensão do Museu de História Natural e Jardim Botânico e de ações educativas do Centro de Referência em Cartografia Histórica da UFMG.

Em seu estudo, ela explica as aparências das pranchas do Álbum, relacionando-as ao plano de concepção da obra, a propriedades da cartografia e características geográficas dos municípios, por exemplo, justificando as diferentes escalas adotadas, as representações em folhas duplas, mais ou menos densas. “Os paradigmas das operações da cartografia no início do século 20 eram próximos aos atuais; a diferença maior está nos recursos tecnológicos de que dispomos hoje”, Marcia Santos, que destaca ainda o valor estético dos mapas, de projeto gráfico art nouveau e acompanhados de desenhos a bico de pena de acidentes geográficos e prédios históricos.

De acordo com o professor do Departamento de História da UFMG Amílcar Martins, o trabalho segue tradição de estudos corográficos na historiografia do século 19 e início do século 20, e as pesquisas de micro-história são tão importantes quanto as grandes sínteses. “A limitada abrangência geográfica não pode ser considerada um problema, simplesmente porque todos os estudos históricos são definidos por divisões de tempo e espaço, e nenhuma abordagem é mais legítima que as outras”, escreve Martins em seu prefácio à edição digital.

O portal do álbum (www.albumchorographico1927.com.br) foi produzido pela Fundação 18 de Março (Fundamar), com apoio do Instituto Histórico e Geográfico/MG, do Centro de Referência em Cartografia Histórica da UFMG, do Instituto Cultural Amilcar Martins e da Bios Consultoria Ambiental.

Os nomes e a história

Além dos esclarecimentos relacionados a geografia, história e urbanismo, a versão para web do Álbum Chorográfico de Minas Gerais é valorizada por oferecer explicação para os nomes dos 178 municípios de então. A toponímia (estudo dos nomes próprios dos lugares) complementa a informação trazida pelos mapas porque resgata características regionais, culturais e geográficas.

“Saber que Piumhy é ‘rio dos mosquitos’ e o significado dos termos em tupi Araguary (papagaio pequeno) e Ayuruoca (refúgio de papagaios) ajuda a descortinar o passado, revelando o que chamou a atenção do homem em seus caminhos”, explica a professora da Faculdade de Letras Maria Cândida Seabra, autora do estudo que, além da motivação dos nomes dos municípios, revela a origem etimológica das palavras e menciona leis relacionadas e nomes anteriores e posteriores.

O levantamento de Maria Cândida esclarece, por exemplo, que São Gotardo (município do Alto Paranaíba), embora classificado como hagiotopônimo (relativo a santos), tem São Sebastião como padroeiro e recebeu esse nome em homenagem a seu fundador, Joaquim Gothardo de Lima.