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Nº 1815 - Ano 39
8.4.2013

opiniao

Centro Cultural: a universidade das artes e dos cidadãos

Cid Velloso*

Inaugurado em abril de 1989, o Centro Cultural foi instalado em um belo prédio da praça Rui Barbosa (Praça da Estação), cedido pela Escola de Engenharia. O imóvel, um dos mais antigos de Belo Horizonte (1906), atualmente é tombado pelo patrimônio histórico municipal e pelo estadual.

O objetivo do Centro Cultural, desde que o instituímos em nossa gestão na Reitoria, sempre foi o de aproximar suas atividades culturais e artísticas da comunidade, permitindo a integração da instituição acadêmica com a população, que é a verdadeira proprietária e financiadora do bem público, razão da existência da Universidade.

A adaptação do prédio para a criação do Centro Cultural foi feita sem verbas específicas da Universidade e do Governo. Valeu-se de mão de obra própria disponível na época e material de construção aproveitado de obras que estavam sendo realizadas. Foi um esforço institucional notável, fruto de vigoroso desejo de criar esse espaço de interação com a sociedade, como realmente veio a ocorrer. O projeto inicial ocupava todo o prédio situado entre a praça Rui Barbosa, a avenida Santos Dumont e a rua Guaicurus.

Na negociação recentemente realizada pela UFMG para levar a Escola de Engenharia para o campus Pampulha, grande parte da área inicialmente projetada – os galpões anexos ao prédio principal, palco de belos eventos culturais – foi incorporada à área negociada com o Tribunal Regional do Trabalho, perdendo o Centro Cultural importante espaço na rua Guaicurus. Além de ficar sem a área que poderia ser utilizada para ampliação das oficinas e espaços de exibição de eventos artísticos, o Centro deixou de contar com saídas (ruas Guaicurus e Bahia) que poderiam ser consideradas “rotas de fuga” dentro de projeto de prevenção e combate de incêndios.

O Centro Cultural é vinculado à Pró-reitoria de Extensão, com orçamento aprovado pelo Conselho Universitário, e agora busca apoio da Fundep, de agências de fomento (Capes e Fapemig), de patrocinadores, além de parcerias com outras instituições em projetos específicos. Possui um Conselho Diretor que o administra, aprova as programações, elabora o orçamento anual, acompanhando sua execução, e apresenta sugestões ao diretor da instituição.

Desde a sua criação, o Centro Cultural vem apresentando e realizando atividades permanentes e dinâmicas em várias áreas: exposições, instalações, peças teatrais, exibição de filmes e vídeos, audições, shows, cursos, oficinas, palestras, reuniões, seminários, campo de estágios escolares, entre outras. Realiza, com a Diretoria de Ação Cultural da UFMG, o Festival de Verão, que vem ocorrendo nos últimos anos.

Em 2012, recebeu apoio do Ministério das Relações Exteriores para a produção de grande exposição internacional, que será realizada em meados de 2013 e com passagem prevista por mais quatro países (Peru, Bolívia, Colômbia e Equador), chamada Mira: Artes visuais contemporâneas dos povos indígenas.

Recente evento realizado pelo Centro Cultural reflete exatamente o objetivo que moveu a criação do espaço, cumprindo a concepção imaginada na época. Era o lançamento do programa Muitas Culturas no Centro, com apresentação dos resultados de um dos seus projetos, o Oficina Para Todos, reunindo pessoas da comunidade, principalmente que trabalham ou circulam nas imediações do Centro. Foram oferecidas oficinas nas áreas de artes visuais, audiovisuais e literárias, com produção de obras expostas no evento: fotografias, filmes em vídeo e poesia vocal. As obras, de grande qualidade artística, foram apresentadas com entusiasmo e emoção pelos autores.

O Centro Cultural mantém programação intensiva e permanente, mas tem sido notada, com pesar, a pequena frequência da comunidade da própria UFMG, em especial dos estudantes, em seus eventos. Acreditamos que tem havido pouca divulgação e mobilização da UFMG para que essa participação seja mais significativa. Uma iniciativa importante, que poderá mudar esse quadro, seria um enfoque maior dos meios de divulgação da Universidade sobre os eventos do Centro Cultural. Outra atividade que poderia ampliar o contato seria a realização de mais atividades didáticas e estágios dos cursos relacionados às artes da Universidade, além da utilização do espaço para eventos institucionais.

O Centro Cultural é de grande importância para integrar a Universidade à comunidade, cobrança que tem sido feita insistentemente pela mídia e pela população. Está em atividade plena e eficiente e necessita de maior atenção da própria Universidade para cumprir seu papel e desenvolver seu potencial institucional.

Sinal de bons tempos para o Centro Cultural é a grande obra de restauração e iluminação por que está passando sua fachada, somada à reforma do piso e da iluminação de suas salas. Com elas, o antigo prédio se tornará uma das principais atrações do Circuito Cultural da Praça da Estação, onde passam e trabalham diariamente milhares de pessoas.

*Reitor da UFMG no período 1986-1990. É membro do Conselho Diretor do Centro Cultural UFMG