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Nº 1803 - Ano 39
10.12.2012

Honra para poucos

JK, Carlos Chagas Filho, Desmond Tutu e Saramago estão entre os agraciados com o Doutor Honoris Causa em 85 anos de UFMG

Ana Rita Araújo

Eber Faioli (acima) e Diogo Domingues

Saramago (acima) e o cineasta Manoel de Oliveira: agraciados em 1998 e 2009

Saramago (acima) e o cineasta Manoel de Oliveira: agraciados em 1998 e 2009

Em seus 85 anos de história, a UFMG concedeu seu maior título honorífico – Doutor Honoris Causa – a apenas 17 personalidades, já incluindo a professora Mildred Dresselhaus. Quatro agraciados não chegaram a receber a honraria: o poeta Carlos Drummond de Andrade, o economista Celso Furtado, o arquiteto Oscar Niemeyer e o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda.

O título é concedido por iniciativa do Conselho Universitário ou por sugestão de uma das congregações da UFMG. Em seu capítulo 4, o Regimento da Universidade define que ele se destina a brasileiros ou estrangeiros cujo trabalho seja de especial relevância para a cultura, a educação ou a ciência. O próprio Conselho Universitário faz a entrega do título em sessão solene e aberta.

Logo depois de comemorar um ano de fundação, a Universidade de Minas Gerais (UEM) entregava pela primeira vez o título. Era outubro de 1928, e o indicado foi o jurista pernambucano José Xavier Carvalho de Mendonça, que fez carreira em Santos (SP). Dois anos depois, a honraria foi entregue ao então presidente de Minas – na época, não se usava o termo “governador” –, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que sancionara projeto enviado por ele mesmo ao Parlamento Mineiro, autorizando a criação da Universidade.

Somente em setembro de 1960 a distinção voltou a ser outorgada, desta vez ao presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Na mesma década, o título foi entregue mais duas vezes: em agosto de 1961 ao advogado, jornalista e escritor Rodrigo Mello Franco de Andrade, diretor do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; e em julho de 1966 ao geólogo americano John Van Nostrand Dorr II. Integrante do Serviço Geológico dos Estados Unidos, Dorr colaborou com pesquisadores brasileiros no levantamento geológico do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.

Nos anos 1970 apenas o cientista mineiro Carlos Chagas Filho recebeu o título, em março de 1979. Chagas Filho foi o fundador do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde criou um dos mais ativos centros de pesquisa na América Latina, que formou professores e pesquisadores em biofísica para quase todo o Brasil e para alguns países da América do Sul.

Em maio de 1987, a UFMG homenagearia o bispo anglicano sul-africano Desmond Mpilo Tutu, que havia recebido o Prêmio Nobel da Paz de 1984, em reconhecimento à sua incansável luta pela paz, pelos direitos humanos e contra todas as formas de discriminação racial e social. Já em agosto de 1989 o título foi concedido ao musicólogo Francisco Curt Lange, alemão de nascimento e uruguaio naturalizado. A homenagem se deu pela notória relevância dos serviços prestados à cultura brasileira como pesquisador da música do barroco mineiro.

Dez anos depois, a Universidade homenagearia com o título de Doutor Honoris Causa o Prêmio Nobel de Literatura de 1998, escritor português José Saramago. Somente em maio de 2007 voltaria a conceder a honraria – desta vez ao antropólogo norte-americano Marshall David Sahlins. Em novembro de 2009, o homenageado foi o cineasta português Manoel de Oliveira.

Modéstia

A indicação de Carlos Drummond de Andrade ocorreu em 1973. O escritor demonstrou resistência em ser alvo do que chamou de “honraria indevida” e problemas de saúde o impediram de recebê-la. “Nenhuma falsa modéstia inspirou esta afirmação. Ela é antes motivada pela concepção, que tenho, da importância e especificidade da missão universitária”, justificou em carta à Universidade. Ao final da mensagem, pediu à UFMG que aguardasse “ocasião propícia” para formalizar a entrega, alegando que sua saúde o impedia de viajar a Minas naquele momento. Em 1987, por ocasião das comemorações dos 60 anos da UFMG, o então reitor Cid Veloso pretendia enviar ao Rio de Janeiro uma comissão especial do Conselho Universitário para, enfim, entregar o diploma a Drummond. Mas a morte do escritor, em agosto daquele ano, impediu que a novela tivesse final feliz.

Duas propostas de entrega do título feitas em 1997 não se concretizaram – ao arquiteto Oscar Niemeyer e ao economista Celso Furtado. O mesmo ocorreu com compositor, escritor e cantor Chico Buarque de Holanda, indicado em 2008.